Epígrafe na obra “A Caverna” – Saramago coloca a menção a Platão:
“Que estranha cena descreves e que estranhos prisioneiros, São iguais a nós.”
(Platão, República, Livro VII).
Inspirado num dos mais conhecidos mitos platônicos, A Caverna é um romance escrito pelo autor português José Saramago, publicado no ano 2000.
Neste livro, Saramago mergulha em temas como consumismo e o impacto da modernidade sobre formas de vida tradicionais.
A história se passa em uma cidade fictícia onde vive o humilde e idoso oleiro Cipriano Algor, juntamente com sua filha Marta e seu genro Marçal. Um cachorro vadio que aparece misteriosamente na casa de Cipriano logo se torna uma nova adição à família e eles o chamam de “Achado”.
Cipriano vende louças de barro para o “Centro”, núcleo político e econômico da história, mas à medida que a industrialização moderna assume o controle e seus clientes passam a preferir utensílios de plástico, o artesão tradicional vê seu negócio ameaçado e luta para competir com os produtos produzidos em massa. Com isso, os contratos de Cipriano com o Centro tornam-se cada vez menos lucrativos, levando-o a perder as esperanças no futuro do seu ofício.
O Centro está interessado em sua arte, mas quer que ele mude seu estilo tradicional e artesanal para produzir bens em grande escala. Cipriano se depara com um dilema moral ao enfrentar a tentação da segurança financeira versus a preservação de sua integridade artística e de seu ofício.
Conforme a história se desenrola, Saramago tece habilmente uma rede de relacionamentos interconectados, explorando o impacto da sociedade movida pelo consumismo sobre os indivíduos e seus valores. Os personagens do romance lutam para se adaptar aos tempos de mudança, simbolizados pelo avanço implacável do Centro e pelos desafios que ele cria.
A Caverna é caracterizado pelo estilo de escrita distinto do autor, incluindo frases longas e fluidas e uso mínimo de pontuação, o que contribui para a profundidade filosófica do romance. Através de uma história instigante, Saramago leva o leitor a refletir sobre as consequências da cultura de consumo e o valor da expressão individual diante de um mundo homogeneizado.
CITAÇÕES
“Felizmente existem os livros. Podemos esquecê-los numa prateleira ou num baú, deixá-los entregues ao pó e às traças, abandoná-los na escuridão das caves, podemos não lhes pôr os olhos em cima nem tocar-lhes durante anos e anos, mas eles não se importam, esperam tranquilamente, fechados sobre si mesmos para que nada do que têm dentro se perca, o momento que sempre chega, aquele dia em que nos perguntamos, Onde estará aquele livro que ensina a cozer os barros, e o livro, finalmente convocado, aparece…”
“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.”
“Quando digo que as pessoas que estão na caverna somos todos nós é porque damos muito mais atenção às imagens do que àquilo que a realidade é. Estamos lá dentro olhando uma parede, vendo sombras e acreditando que elas são reais.”
“A pena pior, minha filha, não é a que se sente no momento, é a que se vai sentir depois, quando já não houver remédio, Diz-se que o tempo tudo cura, Não vivemos bastante para tirar-lhe a prova.”
“A vida é assim, está cheia de palavras que não valem a pena, ou que valeram e já não valem, cada uma que ainda formos dizendo tirará o lugar a outra mais merecedora, que o seria não tanto por si mesma, mas pelas consequências de tê-la dito.”
“Obrigado por teres posto a tua mão sobre a minha.”
“(…) assim é que a vida deve ser, quando um desanima, o outro agarra-se às próprias tripas e faz delas coração.”
“Duas fraquezas não fazem uma fraqueza maior, fazem uma força nova.”
“As coisas que parecem ter passado são as que nunca acabam de passar.”
“É bem verdade que nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe.”
“Ainda que te possa parecer estranha a comparação, os gestos, para mim, são mais do que gestos, são como desenhos feitos pelo corpo de um no corpo de outro.”
“A vida é assim, faz-se muito de coisas que acabam, também se faz de coisas que principiam, nunca são as mesmas.”
“(…) o trabalho que deixou de ser o que havia sido, e nós, que só podemos ser o que fomos, de repente percebemos que já não somos necessários no mundo…”
“O momento das carícias voltou a entrar no quarto, pediu desculpa por ter-se demorado tanto lá fora, Não encontrava o caminho, justificou-se, e, de repente, como aos momentos algumas vezes acontece, tornou-se eterno.”
FICHA TÉCNICA
Título: A Caverna
Editora: Companhia das Letras
Autor: José Saramago
Gênero: Romance filosófico
Data de publicação: 2000
Idioma: Português