Por Carolina Weber Guazzelli
A leitura do romance A Amiga Genial foi instigada pela fama da tetralogia de Elena Ferrante, autora italiana conhecida mundialmente através de seu pseudônimo, haja vista que se mantém anônima.
Tudo começa com o sumiço de Raffaella Cerullo (Lina para todos; Lila para Lenu). Rino procura a antiga amiga de sua mãe, Elena Greco (Lenu), que desconhece seu paradeiro, mas lembra que há 30 anos Lila dizia que queria sumir sem deixar rastro, volatizar. E conseguiu. Não deixou nenhum documento, imagem, roupa. Nem sua melhor amiga guardara algo como recordação dela.
Então, Lenu resolve escrever cada detalhe da história vivida por elas, recordando tudo que ficou na sua memória desde a infância vivida no subúrbio de Nápoles pós-guerra, conforme suas percepções…
É uma narrativa rica em detalhes, densa e cheia de personagens complexos, que são envolvidos pelas suas famílias tipicamente italianas, definidas pelo seu ofício. Somos transportados para o dia a dia do bairro napolitano, nos anos 1950, diante de tanta realidade transcrita.
Lila aparece em destaque, chama atenção de todos pela sua inteligência e beleza. É uma personagem bem autêntica e, por vezes, rebelde e ardilosa, que fazia o que queria ou tramava.
Ao mesmo tempo, Lenu surge dependente da amiga para se desafiar e atingir bons resultados. Tem grande admiração pela Lila e não se importa em ficar na sombra, em segundo lugar. Assim, se sente forte e segura. Mas fica claro que essa descrição se inferiorizando, é fruto de sua baixa estima. Nem todos a enxergam assim.
Surpreendentemente, Lila interrompe os estudos para trabalhar e casar com um rapaz de posses (sonho da maioria das adolescentes da época), porém segue invejando o conhecimento adquirido pela amiga. Paralelamente, Lenu continua os estudos apesar de todas as dificuldades, buscando ótima performance; mas desejando um bom casamento.
Essa dualidade das personagens dá vida à história, de maneira nua e crua, de um modo muito verossímil, fazendo com que se ame ou odeie, ao mesmo tempo, Raffaella Cerullo ou Elena Greco. Ora são amigas confidentes, ora rivalizam tudo. Contudo, se completam. E fica a pergunta, quem realmente é a amiga genial?
Questiona-se de onde vem a inspiração da escritora para todo conteúdo tão criativo e sensível, que até parece uma autobiografia.
Enfim, confesso que ao terminar a leitura do aclamado primeiro volume da tetralogia, fiquei um pouco decepcionada, realmente esperava mais. Porém, refletindo depois e percebendo como as personagens são construídas magistralmente, sendo enredadas em conflitos e afetos genuínos, percebi que precisamos analisar o conjunto da obra, pois A Amiga Genial serve de pano de fundo para as histórias que virão nos outros três volumes.
E o desfecho dessa narrativa desperta o interesse pela leitura do segundo volume (História do novo sobrenome), o qual já fiz, e posso afirmar que consegue ser bem mais interessante diante de tanta ambivalência e contradições dos fatos que se sucedem. E seguirei com a leitura do terceiro volume: História de quem foge e de quem fica, objetivando completar a famosa tetralogia de Elena Ferrante.
Carolina Weber Guazzelli, 42 anos, natural de Porto Alegre. É analista jurídica da Procuradoria-Geral do Estado, especialista em Direito Administrativo e atuante na área de licitações e gestão de Contratos. Mãe do Guilherme e Vinícius (9 e 5 anos). Amante de livros e viagens, adora confraternizar com os amigos e família, além de jogar beach tennis. Carol Guazzelli é membro do Clube de leitura D’Elas.
- Editora : Biblioteca Azul; 1ª edição (1 maio 2015)
- Idioma : Português
- Capa comum : 336 páginas
- ISBN-10 : 8525060607
- ISBN-13 : 978-8525060600
1 comentário
Ah! Que delícia ler esse post. Eu ainda não me arrisquei nessa tetralogia. Mas estou de olho, pois já li alguns livros da Ferrante. Gostei muito de A filha perdida (que tem excelente adaptação na Netflix) e Um amor incômodo. Gostei menos de A vida mentirosa dos adultos. Quem sabe faço um plano de ler um livro da tetralogia por ano.