Existem manias mais graves que caracterizam transtorno bipolar; outras, mais simples e inofensivas, fazem parte da rotina das pessoas.
Manias
Manias… Quem não as tem?

Célia Seabra, vizinha querida de Diamantina, adora pastéis, mas não come a pontinha que segura para saboreá-lo.
Margareth Tangari, mui querida amiga, tinha a mania de roer as unhas enquanto lia livros. A partir da pandemia, para evitar colocar os dedos na boca passou a enrolar os cabelos nos dedos enquanto lê.
Chico de Oliveira Filho, amigo de meio século, canta durante o banho e conversa sozinho; ainda diz que tem mais facilidade de se entender consigo mesmo que com outras pessoas.
A querida amiga Leslie de Lisieux, também durante o banho, vai além de simples conversa com ela mesma em voz alta: fala, ri, debate, chora e argumenta, por vezes com veemência. Quando percebe que está falando alto, fala psssss!!!!! pra ela mesma.

A maratonista amiga Maria Eugenia guarda as roupas organizadas por cor.
Enfim, todos temos as nossas manias.
Nelson Gonçalves cantou “Manias” de forma romântica; começa a música dizendo “entre as manias que tenho uma é gostar de você”.
https://www.youtube.com/watch?v=deYnK05gxXA
Cristo e Beethoven
Eu tenho uma mania, que, parece-me, situa-se entre o limite das inofensivas e as que caracterizam transtorno grave.
Tenho pessoas que marcaram e marcam minha vida com força indelével e me dão razão de viver, de ter fé, de amar e de me sentir um ser espiritualizado. Não entenderia minha vida sem essas pessoas.
Uma delas é Jesus Cristo. Jesus Cristo dá-me a fé na vida espiritual e em Deus. Sem Cristo minha vida perderia o significado.
Outra pessoa que admiro profundamente e se integrou a minha vida, oferecendo-me beleza e emoção e despertando-me emoções, é Beethoven. Pra mim o maior dos maiores.
Claro que admiro peças de outros compositores – Brahms, Bach, Mozart, Liszt, Chopin, Tchaikovsky, Vivaldi e outros – que igualmente me emocionam. Mas o conjunto da obra de Beethoven, particularmente a 3ª, 5ª, 6ª, 7ª, 8ª e 9ª sinfonias, me fascina.
Para mim, a beleza do mundo não seria completa se não existissem Beethoven e suas sinfonias.
Naturalmente há outras pessoas que me deixaram marcas de amor e afeto, mas não cabe citá-las para não fugir ao objetivo da crônica.
Minha mania
Pode parecer falta de nexo iniciar a crônica falando de manias e abordar Cristo e Beethoven. É que minha mania está ligada a Beethoven.
Frequentemente, ouço as sinfonias de Beethoven, mas não me limito a escutá-las. Sozinho em casa, fecho as cortinas da sala e me ponho a regê-las.

Fecho os olhos e me sinto o maestro. Imagino a localização dos instrumentos: primeiros violinos à minha esquerda, segundos violinos e violoncelos à direita, percussão ao fundo, instrumentos de sopro – flautas, flautins e metais – no meio logo à minha frente.
Conheço razoavelmente as sinfonias de tanto ouvi-las, mesmo porque eduquei os ouvidos para buscar o som dos instrumentos ao fundo e não ouvir apenas os instrumentos em destaque. Essa técnica requer hábito e educação dos ouvidos.
Faço a regência “chamando” os instrumentos, pois já decorei quando eles tocam, ou sinalizando para que interrompam quando a música o exige.
Faço gestos para o som mais baixo e movimento os braços com vigor quando a orquestra toca mais fortemente.
O que me faz sentir importante é que a minha “orquestra” imaginária me obedece. Realizo-me como maestro frustrado e aprecio muito mais as sinfonias, porque as vivo intensamente e vou fazendo novas descobertas musicais, que me fazem admirá-las ainda mais.
Mania? Frustração? Sonho? Fuga? Desejo? Admiração profunda? Loucura? Pouco se me importa.
Importa-me o momento de alegria e felicidade que desfruto.
1 comentário
Criei, para consumo próprio: todos tem alguma loucura… Hoje temos o AUTISMO pra explicar a dosagem de cada um…