Você já deve ter comentado com uma amiga, a quem encontrou pensativa, que ela estava “filosofando”, empregando o verbo “filosofar” no sentido de “meditar, pensar, cismar, matutar”.
Talvez daí venha a concepção de que a filosofia é inútil, seguida por idealistas e sonhadores, que vivem distantes do mundo e, para ficarem mais distantes da realidade, se põem a pensar em tudo e em nada, sem chegar a lugar nenhum.
Julgam mal a filosofia.
A filosofia é a origem de todas as ciências e formula perguntas, cujas respostas a ciência tentará responder.
Os primeiros homens – certamente os primeiros filósofos – olharam para o céu noturno e se perguntaram o que eram aqueles pontos brilhantes na escuridão da noite. Que são? Por que brilham? Por que piscam? Por que surgem à noite e desaparecem durante o dia? Para onde vão durante o dia?
Os questionamentos fizeram surgir vasto campo de dúvidas e, por extensão, fizeram surgir a ciência da Astronomia, que se pôs a estudar para buscar as respostas às perguntas feitas pelos “filósofos”.
Assim acontece com as demais ciências. A ciência surge para trazer – ou tentar trazer – respostas completas aos questionamentos formulados pelos “filósofos”, que fazem as indagações.
Será que a filosofia se humilha diante das respostas dadas às questões que fez e acaba? Não; a filosofia deixa a ciência formulando as respostas e parte para formular perguntas em outros campos da vida humana. A filosofia não se importa de deixar os louros da vitória com a ciência e parte para novos questionamentos sobre novos assuntos da existência. A existência, a Vida e os conhecimentos são por demais vastos.
A filosofia interroga; a ciência responde. A filosofia cria dúvidas ou formula hipóteses; a ciência descreve os fatos à luz de números, explicações, experimentações e conclusões.
A filosofia não corre atrás de números, de valores ou de leis físicas; ela deixa para a ciência a tarefa de mostrar e comprovar a realidade tal qual ela é por meio de números, leis físicas e experimentos. A filosofia prossegue formulando perguntas e abrindo espaços investigativos para os métodos da ciência.
Ainda assim, há campos com os quais a ciência ainda não consegue lidar e que se encontram no campo da formulação filosófica. Por exemplo, as questões do Bem e do Mal; da Ordem; da Liberdade; da Vida e da Morte ainda não são suscetíveis de formulação científica. Esses temas são tratados pela filosofia somente.
A ciência consegue clonar animais. A filosofia questiona se é moralmente correto, se é bom ou mal clonar seres humanos e se tal ato estará dentro da conduta ideal condizente com os mais elevados pensamentos e conhecimentos humanos.
A ciência pode curar e matar. A filosofia questiona se é correto curar ou matar e quando se deve curar ou matar (eutanásia, ortotanásia, morte assistida).
O poeta e dramaturgo inglês Robert Browning (1812 – 1889) disse que a “vida tem um significado, e o meu dia a dia é procurá-lo”.
A filosofia anda à procura desse significado, citado por Robert Browning, por meio da formulação de questionamentos e de dúvidas.
1 comentário
Excelente texto. Peço permissão para utilizá-lo em sala de aula da Educação Básica.