“Nenhuma arte salvou tantas vidas quanto a arte de ficar em silêncio.”
(Domênico Massareto)
Existe um tipo de pessoa que eu realmente aprecio: as que não se incomodam com o silêncio. Aquelas com quem você pode sentar-se à mesa para fazer uma refeição ou estar no mesmo ambiente por determinado tempo e não ficar desconfortável quando ninguém tem nada a dizer. Admiro as pessoas que conseguem se comunicar não apenas com palavras, mas também com o silêncio.
Eu hoje me considero uma pessoa quieta – meu irmão discorda – mas já fui muito mais falante. Ao longo da juventude, deleitei-me com a cacofonia dos risos e as conversas misturadas. O barulho dos amigos era a tábua de salvação. À medida que os anos fluem, a maturidade traz seus ensinamentos, a vida concede o dom da compreensão e cultuo cada vez mais o apreço pelo delicado equilíbrio entre companhia e solidão. O silêncio tornou-se confidente – o santuário onde me retiro para refletir, relembrar ou simplesmente ser.
“O que você é fala tão alto que não consigo ouvir o que você diz.” (Ralph Waldo Emerson)
Saí uma vez para almoçar com pequeno grupo de amigas e alguém que eu não conhecia as acompanhava. Durante o encontro, notei que aquela pessoa não parava de falar. Quero dizer, ela simplesmente não ficava quieta. Por nem um minuto sequer. Continuava falando e falando… naquele lugar cuja acústica já não favorecia. Fui tomada por um enorme mal-estar.
Tive a nítida sensação de que minha cabeça ia explodir por conta de tanto barulho que ela e o ambiente, juntos, faziam. Eu simplesmente não conseguia acreditar que um ser humano pudesse falar tanto e respirar tão pouco. Confesso que na época não consegui abstrair, o falatório causou-me profunda irritação. Ela falava demais, sobre muitas coisas, ao mesmo tempo que suas palavras pareciam vazias de significado. Alguém que realmente não dizia nada.
Todos nós fizemos isso em algum momento. Quantas vezes já “discursamos” para não dizer nada? Talvez porque busquemos atenção, queiramos sentir que somos ouvidos e que as pessoas reconhecem a nossa presença. Só que essa não é a melhor forma de fazê-lo.
“Os homens sábios falam porque têm algo a dizer; tolos porque eles têm que dizer alguma coisa.” (Platão)
Não seria mais sensato falar menos e dizer mais e, ao mesmo tempo, mergulhar nos momentos de silêncio e permitir que eles simplesmente aconteçam? Chego à conclusão de que, em várias situações, fala-se demais apenas para não ficar calado. A crença equivocada de que o silêncio é constrangedor, algo a ser evitado. E isto não é verdade.
Vivemos em um mundo barulhento onde a TV, a música e os smartphones preenchem o vazio com ruído abafado. O silêncio e a solidão são quebrados pelo burburinho da tecnologia enquanto ligamos para alguém ou enviamos mensagens de texto para nos sentirmos menos sozinhos. Com que frequência reservamos um tempo para sentar e desfrutar do silêncio?
Ainda que a ausência de som possa sugerir vazio, você pode descobrir que diminuir o ruído oferece uma plenitude surpreendente para o corpo, mente e espírito. O silêncio não significa apenas estar longe de ruídos e outros estímulos. Trata-se de dar a si mesmo espaço para crescer, pensar e respirar.
“Embora a tecnologia tenha tantos benefícios, é uma das principais coisas que causa angústia nas pessoas”, explica Dennis Buttimer, MEd da Atlanta Center of Mindfulness & Well-Being, na Geórgia, EU. Ao fazer uma pausa no ruído da tecnologia e no consumo de conteúdo, temos a chance de experimentar maior clareza. Com clareza, vêm escolhas melhores que levam a uma vida mais plena.
“Quando você tem algo a dizer, o silêncio é uma mentira.” (Jordan Peterson)
Ao longo dos anos aprendi que ficar quieta traz muitas vantagens. O silêncio afinal é poderosa arma de defesa, uma vez que costuma não gerar maiores consequências. Contudo, se este silêncio sufoca e deixamos de sinalizar que alguma coisa não está bem, incorremos em outro tipo de erro e acabamos fortificando o próprio sofrimento. Estar em paz com o silêncio é diferente de sofrer em silêncio.
Segundo Jordan B. Peterson, psicólogo clínico (PhD) e escritor, em seu livro 12 regras para a vida – um antídoto para o caos, “[…] se você ficar calado quando algo ruim acontecer diante de seus olhos, o mal se tornará parte de você mesmo.”
Aprecio estar em silêncio. Tento aprender a falar menos e a dizer mais. Ao usar as palavras, usá-las porque pensei a respeito, porque irão melhorar o dia de alguém, trarão algo de valor às pessoas ao meu redor. Não apenas falar por falar, mas falar porque tenho algo a dizer. Aprendi que estar quieta e comigo mesma não é sinônimo de solidão, mas pura libertação.
E quanto a você, leitora? Aceita o silêncio ou se apavora só de pensar em ficar sozinha com os próprios pensamentos?
3 Comentários
Eu também gosto deste equilíbrio companhia e solidão, que falas no texto. E digo que com a maturidade, me tornei mais seletiva. Aprecio muitos estes momentos, pois são poucos e ainda trabalho muito. E realmente acho que as pessoas deveriam ficar mais quietas, pois algumas nem sabem o que estão dizendo.
Simone, um abraço!
Gosto do equilíbrio entre me expressar e falar aquilo que a minha essência precisa. E quando é necessário ficar em silêncio, me recolher na introspecção.
Nesse mundo dual tudo é um jogo de polaridades. O EQUILÍBRIO traz a FORÇA!
Gratidão por compartilhar esse tema tão importante na vida dos humanos 🙏🏻💜
Amei a reflexão. O silêncio é mesmo libertador. Exige autoconhecimento, boa autoestima, maturidade. Que terrível seria ter que falar o tempo todo para receber atenção (receber ou exigir?). Muitas pessoas me dizem achar curioso que fico horas e horas dentro de casa, sem ligar qualquer aparelho sonoro, no completo silêncio. Mas fico tranquilamente, pensando, divagando, tomando decisões, repensando outras. Já ouvi falar das três peneiras que devemos utilizar antes de falar: verdade, bondade e necessidade. Se não passar pelas três, melhor manter a boca fechada.