Pelo Coronel Veterano do Exército Lúcio Alfredo do Monte Gomes
Não conheci meu pai; ele morreu quando eu tinha cerca de dois anos. Ele foi convocado pelo Exército, como tenente, para defender o litoral brasileiro durante a II Guerra Mundial e morreu no navio Baependi, torpedeado no litoral da Bahia em 1944.
Cabe aos pais conciliar o amor com as tarefas de educar, punir, reprimir e orientar os filhos. Essas tarefas couberam a minha mãe, bordadeira e costureira, que fazia verdadeiras obras de arte para ajudar a sustentar a família. Lembro que, pequeno, eu a ajudava a desenrolar os novelos de linha.
Morávamos na Zona Norte do Rio. Com 11 anos de idade, entrei para o Colégio Militar do Rio, na condição de “órfão gratuito”, que não precisava pagar taxas e nem mensalidades em razão da minha condição de órfão.
O Colégio Militar tinha o regime de internato, e eu fui aluno interno durante 7 anos, dos 11 anos aos 18 anos. Minha família morava no Rio de Janeiro, mas eu não tinha dinheiro para pagar ônibus para ir para casa todo dia. Eu ia para casa nos fins de semana, quando possível.
Modéstia às favas, sempre tive muito boa aptidão para o esporte. Fui selecionado como levantador para a seleção de vôlei das Forças Armadas. Fui também muito bom jogador de futebol.
Nos anos cinquentas e sessentas, era comum haver jogos preliminares antes dos principais jogos no Maracanã. O número de jogos no estádio era bem menor que atualmente e a grama não era muito maltratada, de modo que, antes dos clássicos, havia jogos entre colégios do Rio.
O jogo preliminar antes de Brasil X Chile, disputado em 1960, foi entre o Colégio Militar e a Escola de Formação de Oficiais da PMRJ. Eu joguei como ponta direita do time do Colégio Militar, que venceu por 2 a 0. Eu fiz um gol de cabeça.
Após o jogo, fui procurado no vestiário pelo Flamengo e pelo Vasco da Gama, que queriam me contratar e, pelo contrato, ofereceram 5 vezes mais do que minha mãe recebia de pensão, mais colégio gratuito, assistência médica e treinamento. Só que eu precisaria sair do Colégio Militar para me dedicar inteiramente ao futebol. Recusei ambas as propostas.
Três anos depois, como cadete da Academia Militar das Agulhas Negras e jogador de futebol do time da Academia, o Fluminense também ofereceu-me contrato e novamente eu o recusei. Explicarei o motivo da recusa das propostas.
Eu não contei com meu pai para me educar, me orientar e me reprimir, como disse acima. Mas eu tive o meu pai a me inspirar para dedicar-me à carreira das armas e seguir o seu exemplo de oferecer a vida em defesa do Brasil. A possibilidade de ganhar dinheiro e de adquirir possível fama como jogador de futebol profissional não me seduziu; maiores que o desejo de fama e de dinheiro eram o meu ideal e a inspiração dada por meu pai.
Heróis de guerra são injustamente esquecidos pelo Brasil e pela História. Até que a História fala vagamente em afundamento de navios nas costas brasileiras durante a II Grande Guerra, mas pouco ou nada se fala no torpedeamento do navio Baependi. Pouco ou nada se fala da sua tripulação e dos mortos, que deixaram família e filhos. Dentre estes, meu pai.
Meu pai morreu como herói na defesa do Brasil. Em minha alma e em minha mente, eu trago o exemplo e a inspiração de do Tenente Luiz Eduardo Villafane Gomes, meu pai, que me motivaram a ser militar e a dedicar minha vida ao Exército e à defesa do Brasil.
Ausente fisicamente, porque faleceu no cumprimento do dever, meu pai sempre esteve presente em minha vida como exemplo, motivação e inspiração.
Meu pai deixou-me um vazio e um exemplo. Tentei preencher o vazio seguindo-lhe o exemplo e inspirando-me nele.
Deus sabe o orgulho que sinto de meu pai e a importância que ele, apesar de ausente fisicamente desde a minha mais tenra idade, tem em minha vida.
Coronel Veterano do Exército Lúcio Alfredo do Monte Gomes
Por meio da história do Tenente Luiz Eduardo Villafane Gomes, pai do Coronel Veterano Lúcio Alfredo do Monte Gomes, o PORTALIMULHER homenageia os pais ainda vivos, os ausentes fisicamente, os heróis de guerra, os heróis anônimos do dia a dia na criação dos filhos e a todos os pais presentes espiritualmente que estão a orientar seus filhos ou a servir-lhes de inspiração e modelo.
4 Comentários
Depois dessa leitura, não consigo escrever mais nada a não ser…
Parabéns a todos os Pais, presente ou ausentes pelo dia de hoje.
Belíssima história de vida, belíssimos e heróicos mãe e pai.
Sem palavras para esse pai e esse filho. Linda história!
Parabéns.
Espero que tenha tido o melhor dia dos pais!
Sinto-me honrado em ter partilhado (em um breve período la na década de 60) minha vida com você, Monte Gomes. Às vezes a presenca física não é o mais importante na nossa vida, o exemplo influi e muito.