Por Cláudio Duarte
O Evangelho de São Mateus, Cap 7, 1, traz o ensinamento de Cristo “Não julgueis para que não sejais julgados”.
Esse ensinamento de Cristo é muito conhecido. Por mim, em teoria, como verão a seguir. Um fato qualquer pode fazer-me esquecê-lo e levar-me a julgar outras pessoas. Normalmente, recriminando-as ou criticando-as, ainda que mentalmente.
Aconteceu recentemente.
Submeti-me a pequena intervenção cirúrgica, para a qual precisei fazer severo jejum, tomar soro e ser anestesiado. O jejum incluía abster-me de alimentos e de água por bastante tempo antes da intervenção.
Cheguei ao hospital desidratado e aguardei o horário de ser atendido, até que fui encaminhado à antessala da intervenção.
Enfermeiras gentis e dedicadas vieram até mim, com as perguntas de praxe para ocasiões como essa. Mediram a pressão arterial e a temperatura, sempre com gentileza e atenção, o que me deixou mais tranquilo e à vontade.
Até que precisaram pegar a veia para aplicar o soro. A enfermeira chegou e me disse que eu tenho veia boa e realçada na mão e no braço e que seria fácil pegá-la. Fiquei empolgado. Apesar de não ter medo de agulhas, levar uma agulhada é bem melhor que levar 3 ou 4.
A enfermeira se pôs a tentar pegar a veia no braço. Não conseguiu. A veia escapava e eu olhava a seringa na expectativa de ver o sangue aparecer nela. Nada.
Ela desistiu do braço e passou a tentar na mão. Não conseguiu nas 4 primeiras tentativas. Chamou outra enfermeira.
A segunda enfermeira “cavucou” o dorso da minha mão à procura da veia perdida que a primeira enfermeira não conseguiu encontrar. Também não conseguiu.
Mantive-me tranquilo e não reclamei; confio no profissional de saúde que me atende. Naturalmente, médicos escolhem equipe competente e de sua confiança.
Formou-se um grupo de 3 enfermeiras em torno de mim, mais especificamente em torno do braço esquerdo acompanhando a busca da veia. Acharam conveniente chamar a enfermeira-chefe.
Animei-me. Certamente a enfermeira-chefe, mais experiente, pegaria a veia com mais facilidade. Enganei-me. Ela permaneceu pouco tempo na tentativa e, chamada em outro local, devolveu a atribuição para a primeira enfermeira.
Meus “demoninhos” interiores atacaram e comecei os julgamentos em meu íntimo. “Enfermeiras incompetentes. Disseram que a veia era grande e fácil de pegar e estão tentando pegá-la faz uns 10 minutos e ainda me furam o braço e a mão uma porção de vezes e não conseguiram nada”.
Estava calado, mas a mente não parava de julgar e condenar intimamente as enfermeiras.
Até que finalmente elas conseguiram pegar a veia. Alívio.
A partir dali o procedimento correu normalmente.
Depois de retornar para casa, amigos me alertaram que é muito difícil pegar a veia quando o corpo está desidratado. A veia murcha e corre de um lado para o outro, como que escapando da agulha.

Quando soube disso, imediatamente me lembrei do ensinamento de Cristo “não julgar para não ser julgado”. A lembrança veio tarde, trazendo-me arrependimento. Infelizmente, não me veio no momento certo de não julgar as enfermeiras, profissionais e experientes, em assunto do qual não tenho prática e nem conhecimento. Tenho prática apenas de aplicar injeção no músculo.
A lembrança do Evangelho de São Mateus veio-me à mente como arrependimento.
Pensei comigo mesmo que assim é a maioria das críticas: feita por quem não entende do assunto, quem não conhece o assunto e gosta de julgar os demais.
Quantas vezes julgamos mal alguém, sem conhecer seus motivos e sem conhecer os fatos. Fazemos julgamentos errôneos até de pessoas queridas, em quem achávamos que confiávamos!…
Quando voltei à consulta com a médica após o procedimento cirúrgico, pedi-lhe que se desculpasse com sua equipe em meu nome.
Ainda que não tenha comentado com as enfermeiras o mau juízo que fiz delas, o simples julgá-las e condená-las mentalmente me fez pesar a consciência e somente o pedido de perdão me aliviou o julgamento indevido.
Cláudio Duarte.
Colunista e colaborador do PortaliMulher.
2 Comentários
👋👋👋👃👃👃🙏
Obedecer a esse ensinamento é muito difícil mesmo, mas não custa tentar. No insucesso para não julgar, o que é quase certo, façamos como o articulista, desculpemo-nos.