O livro “Aqueles da Bíblia” mostra o ângulo ideal para fazer a leitura da Bíblia e dela ter melhor compreensão.
André Daniel Reinke, autor de “Aqueles da Bíblia”, é gaúcho de Ijuí, licenciado em História e mestre em Teologia.
Segundo ele, os historiadores do Israel Antigo adotam uma das três posturas ao estudarem a Bíblia: 1) a maximalista, que defende o seu conteúdo como histórico; 2) a minimalista, que prega que a Bíblia não é fonte histórica confiável e que não pode ser utilizada como base para escrever a história de Israel; e 3) a alternativa, mais alinhada com a teologia, que faz a leitura da Bíblia analisando o seu conteúdo (o que de fato aconteceu) e a sua redação (o que motivou a sua escrita).
Ele destaca que a cronologia da Bíblia não é precisa; não há data certa para o Êxodo, nem para a chegada dos hebreus em Canaã; há estimativas de datas. Há dúvidas se o tempo de “quarenta anos”, citado frequentemente na Bíblia, se refere a contagem exata ou se a apenas longo tempo desconhecido pelo redator.
A análise do tempo contado a partir do reinado de monarcas é imprecisa porque não se sabe se o redator contou o tempo a partir da coroação do monarc ou se do Ano Novo.
Outra crítica às narrativas bíblicas se situa na falta de comprovação arqueológica dos fatos citados no Livro Sagrado. Quanto a esse aspecto, o autor diz que “a inexistência de prova não é prova de inexistência”.
Reinke fez estudos minuciosos do texto bíblico. Ele diz que a Bíblia também apresenta a tendência de historiadores antigos de utilizarem a hipérbole, figura de linguagem que utiliza a narrativa exagerada para dar ênfase ao que se deseja. Por exemplo, os pais repreendem os filhos dizendo: “já te falei um milhão de vezes”.
O uso da hipérbole, por parte de historiadores antigos, era comum para valorizar o feito, para despertar interesse no leitor ou para destacar a figura de seu rei. O historiador grego Heródoto, nascido no Século V a. C. e considerado o “pai da história”, foi acusado de ter sido tendencioso, não confiável e de ter inventado fatos sem tê-los submetido a exame crítico e à razoabilidade.
A Bíblia tem hipérboles em sua narrativa. Por exemplo, o livro de Josué (11-23) diz que “Josué tomou a terra toda… e a terra descansou livre de guerra”. No entanto, pouco mais adiante, em Josué 13 – 1, o Senhor disse a Josué: “Ficaste velho, em idade avançada. Ora, o resto da terra de que ainda se deve tomar posse é considerável”. Incoerência no mesmo livro, que pode ser atribuída à hipérbole do escritor do Livro de Josué.
O Livro do Gênesis (6; 17) diz que o dilúvio, que Deus enviou sobre a terra, faria expirar tudo que existisse. Em (7;19) o Livro de Gênesis diz que “as águas prevaleceram sobre a terra; e todos os altos montes que havia debaixo do céu foram cobertos“. E mais (7; 20): “Quinze côvados acima prevaleceram as águas; e os montes foram cobertos“. O côvado equivale a 45 centímetros; ora, 15 côvados equivalem a quase 7 metros. Outro exemplo de hipérbole.
Em face dessas considerações, Reinke deduz que o objetivo do autor bíblico é narrar a história da presença de Deus na vida dos homens, como os hebreus O descobriram e como se relacionaram com Ele no mundo antigo, povoado de seres mitológicos, crenças e superstições.
A Bíblia oferece o testemunho de pessoas que descobriram Deus e O receberam em sua vida. A Bíblia é o meio que os hebreus encontraram para afirmar sua experiência divina e transmiti-la para o restante do mundo, eles não se preocuparam com a cronologia dos fatos, nem com sua comprovação e nem co registros históricos.
Ao fazer essas considerações, “Aqueles da Bíblia” ensina a fazer a leitura correta da Bíblia, tendo sempre em mente os objetivos de seus autores, que foi transmitir a riqueza da experiência daqueles que inseriram Deus em sua vida.
1 comentário
Excelente e proveitosa a leitura desta obra. Não deixe de ler também outro livro do mesmo autor e com a mesma linha de raciocínio: *Os Outros da Bíblia* . Boa leitura!!!