O Instituto Butantã, de São Paulo, e a Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, estão desenvolvendo um imunizante para combater a dengue no país, que consiste na inseminação da bactéria wolbachia no Aedes Aegypti, transmissor da dengue, da chikungunya e da zica.
A wolbachia está presente em mais da metade dos insetos, mas não é encontrada naturalmente no Aedes Aegypti. Ao ser inseminada no mosquito, a bactéria impede a entrada ou o desenvolvimento do vírus da dengue nele, o que poderá contribuir para reduzir a transmissão dessas doenças. A wolbachia não é transmissível para humanos nem para outros mamíferos e é inofensiva para o ser humano.
O processo consiste na criação do Aedes Aegypti modificado por meio de microinjeções para carregarem a bactéria. Liberados no ambiente, os mosquitos modificados transmitem a bactéria à medida que se reproduzem. Menor número de mosquitos infectados com o vírus significará menor número de pessoas contaminadas.
A técnica, desenvolvida na Austrália, foi introduzida em países da Ásia, Oceania e América. Estudo publicado no New England Journal os Medicine constatou a redução de 77% dos casos de dengue e de 86% de hospitalizações em decorrência da dengue na Indonésia apenas dois anos após a liberação na Natureza de mosquitos modificados.
Os primeiros mosquitos com a wolbachia foram liberados no Rio de Janeiro, em Campo Grande (Mato grosso do Sul), Belo Horizonte e Niterói.
Contudo, o processo é lento. A previsão é que o programa atinja 70% das cidades com maior incidência da dengue em quatro anos.
Os primeiros mosquitos modificados foram liberados em Campo Grande em dezembro de 2020. O processo incluiu seis fases, que se completaram em dezembro de 2023. Primeiro faz-se a liberação em um bairro, faz-se o acompanhamento e o monitoramento da doença e da difusão do mosquito. São necessários dois anos para que se obtenham indicadores seguros.
Em Belo Horizonte, onde há grande incidência da dengue neste início de ano, os mosquitos foram liberados em poucos bairros e o processo encontra-se na fase inicial.
A Fundação Oswaldo Cruz precisará de recursos para construir uma fábrica capaz de produzir mosquitos modificados em quantidade suficiente para espalhá-los pelo país.
A biofábrica deverá ser capaz de produzir 100 milhões de mosquitos por semana, equivalente a 5 bilhões por ano.
Ainda não se tem estimativa da quantidade necessária para cobrir todo o país.
Os cuidados com a dengue requerem urgência. Enquanto essas medidas não ficam prontas, o melhor a fazer é cada qual cuidar do lixo, da sua casa e de seus lotes a fim de evitar água parada onde o mosquito deposita seus ovos para a reprodução.