Antes de entrar no tema desta edição de Gestão de Guerra, convido você a acompanhar um breve preâmbulo que ilustra com maestria o ensinamento de Suz Tzu que tratarei hoje.
Dividir para vencer
Túlio Hostílio (terceiro rei de Roma, cujo reinado durou de 673 a. C. a 641 a. C.) declarou guerra à cidade de Alba Longa, localizada nas colinas vizinhas a Roma, por conta de disputas territoriais. Os exércitos das duas cidades estavam prontos para a batalha, mas os reis decidiram fazer a disputa de forma inusitada. Túlio Hostílio ficou sabendo da existência de três irmãos Curiácios em Alba Longa e, como contava com três bravos irmãos Horácios em Roma (há autores que afirmam que os irmãos Horácios e Curiácios eram trigêmeos), acordou que as duas tríades lutariam por suas respectivas cidades.
Interessante notar que as famílias eram ligadas por laços sentimentais: uma mulher da família Curiácio era casada com um Horácio, e uma mulher Horácio era noiva de um Curiácio e estava prometida a ele. As mulheres veriam, então, a luta do irmão contra o marido ou noivo.
O começo da luta foi igual mas, em seu decorrer, dois Curiácios mataram dois Horácios. Restou o terceiro Horácio, Públio, para enfrentar os três Curiácios; um contra três. Que fez Públio? Fugiu e foi perseguido pelos adversários. O Curiácio que corria mais rápido o alcançou e os dois lutaram. Públio Horácio derrotou o Curiácio e continuou fugindo. O segundo Curiácio o alcançou e, novamente, lutando um contra um, Públio o derrotou. Restou um contra um, e Públio derrotou o último Curiácio, vingou os irmãos, ficou com a vitória inteira e decretou a vitória em favor de Roma.
A rigor, Públio Horácio não venceu os três Curiácios de uma só vez; venceu cada um de uma vez. Evidente que Públio venceu os três contra quem lutou, mas ele nunca lutou contra os três ao mesmo tempo. Ele não se atreveu a lutar contra os três; lutou apenas contra um de cada vez.
Exemplo de dividir para vencer.
A título de curiosidade, a história não termina aí. Depois da luta, Públio, coberto de glórias, entrou triunfalmente em Roma. Sua irmã, prometida a um Curiácio, vendo a armadura dele e vendo o irmão coberto de glórias, concluiu que o noivo havia sido morto e pôs-se a chorar desconsoladamente pela morte do noivo. Ao perceber o choro da irmã, Públio a traspassou com a espada dizendo que “assim deveriam morrer as romanas que choravam pelos inimigos de Roma”. Públio foi condenado à morte, mas foi salvo em razão do apelo popular por sua condição de herói.
Unidade e foco como diferenciais
A introdução acima mostra o poder da unidade. Uma empresa precisa ter unidade e foco, e quem estabelece o foco e dirige a unidade é o gestor. Um barco jamais seguirá em frente se cada um dos remadores remar em diferentes tempos ou em diferentes direções. O ato de remar é tarefa de alta complexidade e exige dos remadores alta performance e coordenação absoluta. Nas corridas de barco com oito remadores há o timoneiro a ditar o tempo da remada para harmonizar os movimentos dos remadores com o deslocamento do barco sobre a água.
O gestor, que também podemos chamar de líder, é o timoneiro da empresa que lhe dá unidade e harmoniza as ações para atingir os objetivos propostos.
O foco, que deve ser realista, exige que o gestor e sua equipe mantenham os olhos fixos no objetivo a ser alcançado e que todas as ações estejam direcionadas para atingi-lo.
Perguntaram, certa vez, a uma faxineira da NASA qual era a sua missão na empresa, e ela respondeu que sua missão era “ajudar a levar o homem ao espaço”. Isso é unidade – todos da empresa, não importa a função, irmanados com o mesmo pensamento. Isto é foco – cada um exercendo a sua função específica com orgulho, sabendo que o somatório das ações da empresa, até as mais humildes, convergia para o objetivo comum de levar o homem ao espaço.
A nação, a organização, a equipe, o setor e o time UNIDOS são fortes. A unidade funciona porque permite que a organização resolva os assuntos em conjunto e, portanto, com menor esforço.
A nação, a organização, a equipe, o setor e o time DIVIDIDOS são fracos. Esforço concentrado cresce; esforço disperso se perde.
O conceito “dividir para conquistar” foi utilizado pelo imperador romano César, por Felipe II, rei da Macedônia, e por Napoleão Bonaparte, todos generais vitoriosos. Vejam o caso histórico e célebre da vitória obtida pelos irmãos Horácios sobre os irmãos Curiácios, depois de dividir os adversários.
Sun Tzu pregou a união quando citou a LEI MORAL (o povo deve estar de acordo com o governante e deve segui-lo sem temer perigos) como fator para ser levado em conta no planejamento das ações. Em outra passagem, o rei Wei perguntou a Sun Tzu como se devem atacar os iguais em força, e Sun Tzu respondeu:
“Confundindo-os e dividindo-os. Concentre seus soldados em abatê-los sem que o inimigo perceba o que se passa. A finalidade de dividir e confundir a força do oponente é diluir e anular a energia de seu ataque e comprometer a sua segurança”.
O gestor não é o crítico que, no conforto do escritório, simplesmente aponta falhas, mostra onde alguém tropeçou ou que cita o que o autor de ações poderia ter feito melhor. O gestor é aquele que está na arena, rosto coberto de suor; que se esforça junto de sua equipe; que se empenha em realizar; que está à frente da equipe; que vive as dificuldades junto de sua equipe e as conhece; que até falha uma vez ou outra porque não há esforço sem erros, mas que reconhece os erros e os corrige; que conhece o entusiasmo e o transmite a sua equipe; que se dedica a superar obstáculos para atingir o objetivo. O líder está junto da equipe e está sempre pronto para passar da palavra à ação. Assim, exercitará a unidade.
Vamos às provocações do dia. Você é gerente de palavra ou de ação? Você está junto de sua equipe ou exerce a chefia do conforto do ar condicionado do escritório? Sua equipe é unida? Trabalha em conjunto? Os colaboradores sabem o valor da união em prol do objetivo comum? Você os motiva? Como eles são motivados? Eles conhecem os objetivos da empresa? Pense nisso!
1 comentário
Ótimo texto com boas provocações. Gostei muito do preâmbulo e que bom que você teve a sensibilidade de contar a história até o final.