Permanecer em relacionamento duradouro pode ser um dos testes mais difíceis de encarar. Algo a que muitas pessoas aspiram – o ideal romântico de ter alguém ao seu lado pelos inúmeros altos e baixos da vida. Mas sejamos honestos, longas parcerias não são nenhum mar de rosas. Quando a paixão acaba, precisamos lidar com o que sobra: os desafios capazes de transformar até a mais tranquila das uniões em um campo minado emocional.
Então, como algumas pessoas conseguem?
“Até que a morte os separe”, escreveu Moisés no Antigo Testamento. Eles não tinham problema em dizer isso porque não viviam tanto naquela época. A idade média do primeiro casamento nos dias de hoje acontece na faixa dos vinte anos de idade. Supondo que, graças aos avanços da medicina moderna, este casal viva até os oitenta e aspire com muito boa vontade ao compromisso para toda a vida, isso colocaria a duração do casamento perto da faixa dos sessenta anos — muito mais longo do que os relacionamentos vivenciados pela maioria das pessoas na maior parte da história.
No mundo moderno, com maior expectativa de vida e a liberdade que temos de experimentar mais de um casamento, o que é realmente necessário para um casal coexistir debaixo do mesmo teto? Não existe fórmula mágica, mas considero alguns fatores como essenciais para que a relação sobreviva.
Na prática do dia-a-dia
Conviver não é tarefa fácil. Para casais que moravam sozinhos antes de juntar as escovas de dente – o meu caso – e tinham suas próprias regras, chegar a um acordo de como vai funcionar a rotina da casa é primordial. Desde as tarefas mais simples como descer o lixo; levar o cachorro para passear; lavar louça do jantar ou deixar na pia; concordar com a TV ligada no quarto até mais tarde; precisamos passar por um rigoroso processo de adaptação. Pode parecer detalhe, mas para muitos relacionamentos, é o suficiente para derrubá-los.
Compartilhamento de valores
Sem eles, a vida em conjunto pode se degradar e o atrito se tornar inevitável. A comunicação, a resolução de conflitos e a tomada de decisões são muito mais objetivas quando a moral e os princípios do casal se alinham. Meu marido e eu somos pessoas muito diferentes, mas temos valores comuns e compartilhamos de visões de mundo semelhantes. E felizmente, descobrimos isso bem cedo.
Assumir um compromisso
A arte de se comprometer deve ser exercitada todos os dias. Podemos pertencer a culturas diferentes, gerações diferentes ou sermos até mesmo o mais diferente possível um do outro. Não existe futuro numa relação se não houver comprometimento com ela. Decidir o que não é negociável e onde há espaço para concessões é importante. Em se tratando de assuntos triviais, é provável que haja lugar para que ambos possam se encontrar no meio termo. Atravessar juntos os perrengues da vida com a certeza que a outra pessoa estará, por livre escolha, firme ao seu lado, traz muita segurança.
Rir é sempre o melhor remédio
Não perca o senso de humor. Tentar rir das pequenas irritações diárias pode transformar uma potencial guerra doméstica em momento de cumplicidade. Pequenos incômodos podem ser habilmente tratados com leveza. Quando a toalha molhada esquecida na cama te fizer perder a paciência, saiba que uma boa piada pode salvar o dia e falo por experiência própria. Pense na típica virginiana, que precisa enxergar a organização para não estressar. Esta sou eu.
Numa casa com dois homens e um cachorro, me vejo obrigada a fazer concessões o tempo todo, senão entro em depressão. Prefiro dar risada! É preciso ignorar com humor as inúmeras fontes inevitáveis de irritação que fazem parte de compartilhar uma vida com outra pessoa, com outro ser humano tal qual você, igualmente falho. É preciso descobrir uma forma de rir, não de brigar.
Mantenha a individualidade
Por mais que ame seu parceiro, não perca a própria individualidade, os próprios amigos, o próprio foco. Mantém a chama viva. Quando duas pessoas decidem viver juntas, é fácil se tornar complacente e esquecer as coisas que tornaram cada pessoa única e atraente em primeiro lugar. Incentivar os interesses individuais enriquece a relação. Afinal, duas pessoas completas são mais interessantes juntas do que duas metades tentando se encontrar.
Comunicação é tudo.
Dizem que a base de qualquer relacionamento é a comunicação. Não poderia concordar mais. Fale sobre seus sentimentos, compartilhe suas preocupações. Há um equívoco entre algumas pessoas de que amar significa se fundir com o outro. A falsa crença de que parceiros de longa data podem “ler a mente um do outro”.
Embora cada casal desenvolva sua própria linguagem e a própria maneira de se comunicar, isto não significa que possam adivinhar o que o outro está pensando. Até que você expresse em palavras o que sente, ninguém poderá saber ao certo o que está vivenciando. Casais com boa comunicação expressam os sentimentos de forma aberta e direta, sem medo de julgamentos, e por certo evitam rusgas desnecessárias.
Por fim…
Para sobreviver ao casamento ou a qualquer parceria a longo prazo, é fundamental que cada um se adapte ao que pode ser verdadeiramente obtido do outro. Só então um vínculo amoroso pode florescer ao longo do tempo. Estas conclusões não são particularmente inovadoras, mas são algumas das ferramentas que considero essenciais para manter viva uma relação.
Enquanto termino este artigo, meu marido prepara o jantar para celebrarmos o nosso 27º aniversário de casamento, já que este ano não deu para viajar por conta das reformas no apartamento!
Um brinde ao amor. Porque ele existe e se encontra disfarçado nos pequenos atos do cotidiano. E apesar dos vários desafios da vida, ele pode durar.
5 Comentários
Em frente a uma banca de jornais, surpreendi-me com a manchete de uma revista de fofocas que noticiava as bodas de sorvete (2 meses) de um casal.
O imediatismo e o descompromisso das pessoas atualmente fazem com que dois meses de relacionamento sejam comemorados, diferentemente de antigamente quando casais comemoravam bodas de ouro (50 anos) ou de diamante (60 anos). O amor se fazia presente e havia a preocupação de manter o relacionamento, apesar das intempéries.
Hoje, a menor desavença (o parceiro que aperta o dentifrício pelo meio e não pelo fundo) torna-se motivo para separação. Ou porque o casal se une sem estar preparado ou porque não há amor a unir os dois.
O artigo da Simone evidencia maturidade, interação com o marido e a felicidade de estarem juntos a comemorar 27 anos de casamento.
O casal inteligente, com valores e princípios iguais, ambos compreensivos e devotados um ao outro sem perderem a individualidade, ambos se amando e se admirando reciprocamente pela inteligência e pelas virtudes, ambos se apoiando em busca da evolução espiritual e psicológica – essas virtudes somente resultam em harmonia, solidariedade e amadurecimento. E comemorações, muitos motivos para comemorações.
Sou suspeito para falar de Simone e de Ronald, em razão do carinho e do afeto que me unem a eles.
Sem tê-los cumprimentado ontem, data da comemoração das bodas de crisopázio (27 anos) que representam fidelidade e harmonia, contaminado pela alegria e emoção de ler expressivo e sensível texto da Simone, manifesto a eles amizade e admiração por meio do Portal e formulo votos de que a harmonia e o amor permaneçam por toda a vida e a eternidade.
Cláudio Duarte
27 anos, não é pouca coisa. Parabéns! Em cada frase desse belo texto, vislumbro um pouquinho de de cada um de vocês
Excelente artigo, Simone! E parabéns pelo aniversário de casamento! Grande abraço!
Eu teria tanto a dizer, Si, mas viu parabenizar a você e seu marido. Parabéns pela vida e pela rota. A ambos. Casamento é a união dos diferentes que se complementam. É a inteligência com humor, é a solidariedade com dignidade. É a altivez com humildade. É um querer bem com garantias de reciprocidade.
E chega…
Si, sábias reflexões!! Somos seres únicos; sendo assim, todo relacionamento tem suas particularidades e adaptações. Respeito, empatia, leveza, comunicação, paciência, comprometimento: palavras que devem sempre estar em nossa mente!
Desejo muitos outros bons anos de casamento para vocês!