O artigo sobre o Dia Internacional da Mulher, publicado no dia 8 de março, antecipou que o Portal iMulher trará durante o mês de março reportagens sobre mulheres cujas histórias, contribuições e coragem merecem ser destacadas.
A matéria de hoje falará sobre Ruth Ellis, símbolo da luta contra a pena de morte na Grã-Bretanha.
Quem foi Ruth Ellis
Ruth Ellis (1926 – 1955) nasceu em Rhyl, Denbighshire, País de Gales, e foi a quinta de seis filhos de Arthur Hornby e Elisaberta (Bertha) Goethals. A vida de Ruth foi muito difícil.
Arthur abusava de suas filhas e também abusou de Ruth quando ela tinha 11 anos de idade. Apesar de Bertha ter conhecimento dos abusos, nunca o denunciou por medo.
Em 1944, quando tinha 17 anos, Ruth engravidou de Clare Andrea McCallum, soldado canadense casado. O filho foi morar com a avó Bertha e Ruth o sustentava, pois McCallum não enviava dinheiro. Ela trabalhava em fábricas e empregos administrativos.
No final da década de 1940, Ruth se tornou anfitriã de boate, pelo que recebia bem mais que nos empregos anteriores. De recepcionista de boate à prostituição foi um passo.
Em 1950, Ruth se casou com George Johnston Ellis, cliente regular do Court Club, do qual ela era recepcionista. George era alcoólatra violento e possessivo. Ela teve uma filha com George em 1951 e logo se divorciaram. Ruth retornou para a residência dos pais com a filha e novamente voltou à prostituição.
Em 1953, Ruth era gerente da boate Little Club e conheceu David Blakely, piloto de corrida também alcoólatra, com quem teve relacionamento amoroso.
Como Blakely era noivo e não desfez o compromisso, Ruth passou a relacionar-se com Desmond Cussen, mas nunca deixou de encontrar-se com Blakely. O relacionamento de Ruth com Blakeley era violento e doentio. Em 1955, ela abortou depois que Blakely a socou no estômago.
Cansada dos abusos e da violência de Blakely, Ruth o matou com 5 tiros de revólver no Domingo de Páscoa de 1955. Ela não fugiu depois do assassinato e foi presa junto do corpo de Blakely.
O julgamento de Ruth
Enquanto estava presa, vários médicos examinaram Ruth e nenhum exame constatou evidências de doença mental ou insanidade.

Quando compareceu ao julgamento em junho de 1955, o promotor lhe fez uma única pergunta: “Quando você disparou o revólver à queima-roupa no corpo de David Blakely, o que você pretendia fazer?“, ao que ela respondeu com firmeza: “É óbvio que pretendia matá-lo quando atirei nele”.
A resposta assegurou o veredito de culpada e a condenação à morte. O júri demorou apenas 20 minutos para julgá-la.
Recursos contra a sentença
Os ingleses promoveram campanha em favor do indulto de Ruth. Além de não ter participado das campanhas, ela disse à mãe que não queria petição para indultá-la. Populares chegaram a encaminhar petição ao Ministro do Interior pedindo clemência para Ruth.
Os parentes de Ruth pediram ao advogado dela que enviasse carta ao Secretário do Interior, Gwilym Lloyd George, solicitando indulto. George negou o pedido.
Ruth Ellis foi enforcada no dia 13 de julho de 1955.
Consequências familiares
George Ellis, ex-marido de Ruth, cometeu suicídio por enforcamento em 1958.
Em 1969, a mãe de Ellis, Bertha Neilson, foi encontrada inconsciente em um quarto cheio de gás em seu apartamento; ela nunca se recuperou totalmente depois da morte da filha.
O filho de Ruth, Andy, que tinha 10 anos na época da execução da mãe, suicidou-se em 1982.

O juiz de primeira instância, Sir Cecil Havers, enviava dinheiro todos os anos para a manutenção de Andy, filha de Ruth. Christmas Humphreys, advogado de acusação no julgamento de Ruth, pagou seu funeral.
Sua filha Georgina, que tinha 3 anos quando sua mãe foi executada, foi adotada quando seu pai se matou e morreu de câncer em 2001, aos 50 anos.
Controvérsias
O caso de Ruth causou intensa controvérsia na época.
No dia da execução, a colunista Cassandra, do jornal Daily Mirror, escreveu que “a única coisa que traz estatura e dignidade à humanidade e nos eleva acima dos animais foi negada a Ruth – a piedade e a esperança da redenção final“.
O romancista Raymond Chandler, que morava na Grã-Bretanha, escreveu carta ao jornal Evening Standard, referindo-se ao que ele chamou de “a selvageria medieval da lei“.
A comoção causada pelo enforcamento de Ruth Ellis fez com que ela fosse a última mulher a ser executada na Grã-Bretanha. Sua execução ajudou a fortalecer o apoio à abolição da pena de morte na Grã-Bretanha, que foi abolida dez anos depois.
Curiosidade
O revólver que Ruth usou para assassinar Blakely e a corda com que ela foi enforcada encontram-se no Museu do Crime da Polícia Metropolitana de Londres.
2 Comentários
A pena capital sempre gerará controversia.
A pena capital sempre gerará controvérsia, particularmente a imputada a essa mulher,
cuja vida foi um verdadeiro dramalhão.