Javier Milei, presidente eleito da Argentina, ao longo da campanha construiu imagem bem diferente do político tradicional, que aparece de terno, gravata e com ares de seriedade, muitas vezes de superioridade. Em 2018, a presidência da República do Brasil divulgou foto do então presidente Michel Temer bastante formal, de terno e gravata, assistindo a jogos de futebol do Brasil na Copa do Mundo.
Milei precisava descolar-se da imagem dos políticos convencionais para poder criticá-los e acusá-los, como acusou, de estarem levando a Argentina para o caos, de ocuparem e distribuírem cargos públicos indiscriminadamente e de servirem da máquina pública.
O candidato apresentava-se com os cabelos desarrumados, costeletas (parecendo inspiradas em Elvis Presley) e normalmente trajando casaco preto de couro, que ele usava desde o tempo que era cantor de banda de rock inspirada nos Rolling Stones. Imagem bem diferente de Alberto Fernández, com o bigode sempre bem cuidado e cabelos alinhados, e de Cristina Kirchner, sempre abarrotada (ou borrada) de maquiagem.
O símbolo de Milei na campanha foi um leão, como que a refletir sua juba desgrenhada.
Nas entrevistas, o candidato mostrava-se politicamente incorreto, com a fala recheada de palavrões e demonstrando temperamento explosivo. Com essa imagem, transmitia proximidade com a população, confiança e sinceridade. Ele fugiu completamente à figura do político tradicional, a quem atacou ferozmente durante a campanha.
Em comícios, Milei apareceu com motosserra, com a qual, segundo ele, iria cortar privilégios de políticos e cargos públicos ocupados por apaniguados dos governantes de plantão.
O fato é que, ao apresentar-se diferente, Milei representou a figura pela qual os argentinos ansiavam, pois não queriam mais do mesmo.
Este o marketing do candidato durante a campanha eleitoral e com o qual foi eleito com 55% dos votos válidos.
Evidentemente, ao ocupar o cargo de presidente da República da Argentina, Milei deverá moderar o comportamento para agir com mais equilíbrio e moderação de acordo com a “liturgia do cargo”, expressão usada por ex-presidente da República brasileiro.
Não poderá, contudo, perder completamente as características da imagem que usou para construir o marketing do candidato e muito menos deixar de agir conforme prometeu, sob pena de ser acusado de “propaganda enganosa” e, pior, sob pena de perder credibilidade e a confiança dos argentinos que esperam muito dele.
Não me parece que os argentinos sejam tão tolerantes com mentira e enganação como outros povos, ainda mais que a situação da Argentina é bem mais complexa e exige medidas drásticas para sanear o país.
Cláudio Duarte.
Colunista e colaborador do PORTALIMULHER.