As belas obras de arte ensejam diferentes interpretações e cativam pela criatividade e beleza.
O pintor francês Joseph-Désiré Court (1797 – 1865) pintou retratos e temas históricos.
Dentre suas obras, está “O Grande Dilúvio”, pintura de 1826, exibida pela primeira vez em 1827 e que se encontra atualmente no Museu de Belas Artes de Lyon.

A pintura ilustra um momento do dilúvio, que cobriu de água a terra, no qual um homem tenta salvar um homem idoso, enquanto uma mulher, com uma criança nos braços, implora pela ajuda dele.
Observe-se o detalhe dos pés e do braço direito em busca de apoio para para fazer o esforço para salvar o homem.
A pintura induz a diferentes interpretações.
Uma delas é de que o homem tenta salvar seu pai, que representa o passado, e deixa de lado sua mulher, representante do presente, e seu filho, que representa o futuro.
Interessante que, dar prioridade ao pai (passado), o homem despreza o presente (a mulher) e também despreza o futuro, que é a criança nos braços dela.
Outras pessoas interpretam o quadro vendo representação do passado, presente e futuro e não figuras humanas. Essas pessoas criticam aqueles que se apegam ao passado, sofrem por ele e esquecem o presente e o futuro. Perder o presente e o futuro pelo passado? O passado já se foi, então cabe salvar o presente, o futuro e a vida.
Pode ser que o ciclo da vida esteja retratado no quadro, de modo que o passado se esvai enquanto o futuro emerge do presente.
Ou o filho demonstra excepcional gratidão pelo pai, a ponto de preferir salvá-lo? Mas se o pai está quase totalmente submerso, não deveria o filho voltar-se para a criança e a mulher?
Há quem veja que a mulher está segura, porque segura um galho, e o pai está se afogando. Então, o filho socorreu quem estava em maior perigo. Mas o olhar de angústia da mulher implora por ajuda.
Pode-se enaltecer a mulher que, também no quadro, é a geradora da vida, tem o fruto da vida em suas mãos e coloca o filho acima de si própria.
Machistas podem ver o quadro como a solidariedade entre os homens, que se protegem e se salvam primeiro.
Os cavalheiros verão o quadro como falta de cortesia e de cavalheirismo do homem para com as mulheres. Afinal, há o velho provérbio “mulheres e crianças primeiro”.
Enfim, este é o efeito da obra de arte: ser apreciada exaustivamente para ser mais bem interpretada e compreendida.
A obra de arte atrai pela beleza, pela criatividade do autor e pelos sentimentos que ela inspira. Nao se cansa de admirá-la; ela está sempre a revelar detalhes e novas interpretações.
Que sentimentos e que interpretações O Grande Dilúvio inspira em você?
E se fosse uma mulher no lugar do homem a salvar as pessoas?
E se fosse você a salvar os demais?
1 comentário
Apego ao passado e à sabedoria que o homem velho inspira. “Sempre há tempo para o presente e o futuro”. Mas o passado está submergindo e ele tenta desesperadamente salvá-lo, esquecendo presente e futuro.