A expressão “amigo da onça” teve origem numa piada muito comum lá pelos idos de 1940.
Lembrar que o humor da época era diferente, menos malicioso e mais simples.
Dois caçadores conversam no acampamento:
— O que você faria se estivesse agora na selva e uma onça aparecesse na sua frente?
— Ora, dava um tiro nela.
— Mas se você não tivesse nenhuma arma de fogo?
— Bom, então eu matava ela com meu facão.
— E se você estivesse sem o facão?
— Apanhava um pedaço de pau.
— E se não tivesse nenhum pedaço de pau?
— Subiria na árvore mais próxima!
— E se não tivesse nenhuma árvore?
— Sairia correndo.
— E se você estivesse paralisado pelo medo?
Então, o outro, já irritado, retruca:
— Mas, afinal, você é meu amigo ou amigo da onça?!
Veio daí o significado para a expressão “amigo da onça”: o traiçoeiro; o falso; o desleal; o hipócrita; que se finge de amigo e, na verdade, está prejudicando-o; que favorece o contrário ou adversário; e que coloca o amigo em situação difícil.
“O Cruzeiro”, revista de grande circulação nacional, contratou o cartunista e desenhista Péricles de Andrade Maranhão (1924 – 1961) para criar o personagem “amigo da onça”. De 1943 a 1961, Péricles publicava semanalmente as piadas do “amigo da onça” na revista.
Sempre alinhado, de cabelo engomado, calças pretas, paletó branco e gravata-borboleta, rosto oval e olhar malicioso, o “amigo da onça” fez sucesso.
Alguns leitores compravam a revista apenas para ver a piada do amigo da onça.
Inicialmente, “O Cruzeiro” publicava “o amigo da onça” na última página, mas percebeu que muita gente via a última página e não comprava a revista. Decidiu inserir o cartoom no meio da revista, em páginas alternadas, como forma de obrigar as pessoas a comprarem a revista.
Era comum as páginas de “o amigo da onça” serem retiradas da revista e fixadas em barbearias, bares e açougues.
Depois do falecimento de Péricles, o cartunista Carlos Estêvão desenhou o personagem até 1972.
O personagem malandro e traiçoeiro, criado por Péricles e publicado na revista “O Cruzeiro”, ajudou a expressão a se firmar como sinônimo de falso amigo.
“Amigo da onça” tornou-se o nome de uma brincadeira similar ao “Amigo Secreto”, mas em vez de dar presentes, os participantes compram algo para tentar chatear o amigo sorteado: presente do time adversário, brinde de algum político detestado pelo presenteado e outros semelhantes.