Por Danielle Fuchs
Toda carreira tem seus altos e baixos e, hoje, celebra-se uma das profissões mais desafiadas e desafiadoras da atualidade: o Jornalismo. Os jornalistas estão dentro de nossas casas todos os dias, seja pela TV, rádio, mídia impressa ou digital. Nenhum outro profissional participa tão ativamente de nosso cotidiano, o que é ótimo sob o ponto de vista do Estado Democrático de Direito, porque isso significa que priorizamos o acesso à informação, a liberdade de expressão e o debate de ideias.
Apesar da importância dessa relação intrínseca entre profissionais da mídia/imprensa e sociedade, o futuro da categoria está constantemente em cheque. Primeiro por utilizar como matéria-prima um produto altamente sensível (a informação) em um mundo marcado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade (Mundo VUCA); segundo por enfrentar com dificuldade a difusão de notícias pela internet e a queda do diploma.
Há mais de 10 anos os jornalistas vêm driblando a insegurança gerada pela decisão que derrubou a obrigatoriedade da formação acadêmica para o exercício do Jornalismo, enquanto reaprendem a trabalhar num modelo econômico não sustentável.
Paralelamente a isso, a grande mídia trava um verdadeiro embate com a sociedade ao entrar de cabeça na polarização política em vigor no País. Qual é o resultado desse cenário complexo? Muitas análises são possíveis, mas vamos começar pelo descrédito da categoria.
A disseminação de Fake News somada a parcialidade da grande mídia fez eclodir um movimento de ódio contra os jornalistas. Há Ombudsman para todos os lados avaliando e atacando o trabalho da classe a todo instante, o que muitas vezes resulta em violência. Houve um aumento de 222% entre 2019 e 2020, dos ataques aos profissionais da imprensa, o que tende a crescer, uma vez que estamos em ano eleitoral e as pautas de cobertura jornalística mais associadas aos ataques costumam ser ligadas à política e eleições, seguidas por checagem de notícias e questões relacionadas a gênero, direitos humanos e políticas sociais.
Para o editor do ‘Aos Fatos’, Luís Felipe dos Santos, um dos grandes desafios do Jornalismo para 2022 é a desinformação. Mas, para ele, a desinformação e as estruturas de disseminação só existem porque há demanda, e não basta apenas combater à desinformação, tecnicamente falando, mas, sim, é preciso enfrentar todo um sistema de crenças arraigadas.
Maria Vitória Ramos, diretora da agência ‘Fiquem Sabendo’, aponta outro complicador para a classe: a falta de dados e informações confiáveis, o que segundo ela aumentou com o uso indevido da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Sociedade empoderada
Diante de tantos desafios, o fio que liga as pessoas ao mundo fica frágil, enfraquecendo o empoderamento da sociedade, uma vez que prejudica o acesso à informação isenta e de qualidade, coloca inocentes em risco e limita nossa habilidade de enfrentar crises.
Qual é a solução para esse entrave ao pensamento livre? Não existe uma resposta fácil. Nem mesmo os países recordistas mundiais da liberdade de imprensa, como Noruega, Finlândia ou Suécia, têm uma fórmula mágica. Até mesmo nos Estados Unidos da América – a terra da liberdade –, um juiz proibiu o The New York Times de veicular informações a respeito de uma organização acusada de fraude, o que configura censura. Afinal: a mídia deve ser regulada? Até que ponto? Quem decide isso?
No que diz respeito ao aspecto jurídico do exercício da profissão, é fundamental ressaltar que, segundo o Código de Ética dos Jornalistas, a informação noticiada pelo profissional dever ser correta e precisa, devendo ele divulgar fatos que sejam de interesse público, respeitando o direito à privacidade do cidadão. Análise do advogado Bruno Viudes Fiorilo mostra que, ao vislumbrar os direitos constitucionais da personalidade, dignidade da pessoa humana e direito a intimidade, nota-se que eles mesmos se confrontam com a liberdade de expressão assegurada à imprensa pelo nosso ordenamento jurídico.
A liberdade de imprensa está intimamente ligada com a liberdade de expressão, pois é através desse direito que várias opiniões e ideologias podem ser manifestadas e discutidas para a formação do pensamento. Após a revogação da Lei n.5.250, de 9 de Fevereiro de 1967 (Lei de Imprensa) criada no regime militar, os jornalistas e os meios de comunicação passaram a ser julgados com base nos artigos da Constituição Federal e dos Códigos Civil e Penal.
Isso nos leva a um paradoxo, concorda?
De minha parte, enquanto jornalista que sempre procurou exercer a profissão pautada pela ética e pelo respeito aos direitos individuais, fugindo do formato clichê e sensacionalista (dentro do possível), aproveitei a desconstrução do velho modelo de trabalho e os anos de experiência para aderir ao ciberjornalismo de qualidade.
E você, acredita neste modelo? Eu acredito e faço a minha parte, como prerrogativa que me cabe em um país livre. Por isso deixo aqui meus parabéns a cada jornalista ético, e não cético, que está fazendo o mesmo. E vamos, juntos, comemorar também o dia 3 de maio, quando são celebrados os princípios fundamentais da liberdade de imprensa.
Danielle Fuchs é jornalista, comanda a Fuchs Inteligência Digital e o Portal iMulher.
2 Comentários
Parabéns Dani, por exercer uma profissão tão valiosa para a sociedade. Sua integridade e compromisso com a verdade valorizam a profissão.
Sou reporter fotográfico a mais de 20 anos e entendo bem suas palavras. Mas vamos em frente e a luta sempre. Parabéns