Na Semana da Mulher, justo homenagear Chiquinha Gonzaga, lembrando a mulher inspiradora que foi.
Compositora, maestrina, primeira mulher a reger orquestra no Brasil, artista, musicista talentosa, pianista, defensora da abolição da escravidão, defensora dos direitos autorais dos compositores, mãe, mulher… Eis o resumo da vida vibrante de Chiquinha Gonzaga.
Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu em 17 de outubro de 1847, no Rio de Janeiro. Era filha de José Basileu Gonzaga, marechal de campo do Exército Imperial, e de Rosa Maria Neves de Lima, filha de Tomásia, escrava alforriada.
Aos 13 anos, foi forçada pelo pai a casar-se com o oficial da Marinha Jacinto Ribeiro do Amaral; ela não participou da escolha do marido.
Chiquinha tinha conforto, tinha escravos, mas a vida doméstica não lhe aprazia. Ela se sentia bem ao piano, e Jacinto logo começou a exigir que ela deixasse a música de lado. Aos 16 anos, em 1864 teve o primeiro filho. Em 1865, o segundo filho. Chiquinha continuava dedicando-se ao piano mesmo após o nascimento dos filhos. As discussões com o marido eram constantes.
Com 23 anos e 3 filhos, Chiquinha separou-se do marido, o que chocou a sociedade da época. Seu pai não mais permitiu que seu nome fosse pronunciado na casa dele.
Ela foi viver com o engenheiro João Batista de Carvalho, com quem teve uma filha. Chiquinha era apaixonada por ele, mas cansou-se das constantes traições. Separou-se dele e, bem mais tarde, viveu grande amor com João Batista Lage, com quem ficou até o final de sua vida. Outro motivo de escândalo, porque ele era 36 anos mais jovem que ela. Ela quis apenas viver o grande amor.
Chiquinha Gonzaga enfrentou os preconceitos da sociedade para viver seus grandes amores: Batista, Batista Lage, a música e seus ideais.
Ela defendeu a abolição da escravatura. Vendia partitura de suas músicas de porta em porta, para ajudar a financiar a Confederação Libertadora, organização antiescravista da qual fazia parte.
Esteve presente na campanha republicana.
Chiquinha sofreu exploração abusiva de seu trabalho e, por isso, fundou, em 1917, a primeira sociedade protetora e arrecadadora de direitos autorais do país, a Sociedade Brasileira.
Na sua época, a música brasileira não tinha status de arte. A alta sociedade só dava valor ao que vinha da Europa: valsas, polcas e tangos compunham o cenário musical de então. Chiquinha Gonzaga inovou ao incorporar a diversidade musical das classes mais baixas, o que lhe rendeu o reconhecimento como primeira compositora popular do Brasil.
Ela encontrou apoio para compor entre a classe artística marginalizada, o que a tornou vítima de fortes preconceitos: “mestiça, neta de escrava alforriada, desquitada, tocando piano nos bares, convivendo com boêmios”… era demais para a sociedade de seu tempo.
No final dos anos 1800, o carnaval não era como hoje: não tinha músicas e nem ritmo. Dançava-se ao som de óperas, fados, árias de operetas e músicas diversas. Cantavam música de improviso, algumas vezes pedindo para abrir alas. Naquela época, começaram a surgir cordões nas ruas, mas eles não tinham música própria.
Em 1899, Chiquinha Gonzaga morava no bairro do Andaraí, Rio de Janeiro, que tinha a sede do Bloco Rosa de Ouro. Uma tarde, em que o cordão ensaiava, Chiquinha sentou-se ao piano e compôs a música “Ó Abre Alas!” inspirada no cordão:
Ó abre alas!
Que eu quero passar.
Eu sou da lira
Não posso negar.
Ó abre alas!
Que eu quero passar.
Rosa de Ouro
É que vai ganhar.
Pode parecer música simples e boba, mas ninguém tinha tido a ideia de compor música para um cordão desfilar, muito menos com o nome do bloco. Por isso, Ó Abre Alas é considerada a primeira canção carnavalesca brasileira.
Chiquinha tem mais de 2 mil composições de vários estilos musicais, como choro, polca, samba e até tango. Mesmo assim, em razão de mulher e militante ativa em causas sociais, sua vida foi difícil e cheia de preconceitos e dificuldades.
Chiquinha Gonzaga faleceu aos 87 anos, em fevereiro de 1935, às vésperas do carnaval. Somente depois de sua morte é que a compositora foi realmente reconhecida como inegável gênio da música brasileira.
O dia do nascimento de Chiquinha Gonzaga, 17 de outubro, foi oficializado como o Dia da MPB.
Mais que compositora, Chiquinha Gonzaga deve ser celebrada como a grande mulher desafiadora, defensora de seus ideais e inspiradora que é.
Quem tem o grande amor ou namorou à luz do luar se emocionará com a música “Lua Branca”, de Chiquinha Gonzaga, interpretada pela doce voz da cantora Luiza Lara, no programa Senhor Brasil.
1 comentário
Muito bom este resgate de pessoas que fizeram a história e hoje são praticamente desconhecidas do público.