O assunto do atleta argelino Imane Khalif continuou rendendo assunto na imprensa e nas redes sociais.
O comitê olímpico da Argélia rebateu o boato de que Khalif seja trans, alegando “difamações baseadas em mentiras” e condenando “ataques maliciosos e antiéticos dirigidos contra Khalif”. A defesa do comitê restringiu-se a palavras, sem fato ou prova a confirmar o sexo de Khalif.
Por sua vez, o Comitê Olímpico Internacional (COI) também defendeu as boxeadoras Imane Khalif e Lin Yu-ting, tailandesa, negando a informação de que elas seriam transgênero. Transgênero são as pessoas que nasceram homens e passaram por tratamento para se transformarem em mulheres. Intersexo são pessoas que nascem com características de ambos os sexos.
O porta-voz do COI, Mark Adams, afirmou que “esta não é questão transgênero. A argelina nasceu mulher, foi registrada como mulher, lutou como mulher e é mulher em seu passaporte. Cientificamente, não se trata de homem lutando contra mulher”. Basear decisão em passaporte e não em exames médicos e científicos soa bastante estranho.
Em 2023, a Associação Mundial de Boxe (IBA) reprovou os dois atletas nos testes sobre questões de gênero, os quais apontaram que Khalif e Yu-ting tinham alta quantidade do hormônio masculino testosterona, além da presença do cromossomo XY, ambas características masculinas. As mulheres têm ínfima presença de testosterona no sangue e seus cromossomos são XX.
O COI também desmentiu a IBA, alegando que “as atletas foram vítimas de decisão arbitrária da ABI em razão de informações enganosas”. Ao desmentir a ABI, o COI permitiu Khalif lutar como mulher com base no gênero feminino constante no passaporte dele. Passaporte passou a ser “prova científica” para o COI, o que significa falta de argumento e provas consistentes.
Outra declaração absurda de Mark Adams é que o COI “está em contato com Imane Khalif e Yu-ting para protegê-los”. Interessante que o COI não teve a mesma preocupação de defender a pugilista italiana Ângela Carini, em flagrante desvantagem na luta contra o homem com cromossomo XY, nem outras mulheres que enfrentarão homens nos Jogos Olímpicos.
O fato de o COI haver discordado da decisão da ABI, em relação ao gênero de Khalif, demonstra como o assunto “gênero sexual” é tratado sem critérios definidos e sem consideração a exames científicos. As decisões são tomadas mediante a influência da imprensa e da agenda woke e muito com base na ideologia, em manifestações e no achismo de pessoas e até de dirigentes de grandes entidades.
A verdade é que, em defesa de minorias e de sua inclusão – GLBTQI+ -, as mulheres estão sendo prejudicadas em seu direito e estão sendo excluídas, assim como Ângela Carina foi obrigada a desistir para não ser massacrada no ringue.
Pode-se chegar ao absurdo de dois homens, com cromossomos XY, disputarem a final ou a semifinal de boxe para mulheres nos Jogos Olímpicos Paris 2024.
A solução não é fácil e não é fácil estabelecer regras justas. O esporte estabelece critérios – por exemplo, a idade no futebol e no vôlei – para evitar que atletas tenham vantagens físicas sobre outros. Esporte não é a atividade ideal para promover igualdade social e inclusão.
O que não pode, de maneira nenhuma, é prejudicar as mulheres nem as competições femininas e nem dar vantagens a competidores em detrimento das mulheres. Não há dúvidas de que a testosterona dá vantagem competitiva para atletas trans e afins e isso não é justo com as mulheres.
Quais as opções?
Criar modalidade própria de disputa entre trans e afins certamente não teria grande número de atletas de alto nível.
Existe a idéia de criar olimpíada libertária, na qual não haveria exames de gênero e nem de dopping. Ainda assim, não há consenso se esses jogos seriam mistos ou se haveria divisão por sexo.
Que se encontre solução para incluir trans, intersexos e afins, desde que tais soluções não prejudiquem e nem excluam as mulheres e nem prejudiquem o esporte.
Cláudio Duarte, colunista e colaborador do PortaliMulher, é professor de Educação Física.