No dia 14 de dezembro passado, o pai do meu vizinho e bom amigo Zé Carlos faleceu. Fui ao velório prestar solidariedade e apoio ao meu amigo e a sua mulher Adriana. Nos momentos de dor e de dificuldade, a presença de amigos e a fé confortam e trazem força para ajudar a superar os momentos difíceis.
Normalmente, velórios não são temas para artigos ou crônicas. Aqui está uma exceção, em razão do que observei e vivi e que julgo interessante transmitir para vocês.
O pai do Zé Carlos, Sr. José Limas, faleceu dormindo; passou de um sono a outro sem dores, sem sofrimentos, sem internações e hospitais. Sua esposa, a seu lado, notou que ele estava com dificuldade de respirar, mas ele não mais respirava. Tinha partido.
No velório, seu rosto transparecia paz e serenidade. Ainda que sem se despedir de entes queridos, partira sem traumas e sem sofrimento. Contudo, havia outros motivos para que estivesse sereno.
Em vida, fora bom homem. Religioso, trabalhador e dedicado á família. Os filhos, adultos – todos bondosos, honestos e trabalhadores – seguiram o exemplo do pai e dedicam-se a criar a própria família.
Adriana, Zé Carlos e eu estávamos a conversar respeitosamente, e eles relembravam passagens marcantes da vida do pai e sogro.
Nisso, observamos um senhor, aparentando 90 anos, baixinho, magro, com boné azul e óculos grossos, que entrou na sala do velório. Ele chorava copiosamente.
Ele não olhou para os lados; não viu ninguém. Olhava fixamente para a urna onde estava o corpo do pai do Zé Carlos e caminhou resolutamente em direção a ela. Zé Carlos identificou o senhor como Sebastião, grande amigo de seu pai. Amizade de mais de 60 anos, no trabalho e na vida. Amigos inseparáveis.
O Sr. Sebastião postou-se ao lado do amigo, colocou a mão esquerda no ombro do amigo, abaixou a cabeça até encostar o rosto no rosto do pai do Zé Carlos e conversou com ele por alguns instantes. Não ouvimos o que falou, foi uma conversa íntima e baixa; quase sussurro. Falava e chorava. Percebíamos os soluços.
Ao acabar de falar, o Sr. Sebastião passou a mão para o ombro oposto do amigo, abraçou-o comoventemente e deitou a cabeça sobre o peito do amigo. Foi um dos abraços mais carinhosos que percebi em minha vida!
Ali permaneceu por instantes. Quem observou a cena não pôde deixar de emocionar-se.
O Sr. Sebastião terminou o abraço e a despedida, aprumou o corpo e sentou-se num dos bancos laterais.
Eu me dirigi a ele e lhe disse que a amizade e o carinho que ele demonstrara pelo amigo me contagiaram e que também eu me emocionei.
Emocionado, ele me contou que, naquela noite, acordou e sentiu u’a mão em seu ombro. Viu que era por volta de 1 hora da madrugada. Mais que a mão no ombro, ele sentiu a presença do amigo José Limas ao lado da cama. Percebeu nitidamente a presença do amigo, sentiu o toque de sua mão no ombro e percebeu que o amigo lhe disse alguma coisa, que ele não entendeu direito. Depois, viu o amigo afastar-se serenamente.
Voltou a dormir. Acordou pela manhã, meio confuso pela experiência que vivera à noite, até que recebeu a notícia do falecimento do amigo José Limas. Entendeu, então, que o amigo fora despedir-se dele.
O amigo faleceu por volta de 1 hora, mesma hora que recebeu a visita de despedida.
Cientistas, psicólogos, parapsicólogos e materialistas poderão encontrar mil explicações técnicas para a experiência do Sr. Sebastião.
Eu, que acredito na alma e na vida após a morte, que acredito na força e na energia da amizade e do amor que transcendem o corpo físico, pois encontram-se cravadas na alma, entendo o fato como manifestação da alma. Amizade, amor e fé vão muito além dos sentimentos do corpo material.
Por vezes, manifestações de amizade e amor se fazem acompanhar de anjos e arcanjos, que se manifestam para comprovar a pureza e a beleza dos sentimentos, que estão consoantes os ensinamentos que Jesus Cristo pregou e consoantes os exemplos de vida que Ele nos deixou.
Cláudio Duarte
Colunista e colaborador do PORTALIMULHER.
Publicada em caráter excepcional em substituição a artigo previamente agendado.
15 Comentários
Bom dia meu amigo!
Ao ler sua crônica, agora pela manhã, me emocionei muito, sempre ensinei aos meus filhos e netos a importância da verdadeira amizade.
Enviarei para todos eles com a certeza que a emoção será a mesma. Forte abraço!
Cláudio, não tem como emocionar com a experiência do Sr. Sebastião. Mais emoção ainda pelo seu carinho com a Adriana e com José Carlos. Emoção e certeza de que o Sr. JOSÉ LIMAS deixou para mim. Sou cunhada do José Carlos e registro que a missão do Sr. JOSÉ LIMA foi cumprida. José Carlos é ímpar, carinhoso, dedicado e sobretudo ser humano.
Vital, Sinto-me honrado de haver-lhe despertado a sensibilidade e de o texto haver ido ao encontro dos ensinamentos que voc~e transmite a filhos e netos.
Parabéns Cláudio! Amigo de longa data,
tenho certeza de que vamos reviver os exemplos dos Srs José Limas e Sebastião.
Grande abraço.
Roberto, sinto-me honrado de contar com a amizade de uma pessoa de teu quilate. Agradeço-lhe o comentário.
Bom dia! A vida tem seus mistérios. Acredito que a vida se continua de outra forma não perdendo a excelência divina, afinal tudo é de Deus toda honra e toda glória. Parabéns ao amigo por sentir o amor de Deus. Fraternalmente. Sucessos!
Ramon, o amor de Deus está sempre presente. Nós é que temos de percebê-lo e buscá-lo.
Bom dia Cláudio!
Acabo de ler mais uma de suas crônicas.Lágrimas escorrem livremente em meu rosto e dentro do meu ser sinto a emoção de tê-lo como AMIGO.
Em meu nome e em nome da FAMÍLIA LIMAS :
VOCÊ TEM NOSSA GRATIDÃO!
Cláudio, não tem como emocionar com a experiência do Sr. Sebastião. Mais emoção ainda pelo seu carinho não apenas para com a minha irmã, mas pelo José Carlos. Emoção e certeza de que o Sr. JOSE LIMAS deixou para mim. Sou cunhada do José Carlos e deixo registrado que a missão do Sr. JOSÉ LIMAS foi cumprida, um filho ímpar, carinhoso, dedicado e sobretudo ser humano.
A você Cláudio, meu carinho especial.
Cristiana Fonseca
Cristiana, Desde que comecei a escrever, a Danielli, redatora-chefe do portal, ensinou que se conquista a atenção dos leitores quando se escreve a verdade com emoção e sensibilidade. É o que tenho tentado fazer. A atitude do Sr. Sebastião despertou-me a emotividade para descrever fato tão emocionante. Fico satisfeito por haver transmitido as emoções do momento para você.
Adriana, desde que comecei a escrever, a Danielli, redatora-chefe do portal, ensinou que se conquista a atenção dos leitores quando se escreve a verdade com emoção e sensibilidade. É o que tenho tentado fazer. A atitude do Sr. Sebastião despertou em mim e em você a emotividade para descrever fato tão emocionante. Você também percebeu a atitude do Sr. Sebastião. Fico satisfeito por ter sabido transmitir as emoções do momento.
Cláudio meu amigo você é de uma percepção ímpar.
José Carlos, você vivenciou e percebeu o momento. Eu apenas me esforcei para descrever o que presenciamos e sentimos.
Ao ler ,me deparei com a cena em minha mente , as palavras delicadas e detalhes minuciosos me emocionou e trouxe em minha mente momentos em que vivi com meu avô, e o quão sua partida está sendo dolorosa.Obrigada Cláudio Duarte,por escrever com tanto carinho um acontecimento tão doído.
Hellen, Desde que comecei a escrever, a Danielli, redatora-chefe do portal, ensinou que se conquista a atenção dos leitores quando se escreve a verdade com emoção e sensibilidade. É o que tenho tentado fazer. A atitude do Sr. Sebastião despertou-me a emotividade para descrever fato tão emocionante. Fico satisfeito por haver transmitido as emoções do momento para você e haver-lhe despe3rtado boas lembranças de seu avô.