Perdoemos Judas Iscariotes. Antes de me julgarem herege ou inimigo de Cristo, vejam os motivos que me fazem propor o perdão a Judas Iscariotes.
Há 2 mil anos, o nome Judas tornou-se sinônimo de traidor. No domingo de Páscoa, celebra-se a ressurreição de Cristo ao mesmo tempo que há a festa de malhação de Judas, em que se queima um boneco de palha como que a “malhar o Judas” e vingar a morte de Cristo. Tentemos pensar em Judas de maneira diferente.
Vamos aos Evangelhos.
JESUS SABIA DA SUA PAIXÃO E MORTE
Em João, 13, 18, Cristo diz que “eu conheço os que escolhi”. Então, Cristo conhecia Judas ao escolhê-lo e se sabia que Judas o trairia, por que não o afastou do grupo dos Apóstolos? E mais. Se sabia que Judas o trairia e depois se enforcaria, por que Cristo o manteve como apóstolo?
Acreditar que Cristo manteve Judas dentre os 12 sabendo o que viria a acontecer é acreditar que teria faltado bondade em Cristo, que nada fez para impedir a traição e o subsequente suicídio de Judas. Esse pensamento é absolutamente inadmissível e incmpatível com a Divindade de Cristo.
Pode-se até argumentar que Jesus deixou Judas livre para seguir o caminho que ele, Judas, bem entendesse, dentro de seu livre arbítrio.
Jesus sabia que deveria sofrer a paixão e a crucificação. Há pelo menos seis passagens nos Evangelhos em que Cristo prevê a sua paixão e morte: 2 em Mateus (Cap. 16 e 17); 3 em Marcos (Cap. 8, 9 e 10) e 1 em Lucas (Cap. 9).
A morte injusta e violenta de Cristo fora prevista pelos profetas e o próprio Cristo disse que “é preciso que se cumpra em mim este texto da Escritura ‘Eles o contaram entre os criminosos’” (Lucas, 32; 37).
No Getsêmani, quando Pedro reagiu contra a prisão de Cristo e cortou a orelha de Malco, servo do sumo sacerdote, Jesus o repreendeu dizendo: “Torna a pôr tua espada na bainha! A taça que meu Pai me deu, eu não a beberia?” (João, 18, 11).
O SINÉDRIO
A intenção dos sacerdotes do Sinédrio era matar Cristo e o matariam mais cedo ou mais tarde. A decisão fora tomada depois que Cristo ressuscitou Lázaro e expulsou os vendilhões do templo.
O sumo sacerdote Caifás havia dito que era “preferível morrer um homem a perecer um país” (João, 18, 14). Mas o sinédrio não queria prender Cristo no meio da multidão, pois temia levante popular. Jerusalém estava cheia de gente para comemorar a Páscoa e Jesus havia entrado gloriosamente na cidade no domingo anterior (Domingo de Ramos).
Verdade que Judas facilitou a prisão de Cristo ao indicar aos sacerdotes onde Jesus se encontrava após a ceia com os Apóstolos e conduzir a guarda dos sacerdotes até o local para identificar Jesus.
VERSÕES SOBRE A TRAIÇÃO DE JUDAS
Circulam diferentes versões e opiniões sobre a atitude de Judas Iscariotes. Ele foi traidor miserável. Ele entregou Cristo esperando a revolta popular dos judeus para expulsar os romanos. Judas esperava que Cristo reagisse e se revelasse o grande líder para expulsar os romanos e libertar Israel. Judas encarnou com a missão de trair Jesus. Judas exerceu o livre arbítrio. Judas foi um ignorante que não entendeu a mensagem espiritual de Cristo.
Há também quem acredite que Judas cumpriu a tarefa, dada por Cristo, de entregá-lo aos sacerdotes. Neste caso, ao dizer a Judas “o que tens a fazer faze-o depressa” (João, 13, 27) Jesus estaria incentivando Judas o fazer o que precisava ser feito, pois Judas estava indeciso e inseguro. Neste caso, Cristo manteve Judas como apóstolo porque sabia da importância da missão de Judas.
Se, de fato, cumpriu a difícil missão dada por Cristo e, arrependido, suicidou-se, Judas terá cometido o erro de suicidar-se. Ele teria muito a ensinar sobre arrependimento e sobre a visão diferente que ele passou a ter de Cristo depois da sua (de Cristo) paixão e morte. Mas o peso do remorso foi demasiado para ele, mesmo que, ao entregar o Mestre, ele tenha seguido as orientações de Jesus.
Ainda que Judas tenha sido o infame traidor, o ignorante que não entendeu a mensagem de Cristo, aquele que o entregou, quem somos nós para condená-lo? Para nos divertirmos com a queima do Judas?
PERDÃO
Ao nos deliciarmos com a malhação do Judas, também demonstramos que não compreendemos as palavras “amor” e “perdão” pregadas por Cristo.
Pensemos em Judas com tolerância e compreensão. Como alguém que pode ter cometido tremendo erro, mas que, como espírito, sofre do outro lado ao receber as energias negativas de vingança, ódio e incompreensão.
Façamos preces por Judas Iscariotes, para que sua alma que, há 2 mil anos, é atormentada pela “malhação do Judas”, receba gotas de alívio e de conforto.
Assim agindo, seremos os verdadeiros seguidores do Cristo do amor e do perdão.
Cláudio Duarte.
Colunista e colaborador do PortaliMulher.
3 Comentários
Didatico… Coerente…👏👏👏👏👏
Excelente abordagem do assunto
Assunto tão antigo e que permanece vivo pela ignorância e arrogância da humanidade.
Parabéns pelo belissimo texto!