Foi, em verdade, uma revolução dos elementos da natureza, associados numa empreitada sinistra de destruição e angústia, contra a inteligência e os recursos humanos, impotentes e impassíveis ante a fúria das águas – fonte soberba de vida – transformadas em motivo de desalento, de desespero e de dor (RELATÓRIO, 1941).
ENCHENTES NO PASSADO
Enchentes são recorrentes nos Estados do sul, particularmente o Rio Grande do Sul. Segundo a publicação “Conhecendo e Convivendo com as Enchentes”, de Dago Alfredo Wöehl, enchentes de grandes proporções atingiram o Sul do país em 1891, 1905, 1911, 1957, 1971, 1982, 1983.
O jornal Diário do Rio Grande de 04/04/1857, da cidade Rio Grande, noticiou que as águas da Lagoa dos Patos transbordaram em 1857. O mesmo jornal registrou enchentes na cidade em 15/10-1873 e em 06/04/1878.
Fenômenos mais fortes do fenômeno climático El Niño dos anos de 1940/1941, 1982/1983 e 1997/1998 ocasionaram enchentes nesses anos.
O Rio Grande do Sul registrou 5 grandes cheias desde 1941, das quais 4 foram registradas nos últimos 8 anos.
Na cheia de 1941, as águas chegaram a 4,76 metros; em 2024, chegaram a 5,30 metros acima do nível normal.
Climatologistas explicam que o Rio Grande do Sul encontra-se em zona de choque de massas de ar tropical e polares, o que propicia fortes chuvas. Portanto, cheias são recorrentes no Estado. Ninguém pode dizer que foi surpreendido pelas enchentes de 2024.
Aí, cabe perguntar: Desde 1941, o que mudou no Estado em relação á proteção das cidades e dos gaúchos contra enchentes, que se repetem constantemente na região?
SISTEMA DE PROTEÇÃO DE PORTO ALEGRE
A cidade de Porto Alegre criou sistema contra enchentes, que inclui 68 quilômetros de diques, 23 casas de bomba de água espalhadas pela cidade, muro de contenção na Avenida Mauá e no Centro Histórico e 14 comportas. Os diques são reservatórios que represam água para evitar alagamentos na cidade. As bombas d’água atuam em parceria com os diques, fazendo a drenagem das águas nas regiões mais baixas da cidade e as levam de volta para o Rio Guaíba.
Neste ano, as bombas não deram conta da demanda. 19 das 23 bombas tiveram de ser desligadas em razão do superaquecimento e do risco de choque elétrico. As casas de bomba não foram projetadas para trabalhar tantos dias seguidamente.
A estrutura não foi suficiente para proteger a cidade. Pode-se argumentar que as chuvas de 2024 foram atípicas, mas o Estado tinha o exemplo da grande inundação de 1941, que deveria ter sido o parâmetro para o planejamento de estruturas e equipamentos de proteção.
FALTA DE PLANEJAMENTO
Governantes se preocupam com obras vistosas, que aparecem e rendem solenidades de inauguração, fotos em jornais e, consequentemente, votos. Políticos inauguram até obras inacabadas e lançamento de pedras fundamentais. Políticos não se preocupam com obras de infraestrutura (rede de esgoto, obras de proteção contra enchentes que outros políticos poderão usufruir).
Durante catástrofes, políticos preferem ir aos jornais e dizerem que vão liberar bilhões de reais para apoiar a região atingida, mas não investem em prevenção e planejamento.
Gastam o triplo em reconstrução, para depois posar com os infelizes para quem doou dinheiro para construir uma casa, mas não investem em prevenção.
Como não investem em prevenção, muito menos investirão em manutenção e preservação do que existe; o que dá visibilidade é inaugurar novas obras.
Em 2015, a extinta Secretaria de Assuntos Estratégicos apresentou para a então presidente da República um estudo, que custou R$3,5 milhões, sobre “Adaptação Às Mudanças do Clima: cenários e Alternativas – Recursos Hídricos”, que previa problemas climáticos no Sul do país até o ano 2040, pois a região não estava preparada para enfrentar grandes chuvas. O governo engavetou o estudo.
CLIMATOLOGIA
O Brasil não tem tradição de estudo de Meteorologia. Os brasileiros acostumaram-se a cantar que “moram num país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza”.
Mas o clima é dinâmico, os fatores climáticos mudam. Atualmente, há o aquecimento global, aumento da poluição, aumento da população, crescimento das cidades (muitas vezes desordenado), fenômenos climáticos El Niño e La Niña mais intensos, maior intervenção humana na Natureza e todos esses fatores exigem maior estudo para previsão do tempo e antecipação às catástrofes.
FALTA DE PREVENÇÃO
A falta de prevenção, de estudos e de obras de proteção potencializa os danos. Os governantes devem ter visão de longo prazo, e a população deve cobrar dos políticos e exigir deles maior e melhor retorno dos impostos que paga.