O mundo globalizado não ficará imune a uma guerra travada no solo europeu; sofre seus efeitos de uma forma ou de outra. Ainda mais quando se sabe o mundo interdependente de petróleo, matéria-prima, alimentos e insumos.
Os ucranianos e os russos sentem na pele os efeitos das explosões, bombas e destruições. Mas a Europa e o mundo têm sentido os efeitos da guerra, por meio do aumento dos preços de energia, dos derivados de petróleo e dos alimentos e da escassez de produtos.
A economia e os mercados foram criados para o tempo de paz e devem ser adaptados às novas circunstâncias que a guerra traz. Os mercados não foram projetados para enfrentar tempos de guerra; guerra são acidentes de percurso na humanidade, que ainda não aprendeu como se livrar delas. Ou não amadureceu para isto.
Embora haja setores que dela se beneficiam, tais como o de produção e de comércio de armas, guerras causam episódios de escassez de produtos por vários motivos. Quebra de abastecimento, direcionamento de produtos e de mão de obra para o campo de batalha, desvio do foco da produção, dificuldade de produção e transporte de itens…
As guerras não são disputadas apenas nos campos de batalha. Toda a população do país – produção de armas, munições, alimentos, fardamentos – se vê envolvida no conflito. O mundo globalizado se vê participando do conflito, nem que seja pelo pagamento de parte da conta do conflito por meio de inflação, escassez de produtos, desabastecimento e refugiados.
A Europa está vivendo a falta de gás para gerar eletricidade para empresas e residências. Vive ainda o drama da chegada do inverno com a perspectiva de faltar gás para o aquecimento das residências. O preço da energia elétrica aumentou em países europeus tanto que já se cogita que parte da população terá que optar entre comer e aquecer-se. Começaram a pipocar movimentos grevistas na França e em outros países, que poderão levar à convulsão social.
Há falta de alimentos no mundo, porque a Ucrânia e a Rússia são celeiros de grãos e alimentos.
A grande empresa Uniper, responsável pelo fornecimento de 33% do gás da Alemanha, foi estatizada, o que significa que toda a população alemã pagará por seus prejuízos. Além da escassez do gás, a socialização do prejuízo causa inflação. A Europa contrariou o princípio que ela mesma estabeleceu de não fornecimento de ajuda estatal para as empresas. Mas as circunstâncias da guerra assim exigiram.
O Brasil, distante do conflito, poderá até sofrer em menor escala as consequências, mas não passará imune.
Apesar de ter inflação menor que a vivida pelos Estados Unidos e por países da Europa, ainda assim não passará imune. A inflação está alta, assim como os juros que visam combatê-la. O agronegócio e a produção de grãos e de alimentos não estão piores porque o Brasil negociou com a Rússia a manutenção do fornecimento de fertilizantes tão logo iniciou-se o conflito na Ucrânia.
Mas não há previsão de quanto durará a guerra na Ucrânia, nem de como terminará. O mundo ainda viverá incertezas neste final de ano e sabe-se lá até quando.
É preciso entender o que se passa no Brasil em razão do que ocorre no mundo. O Brasil não é uma ilha.