Estratégia é uma daquelas palavras mágicas que são usadas em quase todas as situações e causam uma impressão de inteligência sofisticada e profundo conhecimento objetivo do problema em questão. Quem nunca ouviu falar de estratégia militar, estratégia eleitoral, marketing estratégico, posicionamento estratégico, estratégia de preços, estratégia de crescimento ou ESG estratégico e não ficou com a sensação de se deparar com algo profundo e incompreensível, fruto de mentes superiores, que estava em ação determinando o resultado dos negócios em questão?
Para muitas pessoas nos mundos corporativo, educacional e político, a palavra “estratégia” virou um tique verbal. Neste sentido, ela se transformou em sinônimo de sucesso e de ambição, e o problema é que esta confusão conceitual é responsável por parte das decisões de baixa eficácia que são tomadas mundo afora. Sucesso depende da capacidade de resolução de problemas e criatividade do gestor, enquanto que ambição é a vontade de vencer ou realizar tarefas com excelência. Em adição, inovação é a descoberta e a engenharia de novas maneiras de fazer algo. Liderança motivacional encoraja as pessoas a fazerem alguns sacrifícios em benefício próprio e da organização à qual pertencem. Não há ganho na qualidade das decisões ao se confundir estratégia com sucesso ou ambição e determinação, ou ainda com inovação ou liderança, pois uma palavra que tem inúmeros significados acaba por não ter significado algum. Estratégia é o plano de ação que responde a estas qualidades, selecionando o caminho de ação e identificando o como, o porquê e onde a liderança e a determinação devem ser aplicadas.
Estratégia, para ter um significado específico, deve ser entendida como uma resposta coerente a algum desafio relevante. Estratégia é, então, um conjunto coerente de análises, conceitos, políticas, argumentos e ações que respondem a desafios ou situações de alto potencial de ganhos ou perdas para o empreendimento.
Embora a teoria dos jogos, que é a parte analítica e teórica de estratégia, seja altamente sofisticada em termos matemáticos e econômicos, suas aplicações básicas e fundamentais são bastante simples. Teoria dos jogos tem sido uma fonte importante de ideias para tomada de decisões estratégicas no direito, na economia, na política e também para o melhoramento de nossas vidas pessoais. A grande vantagem de conhecer um pouco de teoria dos jogos é permitir entender melhor, na nossa prática profissional ou pessoal, como alcançar nossos objetivos de forma mais fácil e menos custosa a partir de uma abordagem coerente, como o conceito de estratégia descrito aqui. A criação de reputação profissional ou pessoal é um exemplo de comportamento estratégico, pois parte de um conjunto coerente que envolve a identificação de objetivos, da situação a ser enfrentada, das linhas de atuação possíveis, das reações prováveis de outras partes e da seleção dos principais caminhos a serem seguidos. Fundamentalmente, a criação de reputação envolve a escolha de não se engajar em certas ações possíveis (como trapaça, por exemplo) de forma sistemática e crível. Uma pessoa ou organização que, por suas ações desenvolve a reputação de honesta e confiável, abdica dos ganhos de curto prazo que as trapaças do dia a dia podem trazer e consequentemente pode alcançar os maiores ganhos criados por relações de longo prazo – estabilidade do casamento na vida pessoal e criação de branding (ou gestão de marca) por parte de empresas, está se engajando em comportamento estratégico para realização dos objetivos estabelecidos.
Existe uma diferença fundamental entre o que é uma boa estratégia e uma má estratégia, o que torna importante então saber como construir boas estratégias. Uma boa estratégia começa com seu núcleo, que é sua estrutura lógica e que contém três elementos: um diagnóstico, um guia de política e ações coerentes. O guia de política especifica a abordagem a ser usada para lidar com os obstáculos identificados no diagnóstico e serve como o roteiro de uma viagem, que mostra os caminhos a serem seguidos sem definir seus detalhes. Ações coerentes são ações coordenadas e factíveis de política com comprometimento de recursos e são desenhadas para levar a termo o guia de política.
Por outro lado, uma má estratégia é mais do que a ausência de uma boa estratégia, ela tem sua lógica própria e vive em cima de falsas fundações. Uma má estratégia pode começar quando as lideranças evitam analisar os obstáculos presentes, pois acreditam que ao fazê-lo pensamentos negativos podem predominar. Este é o efeito cavalo morto na mesa de negociações, que todas as partes ignoram por acreditar que mencioná-lo é um tabu. Uma má estratégia pode ter início também quando as lideranças acreditam erroneamente que estratégia é um exercício de estabelecimento de objetivos e metas em vez de um exercício de resolução de problemas. Ou ainda quando as lideranças se recusam a discutir escolhas difíceis para evitar ofender alguma parte envolvida. A má estratégia busca esconder as fundações do desafio enfrentado, em vez de focar nos recursos e ações.
Finalmente, a má notícia no mundo corporativo é que muito daquilo que lideranças empresariais chamam de estratégia é apenas má estratégia, baseada em falsas premissas que evitam a articulação lógica de um bom diagnóstico com uma direção de políticas e ações coerentes. Assim sendo, o que se chama de estratégia não é nada mais do que uma lista de desejos e de metas a serem alcançadas, que estão longe de melhorar a qualidade das decisões na empresa. A boa notícia para todos é que não é difícil desenhar boas estratégias para o seu empreendimento ou mesmo para a sua própria vida, mas para tal é necessário lidar com os desafios a serem superados de forma estruturada e coerente, ou seja, de forma verdadeiramente estratégica.
1 comentário
👏👏👏👏👏