BRUXARIA EM ANGOLA
Cerca de 50 pessoas morreram envenenadas em Angola, ex-colônia portuguesa, após tomarem poção de ervas chamada Mbulungo. Elas foram obrigadas a tomar a poção para provar que não eram bruxas e não tinham ligação com bruxaria.
Mbulungo é um veneno produzido por adivinhos (quimbandeiros, que são praticantes de Quimbanda, religião que combina elementos do candomblé, espiritismo e magia negra) e dado a uma pessoa acusada de bruxaria. Se a bebida provocar a morte do acusado, fica provada a acusação.
Os casos aconteceram nos dois primeiros meses do ano no município de Camacupa, província de Bié, Angola.
O jornal britânico Daily Mail noticiou que, entrevistada pela Rádio Nacional de Angola, a vereadora Luzia Filomena contou detalhes sobre as mortes e acusou os curandeiros tradicionais de administrarem a mistura mortal.
A crença em bruxaria é comum em comunidades rurais de Angola. A prática de obrigar as pessoas a beber o suposto veneno por causa da crença generalizada na bruxaria é generalizada, disse Antonio Hossi, porta-voz da província.
Angola não tem leis contra o curandeirismo e deixa que as comunidades resolvam a questão como quiserem. As alegações de feitiçaria costumam ser resolvidas pelos curandeiros tradicionais, os marabus, que fazem com que os outros ingiram a bebida tóxica.
Tudo que acontece na aldeia – doença, desentendimentos, mortes, desavenças entre famílias – é atribuído à bruxaria e alguém poderá ser acusado. O recurso do Mbulungo ocorre em todo o território da Muinha, que controla 165 aldeias.
A reportagem do Daily Mail não especifica o número de mortes de mulheres e de homens. Um fato que chama a atenção é que, ao longo da história, as mulheres foram acusadas de bruxaria em número maior que o de homens.
CAÇA ÀS BRUXAS NA IDADE MÉDIA
A “caça às bruxas” (não se fala em “caça aos bruxos”) aconteceu com maior vigor durante a Inquisição, na Idade Média. Há motivo pelo qual as mulheres sempre foram acusadas de bruxaria mais que os homens.
Na Idade Média, as manifestações de cura ou de louvor tinham de ser reconhecidas pela Igreja Católica. Os atos, que não eram reconhecidos pela Igreja, eram considerados do demônio e as bruxas, instrumentos do demônio que os praticavam, tinham de ser mortas.
Pessoas com conhecimento da natureza das plantas e de suas propriedades curativas passaram a ser consideradas bruxas.
Em vez de reconhecida como útil, a cura de doenças com ervas e chás era vista como a retribuição que o diabo dava às bruxas em troca de sua adoração.
As mulheres eram acusadas de bruxaria em maior número por causa do dever de cuidar e tratar de doenças por vezes desconhecidas, cuja cura elas buscavam nas plantas e em chás. A discriminação se expressava no conceito de que os homens apenas usavam poderes ocultos.
O MARTELO DAS BRUXAS
A acusação maior contra as mulheres teve início em 1486, 6 anos antes do descobrimento da América, quando dois monges dominicanos alemães, Heinrich Kramer e Jacob Sprenger, escreveram o livro “Martelo das Bruxas” (ou Martelo das Feiticeiras), como guia para identificar bruxas, como levá-las a julgamento e puni-las.
O livro, que foi o mais vendido na Europa depois da Bíblia no Século XVI, define as bruxas como más e tipicamente femininas. Havia outros manuais com orientações sobre o combate a heresias e à bruxaria, mas O Martelo das Bruxas é o mais cruel. Católicos e protestantes utilizaram-no igualmente.
Kramer e Sprenger consideraram que os pontos fracos da mulher tornavam-na mais exposta às ciladas do diabo. Por isso, atribuíram exclusivamente às mulheres a condição de bruxas.
A má fama das mulheres de serem bruxas teve início no Século XV e ainda guarda resquícios até os dias atuais. Apenas resquícios, porque a mulher vem superando todas as adversidades que foram postas em seu caminho ao longo da evolução das sociedades.
Quanto a ser bruxa, o PORTALIMULHER prefere ficar com a frase do autor e poeta britânico Joseph Rudyard Kipling (1865 – 1936), que disse que “a mais tola das mulheres pode governar um homem inteligente”.
Essa capacidade das mulheres é que as torna verdadeiras “bruxas”.
1 comentário
Copio dos espanhóis…”Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”… O Kilpling tem razão…