A Ernst & Young é uma das 4 maiores empresas de consultoria dos Estados Unidos e tem mais de 300 mil funcionários.
As empresas de auditoria nos Estados Unidos são levadas muito a sério; são vistas como referência em ética porque precisam ter credibilidade ao apontar falhas em balanços das demais empresas. O mundo das finanças investe ou deixa de investir em determinada empresa com base nos relatórios de auditoria. Isto porque as consultorias e auditorias são responsáveis por verificar as contas das empresas e, em seus relatórios, apontar balanços duvidosos, inconformidades ou práticas contábeis duvidosas.
Elas ainda apontam se a empresa auditada forneceu informações inconsistentes ou incompletas, se omitiu dados ou se violou regras contábeis para maquiar o balanço.
A saúde da economia depende, em grande parte, da atuação das empresas de auditoria. Por essa razão, exigem-se dela total isenção na análise dos balanços, funcionários independentes e testes regulares de ética, que os funcionários respondem regularmente.
Pois bem. Funcionários da Ernst & Young (EY) burlaram os testes de ética que eram obrigados a fazer para requerer ou manter a licença profissional de auditor. Como fez vista grossa à prática de seus funcionários, em 2022 a EY foi condenada a pagar multa de US$100 milhões, maior multa já aplicada pela Secutities and Exchange Comission (SEC), a xerife do mercado de capitais dos Estados Unidos.
A SEC não admitiu que os profissionais, responsáveis por analisar os balanços e encontrar informações duvidosas das empresas, tenham eles mesmos exercido a profissão por meio de fraude de exames de ética. O auditor, que não tem ética, não terá credibilidade para apontar falhas de terceiros. Os auditores também devem ser auditados.
A EY admitiu que falhou na verificação da conduta de seus empregados e ao não constatar a fraude. Concordou em pagar a multa. Vão-se os anéis, e ficam os dedos. Daqui pra frente, naturalmente aumentará a vigilância interna de sua equipe.
As empresas de auditoria dos Estados Unidos são responsáveis por monitorar as contas e os balanços das maiores empresas do mundo. Os auditores têm que ter independência para que possam bem cumprir suas atribuições. Não podem ter vínculos, não se podem deixar influenciar por lobbies e não podem ter comprometimento ou envolvimento de qualquer espécie com as demais empresas.
Muito fácil exigir ética de terceiros quando não se tem ética. Muito fácil acusar terceiros de fraude, e o acusador ser um fraudador.
Ao fraudarem os exames, os auditores da EY deixaram de cumprir obrigações referentes a seus deveres profissionais e deixaram de cumprir normas de conduta para que pudessem desempenhar as atividades de auditor. Como não cumpriram as normas que deveriam cumprir, não estavam aptos a exigir que outros cumprissem as suas normas e nem estavam aptos a apontar falhas de terceiros.
O Brasil precisa evoluir para chegar a este estágio. Afinal, é mais fácil atuar em local onde todos atuam com honestidade e ética.