Nós vivemos 86.400 segundos num dia e mais de 31 milhões de segundos num ano.
Pouco nos damos conta do valor de 1 segundo, tantos que os vivemos. 1 segundo terá importância maior para corredores, nadadores, atletas e pilotos de Fórmula 1. Para nós, mortais comuns, terá pouco significado.
Temos lembranças de semanas, dias, horas ou até de minutos felizes que vivemos. Porém, é muito difícil guardar na lembrança momentos marcantes de felicidade ou de intensa alegria vividos em 1 segundo apenas.
Deveríamos guardar a felicidade vivida em um segundo porque, como disse o poeta Vinicius de Morais, a felicidade é tênue:
A felicidade é como a gota de orvalho
Numa pétala de flor,
Brilha tranquila,
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.
Na mesma poesia, mais adiante ele diz:
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar.
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar.
Será que a felicidade é extremamente fugaz?
Vou me permitir discordar do poeta e direi o motivo. Eu tenho lembranças de fatos marcantes de intenso amor e felicidade vividos em apenas um segundo. Sim, em um segundo…
A felicidade vivida naquele segundo não caiu como uma lágrima que se desfaz e se resseca; ela permanece na lembrança e permanecerá enquanto viver.
Ouso dizer que momentos, não importa a duração, permanecerão para a Eternidade. O tempo (ou espaço-tempo, como dizem os astrônomos) é condição meramente material e a felicidade, porquanto vivida e sentida na alma, permanecerá para todo o sempre. Assim como o amor, o verdadeiro amor.
Felicidade e amor não são esquecidos e, ao serem relembrados, são e serão revividos na lembrança, na ternura e no sentimento e se prolongam no tempo ad aeternum.
Vamos ao segundo de felicidade que vivi e que nunca me fugiu da lembrança.
Relógios digitais surgiram na década de 1970, se bem me lembro. Lembro que comprei no Paraguai meu primeiro relógio digital, que marcava hora, minuto, segundo, dia do mês, mês e outras modernidades – cronômetro, marcava o tempo do número de voltas de uma corrida, marcava o tempo de trás pra frente, despertador… Coisas comuns em relógios atualmente.
Troglodita, como sempre me fascinei pelo progresso tecnológico eu adorava a modernidade do relógio. Eu olhava para o relógio digital quase que de minuto a minuto.
De tanto olhar, despertou-me a curiosidade de ver o relógio marcar 11 horas, 11 minutos, 11 segundos do dia 11 de novembro (mês 11): 5 vezes o 11; 10 vezes o algarismo 1.
No dia 11 de novembro, a partir de 11 horas, eu ficava de olho no relógio esperando chegarem as 11 h 11min 11 seg. Eu tinha um companheiro nessa empreitada: meu filho Cláudio que, na época, deveria ter bem menos que 10 anos.
Ficávamos os dois de olho no relógio e nada nem ninguém nos desviavam a atenção até o momento esperado.
Quando conseguíamos ver o segundo aguardado, eu olhava para ele, ele olhava para mim, sorríamos e fim: acabou a brincadeira. Aparentemente, a brincadeira durou exatamente 1 segundo: de 11h 11min 11seg a 11h 11min 12seg.
O olhar que trocávamos expressava a sensação de cumplicidade de termos visto juntos um segundo especial dentre os 86.400 segundos do dia e dos 31,3 milhões do ano.
Objetivo atingido, esperaríamos pelas 11h 11 min 11 seg do dia 11 de janeiro, que não era tão interessante quanto o 11 de novembro, porque havia um numeral 1 a menos.
No ano seguinte e sempre que possível, lá estávamos pai e filho juntos do relógio esperando a coleção de algarismos 1 no mostrador do relógio.
A vida me separou do meu filho, cada um seguindo os rumos profissionais que abraçou.
Até hoje, passados mais de 40 anos, no dia 11 de novembro eu envio mensagem para ele dizendo “HOJE É O DIA” ou ele me envia mensagem me alertando sobre a data. Quem se lembra da data mais cedo envia a mensagem. Acontece de o alerta ser enviado no dia anterior.
Depois do horário aprazado, um ainda envia mensagem ao outro dizendo “EU VI”.
Bobeira? Infantilidade dos dois, principalmente minha, por ser pai e maduro na casa dos 30 anos quando começamos a brincadeira e que permitimos permanecer até hoje? Idiotice? Pense assim que quiser.
Aquela bobeira, aquela infantilidade de 1 segundo de duração marcou-nos e materializa o amor que me une a meu filho e que o une a mim.
Um segundo apenas, vivido com tamanha intensidade, amizade e cumplicidade, tornou-se imortal e eterno para nós, comprovando que o tempo, meramente material, não apaga amor e sentimentos que estão gravados na alma e que permanecerão para sempre.
O vento que mantém a pluma da felicidade flutuando é o amor.
Cláudio Duarte,
Colunista e colaborador do PortaliMulher.
3 Comentários
Meu estimado Coronel
Sim, eu entendo exatamente o que você e Cláudio têm. Muitos pais gostariam de ter essa cumplicidade. É um cordão de ouro imaginário que nunca romperá os elos.
Deus os abençoe grandemente.
Linda crônica!
Você sabe escrever ditado pelo coração.
Meu estimado Coronel
Sim, eu entendo exatamente o que você e Cláudio têm. Muitos pais gostariam de ter essa cumplicidade. É um cordão de ouro imaginário que nunca romperá os elos. O verdadeiro Amor.
Deus os abençoe grandemente.
Linda crônica!
Você sabe escrever ditado pelo coração.
Mergulhando nesta excelente crônica, quem sabe possamos garimpar em nosso passado segundos que vivemos e deixamos esquecidos no fundo do baú da memória, o que seria altamente positivo.