Palavras e expressões populares costumam ter origem bastante curiosa, que precisa ser verificada ao longo da História e/ou do folclore regional.
AS PAREDES TÊM OUVIDOS
Quando querem manter sigilo sobre um assunto ou quando querem fofocar, as pessoas falam baixinho, ao pé do ouvido, para não serem ouvidas por bisbilhoteiros ou por pessoas inconvenientes. Depois, alegam que “as paredes têm ouvidos”, para reforçar a necessidade de falar baixo.
Mas, de onde vem a expressão?
A expressão vem da França, do tempo do reinado de Catarina de Médici. A biografia da rainha merece ser citada com detalhes.
Catarina de Médici (15119- 1589), nobre italiana, tornou-se rainha consorte da França de 1547 até 1559, como a esposa do rei Henrique II com quem se casara quando tinha 14 anos. A morte de Henrique II (1559) fez com que ela assumisse o cargo de rainha regente como a mãe do frágil rei Francisco II, de quinze anos de idade. Quando ele morreu, em 1560, ela tornou-se regente de seu filho, o rei Carlos IX, de dez anos, com amplos poderes. Depois que Carlos morreu em 1574, Catarina teve papel fundamental no reinado de seu terceiro filho, Henrique III, que se utilizou dos conselhos da mãe.
Seus três filhos reinaram na França em época conturbada de guerra civil e religiosa quase constante; sem a mãe é pouco provável que seus filhos tivessem conservado o poder. Os principais adversários da monarquia eram os huguenotes, como eram conhecidos os protestantes na França. Ela recorreu a políticas de linha dura contra os rebeldes, com vistas a manter o trono para seus filhos.
Por conta da linha dura, foi responsabilizada pelas perseguições excessivas realizadas sob o reinado de seus filhos, em especial pelo massacre ocorrido em 24 de agosto de 1572, conhecido como “A noite de São Bartolomeu”, no qual milhares de huguenotes foram mortos em Paris e em toda a França. Há quem fale em 300 mil huguenotes mortos.
Para controlar a corte e saber do que ocorria ao seu redor, Catarina mandou ligar as salas do palácio real por meio de tubos acústicos secretos, o que lhe permitia escutar o que era conversado em outros locais do palácio. Também mandou fazer uma rede com furos colocada entre as molduras dos quadros, nas paredes e nos tetos do palácio para que pudesse acompanhar o que conversavam dentro do palácio. Possivelmente foi por meio desses artifícios que ela tomou conhecimento da rebelião dos huguenotes e reagiu com a violenta “Noite de São Bartolomeu”.
Vem daí, com muita propriedade, a expressão “as paredes têm ouvidos”.