O amor é um tema que fascina a humanidade desde os primórdios. Mas o que é de fato o amor? Apesar de insistirem em explicá-lo de uma única maneira, eu acredito que ele pode se manifestar de diversas formas. E vou mais longe. Eu acredito que o amor tem vestimentas diferentes de acordo com a nossa idade e, principalmente, nossas experiências. E, óbvio, é um sentimento complexo, multifacetado e que, muitas vezes, transcende as palavras. Ele é muitas coisas, e nós podemos até discordar sobre como esse sentimento se manifesta e consegue invadir até os corações mais empedernidos. Mas, com certeza, em uma coisa vamos concordar, estar enamorado é uma delícia. E como já dizia o saudoso Vinicius de Moraes no Soneto de Fidelidade: “que seja infinito enquanto dure”.
Apesar de ser difícil de definir, o amor é uma experiência universal. Todos nós, em algum momento da vida, experimentamos o amor em suas diversas formas. Desde o amor maternal, que nos acolhe e protege ao nascermos, até o amor romântico, que nos faz sentir vivos e completos. Mas, você que já tem mais de 40 anos, consegue se lembrar de como via esse sentimento quando tinha 20 anos? E você que já passou dos 60, se alguém lhe pedir uma definição; será que sua resposta será igual a que daria na adolescência? Se perguntarem para mim, tenho certeza que minhas respostas mudaram conforme as décadas foram passando.
O amor sempre foi e será um caminho de descobertas, de aprendizado e de crescimento. Mas só nos beneficiamos disso se estivermos com o coração aberto para absorver os ensinamentos. Porém, todavia, contudo, aos 20 anos, como a maioria dos jovens, eu ainda acreditava no amor perfeito, aquele que duas pessoas se olhavam, se apaixonavam e viviam felizes para sempre. O felizes para sempre é um pouco de exagero. Mas a minha visão era mais ou menos assim.
Aos 30, eu ainda acreditava no amor que se apaixonava no primeiro olhar. E foi aí que uma grande decepção assassinou o amor que eu sentia. Foi um período sombrio, quando passei 5 anos sem me relacionar com ninguém. Casei com o trabalho que tanto amo, que também é uma fonte de amor. Por isso, digo que a visão do amor muda conforme fazemos aniversários e acumulamos experiências.
Somente depois de um processo profundo de autoconhecimento, consegui me reabrir para a vida e acreditar que poderia amar novamente e, principalmente, confiar no outro. Mas, de uma forma diferente, não acreditando mais que alguém do externo tem que vir para me fazer feliz. Aprendi a ser feliz com a minha companhia. Entendi que o outro me faz feliz, sim, mas que a única pessoa responsável por me manter nesse estado sou eu mesma. E que, mesmo o outro me amando, vez ou outra ele vai me decepcionar e eu vou tirá-lo do sério.
É através do amor que aprendemos a lidar com as nossas próprias emoções, a compreender as emoções dos outros e a construir relacionamentos saudáveis. E assim cheguei a cinco décadas de existência tendo uma visão diferente do que é o amor. E, principalmente, aprendi que amar exige um preço e que nem todos estão dispostos a pagá-lo. O amor exige dedicação, compromisso e esforço constante. É um trabalho em equipe que requer diálogo, compreensão, paciência e respeito mútuo. Ou seja, exige maturidade para entendermos que o amor só floresce onde há doação de ambas as partes. E, a essa altura da vida, outra coisa que aprendi é que não temos segurança de nada, e a frase “que seja infinito enquanto dure” começou a fazer muito mais sentido. Além disso, longe das inseguranças da juventude, e dos hormônios em ebulição, percebi que o amor, agora, envolve não só atração sexual, ser paparicada, mas também amizade, parceria e muitas conversas. E daqui uma década, com certeza, essas coisas vão fazer muito mais sentido do que hoje. Independente da idade que você tem e de como enxerga esse sentimento tão sublime, te convido a fazer um brinde as pessoas que têm coragem de amar e a se dedicar a outra pessoa, sem se perder de si mesmo!
3 Comentários
Perfeita esta matéria! Concordo que o amor muda com o tempo. No início, é intenso, cheio de sonhos e expectativas. Com o passar dos anos, ganha maturidade — torna-se mais consciente, menos idealizado. Depois, encontra leveza e profundidade, onde a presença vale mais que promessas, e o silêncio compartilhado fala mais que mil palavras.
Minha querida amiga, ao ler sua coluna, lembrei imediatamente do poema A Felicidade, de Vinicius de Moraes — aquele em que ele diz que “tristeza não tem fim, felicidade sim”. Talvez porque, assim como o amor, a felicidade também se reinventa, tem fases, tem pausas e recomeços. E você, com sua escrita delicada e corajosa, mostra isso com rara sabedoria.
Acredito que há amores que terminam, sim — e há outros que amadurecem conosco, que se adaptam às novas versões que nos tornamos com o tempo. E é justamente essa evolução que nos torna mais amáveis… inclusive por nós mesmos. Quando compreendemos que não precisamos nos comparar, nem nos moldar a ninguém para amar e sermos amados, estamos vivendo o amor mais sincero: aquele que começa dentro da gente.
Se isso não é evolução, sinceramente, não sei o que mais seria. E você, Liliane, é a personificação dessa evolução — no amor, no amar e no se cicatrizar para florescer ainda mais forte. Eu me amo, amo você e amo a forma como você compartilha suas vivências com tamanha generosidade, tanto aqui quanto na Rádio Itaberá Bandeirantes.
Você toca, transforma e inspira. Obrigado por isso. ❤️
Que leitura deliciosa!