A fábula hindu ensina que devemos conhecer a Verdade como um todo e que não devemos considerar parte da verdade como a Verdade completa.
O folclore hindu conta a lenda de sete sábios cegos que viviam numa cidade. Todas as pessoas os consultavam porque sempre tinham palavras de sabedoria e de conforto.
Ainda que amigos, havia rivalidade entre eles e frequentemente discutiam sobre qual seria o mais sábio dentre eles. Embora sábios, deixavam-se dominar pela vaidade.
Certo dia, depois de muita discussão acerca da verdade da vida e não chegarem a um acordo pois nenhum deles queria dar razão ao outro, o sétimo sábio ficou tão aborrecido com as discussões infrutíferas que decidiu abandonar o grupo e ir morar sozinho numa montanha.
Ao despedir-se dos amigos, disse-lhes:
– Somos cegos para que possamos ouvir e compreender as pessoas e para que possamos meditar por mais tempo sobre a verdade da vida. Vocês ficam discutindo tolamente e competindo entre vocês sobre quem é o melhor. Vou-me embora.
O sétimo sábio afastou-se do grupo.
No dia seguinte, chegou à cidade dos sábios um comerciante montado num elefante. Os cegos nunca haviam tocado num elefante e correram para a praça a fim de tocá-lo.
O comerciante permitiu que os sábios se aproximassem do elefante e o tocassem para que pudessem ter a percepção de como era o animal.
O primeiro sábio apalpou a barriga do animal e disse:
– Trata-se de um ser gigantesco e muito forte! Toco os seus músculos e o animal não se move. Parece uma parede muito resistente.
O segundo sábio, que tocou na presa do elefante, disse:
– Bobagem! Este animal é pontudo como uma lança de guerra.
O terceiro sábio apertou a tromba do elefante e deu seu testemunho:
– Ambos se enganam. Este animal é idêntico a uma serpente! Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma cobra mansa e macia.
O quinto sábio, que mexia nas orelhas do elefante, discordou dos demais: – Vocês estão totalmente alucinados! Este animal não se parece com nenhum outro. Movimenta-se em ondas, como se seu corpo fosse uma cortina.
O sexto sábio, que tocou a pequena cauda do elefante, afirmou categoricamente:
– Todos vocês estão completamente errados! Este animal é como uma rocha com uma cordinha presa no corpo. Posso até me pendurar na cordinha presa ao corpo dele ou até tentar arrastá-lo por ela.
Os seis sábios debateram durante horas sobre como seria o elefante, cada qual apegado à própria opinião e sem apalpar outra parte do animal.
Até que o sétimo sábio cego, que havia deixado o grupo, chegou à praça conduzido por uma criança. Ouviu a discussão acalorada e pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do elefante.
O sétimo sábio segurou a mão do menino, que lhe explicava o que desenhava. Quando tateou os contornos do desenho, percebeu que os demais sábios cegos estavam certos e enganados ao mesmo tempo.
Ele agradeceu ao menino e afirmou:
– Assim os homens se comportam diante da Verdade. Pegam apenas uma parte dela, pensam que é o todo e continuam tolos!