Grave ofensa é chamar alguém de “burro”, o que significa que esse alguém é curto de inteligência, bronco, imbecil, idiota.
A má fama do burro – bicho teimoso, de comportamento difícil, bobo, idiotizado e ignorante – vem da Grécia Antiga, segundo o Professor de Letras da USP Oswaldo Humberto Leonardi Ceschin.
Esopo (620 a.C. – 564 a.C.), escritor da Grécia Antiga, foi autor de fábulas populares – pequenas histórias com ensinamento moral, cujos personagens eram animais com características e poderes humanos.
Os animais personagens das fábulas de Esopo conversam, cometem erros, são tolos ou sábios, são bons ou maus. O autor mostrou, por meio dos animais, como os seres humanos agem e extraiu ensinamentos das condutas dos animais.
Esopo narra fábulas tendo o burro como personagem carregador de cargas, nas quais expõe a pouca inteligência do animal.
Numa delas, um burro, que atravessava um rio carregando sal, escorregou e caiu na água. Em contato com a água, o sal derreteu-se e a carga tornou-se mais leve.
O burro ficou feliz e aprendeu a lição. Pelo menos assim pensou.
De outra feita, o burro passou perto do rio carregando esponjas. Lembrou-se do que aconteceu com o sal e atirou-se na água, acreditando que também aquela carga se tornaria mais leve e o peso nas costas seria aliviado. A esponja encharcou, a carga ficou pesada, o burro não conseguiu levantar-se e morreu afogado.
Outra fábula de Esopo interessante é a do burro e a cobra. Júpiter, o rei dos deuses, concedeu aos homens a eterna juventude em recompensa por bons serviços prestados. Júpiter colocou a juventude no lombo de um burro e mandou-o levar para os homens.
No meio do caminho, o burro sedento aproximou-se de um riacho para beber água. Nas margens do riacho estava uma cobra, que disse ao burro que somente o autorizaria a beber água se ele lhe desse o que levava nas costas.
Com sede e sem saber o que carregava nas costas, o burro deu à cobra a juventude em troca de beber água. Por isso, as cobras ficaram com o privilégio de se renovar a cada ano e trocar as escamas, ao passo que os seres humanos envelhecem permanentemente.
Outro ensinamento desta fábula é que se deve ser precavido e bem informado, nunca oferecendo a terceiros aquilo que não se conhece e cujo valor também é ignorado.
As duas fábulas são suficientes para demonstrar a pouca inteligência do burro e que sua má fama – de idiota, imbecil e dotado de pouca ou nenhuma inteligência – vem desde o Século V a.C., isto é, há mais de 2.500 anos.
3 Comentários
Desconhecia. Hoje a reversão da fábula seria bem proveitosa aos animais, dado o número de humanos distribuindo o que têm por desconhecerem os seus valores.
Na verdade o animal burro não é burro! Sua burrice é apenas teimosia que é confundida com seu atributo mais característico. Quem lidou com eles sabe dessa diferença. 😁
Mais um texto abrilhantando o Portal! Parabéns!!!