Por Giulliana D. Rossato
Clube de leitura D´Elas
[…] “Você só consegue entender uma pessoa de verdade quando vê as coisas do ponto de vista dela.”
Atticus (O sol é para todos – Harper Lee)
O Sol é Para Todos, de Harper Lee (1926-2016), é uma obra ambientada no sul dos Estados Unidos, em uma pequena cidade do Alabama, durante a década de 1930, um período marcado por profundas desigualdades sociais e raciais. Explorando temas como preconceito, justiça, educação, moralidade e família.
A história acompanha a infância dos irmãos Jean Louise Finch (Scout), uma menina inteligente, curiosa e espirituosa, e Jeremy Atticus Finch (Jem) que são criados pelo pai o advogado Atticus Finch, que é designado a defender Tom Robinson (homem negro) acusado injustamente de estuprar uma mulher branca.
O livro é um clássico da literatura mundial, combina elementos e personagens do cotidiano a uma aguçada crítica social, na qual são abordadas questões complexas a partir da perspectiva de uma criança. Com uma linguagem simples, direta e ao mesmo tempo emocionante, provocando várias reflexões nos leitores.
Como esta conversa entre os irmãos Jem e Scout:
“Se só existe um tipo de gente, por que as pessoas não se entendem? Se são todos iguais, por que se esforçam para desprezar uns aos outros?” Jem, indignado, explicando para Scout o que é injustiça.
“Atticus tinha razão. Uma vez ele disse que a gente só conhece uma pessoa de verdade quando se coloca no lugar dela e fica lá um tempo. Ficar parada na varanda dos Radley foi o suficiente.” Scout dando uma lição do que é empatia.
“Quando a consciência o incomoda, não há descanso para o coração.” Atticus – o pai falando sobre moral e ética.
Através da narrativa inocente e ao mesmo tempo perspicaz de Scout, fui me envolvendo na história de cada personagem e com as cenas carregadas de ensinamentos sobre empatia, respeito, bondade, preconceito racial, social e de gênero, ainda presentes no nosso cotidiano.
Me encantei com a inteligência da menina narradora, pela sabedoria bondosa de seu pai, que educa de maneira respeitosa os seus filhos através do exemplo ético, justo e correto.
Indico este livro, pois além de ser considerado uma obra prima da literatura mundial, a autora traz com muita sensibilidade e coragem injustiças de uma forma que é possível compreender melhor a origem do racismo estruturado, a importância da justiça e de como a empatia, a integridade e a bondade humana podem mudar muitas vidas e alterar destinos “pré- determinados” pela sociedade.
Sobre o simbolismo do título do livro – O Sol é Para Todos, em sua versão original – To Kill a Mockingbird, significa em uma tradução adaptada, matar um rouxinol, ou um pássaro inocente, gostaria de provocar um questionamento: Quem realmente são os “Mockingbirds” nesta história?
Tom Robinson e Boo Radley, que são pessoas inocentes que sofrem preconceitos, por sua cor e sua reclusão social, respectivamente, e são injustiçados pela sociedade, na qual eles “não fazem nada além de cantar para nós”?
Ou Scout e Jem que tem sua inocência infantil amadurecida ao perceberem que o mundo real nem sempre é justo, mas que ainda assim é possível lutar por justiça, que é um “pecado matar um rouxinol”, que “justiça não é uma questão de força, mas de coragem e de convicção” e de que “o amor e a justiça são as forças que movem o mundo.”?
Pois, eu seguirei acreditando que “A bondade humana é o sol que ilumina até os dias mais sombrios.”
Sou Giulliana D. Rossato, gaúcha, residente em Porto Alegre, engenheira civil, atuo como Superintende de engenharia em uma Construtora, sou mãe de duas meninas lindas e muito inteligentes a Helena (9 anos) e Antonia (2 anos). Membro do Clube de leitura D´Elas.
Ingressei no clube de leitura desde sua fundação, em um momento muito especial da minha vida: minha segunda filha tinha apenas dois meses. Em meio ao puerpério, o clube se tornou um verdadeiro refúgio. Compartilhar ideias e ouvir experiências das demais leitoras foi muito motivador para manter o hábito de ler.
Ao longo do tempo, os encontros se consolidaram como um espaço de troca profunda, de conhecimento, de emoções e de vivências. Cada leitura nos convida a enxergar o mundo sob diferentes óticas, e cada integrante contribui com sua bagagem única, enriquecendo ainda mais nossas conversas. Hoje, posso dizer com gratidão que o clube de leitura é muito mais do que um grupo de pessoas que leem juntas. É um espaço de escuta e crescimento mútuo, onde a literatura nos une e nos transforma.
Sobre a autora:
Harper Lee
Harper Lee foi uma escritora americana nascida em 1926, conhecida principalmente por seu romance O Sol É para Todos (To Kill a Mockingbird), publicado em 1960. Sua obra é marcada por uma narrativa sensível e profunda, que aborda temas como justiça, racismo e moralidade.
O livro conquistou o Prêmio Pulitzer e se tornou um clássico da literatura mundial, refletindo o estilo único de Lee, que combina simplicidade, profunda sensibilidade e força emocional.
Ficha Técnica
Título: O Sol É Para Todos
Autor: Harper Lee
Tradutora: Beatriz Horta
Editora: José Olympio
Ano da edição: 2019
Número de páginas: 349–350 páginas
Idioma: Português (Brasil)
Faixa etária sugerida: a partir de 15 anos
Sobre o Clube de leitura D’Elas, leia também:
“A história do novo sobrenome”, Elena Ferrante (por Claudine Smolenaars)
“A morte é um dia que vale a pena viver”, Ana Claudia Q. Arantes, (por Andréia Wesner Fernandes)
“A marca humana”, Philip Roth (por Mariana Bainy de Albuquerque)
1 comentário
Essa resenha crítica da Giuliana já veio enriquecida com o debate do encontro do clube de leitura delas. Ler uma excelente obra traz muita reflexão e agrega na vida de uma pessoa; mas ler em grupo potencializa ainda mais a leitura, já que se lê vários livros em um só. Obrigada Giuliana pela indicação e por seres uma super integrante do clube, do tipo entusiasta e sempre presente de corpo e alma.