Crônica de dar água na boca em mineiros e não mineiros.
Pensar em Minas evoca Tiradentes, S. Dumont, Guimarães Rosa, Juscelino, Pelé e …
Falar de Minas lembra minérios, diamantes e ouro, riquezas que se escondem em suas montanhas e rios.
Conversa sobre culinária mineira desperta sabor de queijo, pão de queijo e da bendita da cachaça, que não têm páreo fora das Gerais…
… “quem te conhece não esquece jamais”, frisa a canção mineira.
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Mãe ensinou que é feio ficar escutando conversa dos outros. Coitada, nunca andou de ônibus em cidade grande. O princípio de Impenetrabilidade de matéria (dois corpos não poder ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo) não é cem por cento válido para os embarcados (enlatados ou prensados).
Mesmo sem convite, acabamos dentro de conversas alheias, ainda que como ouvintes. E aí prepare a paciência e contenha a curiosidade.
Há conversas de todo tipo: boas, chatas, atrativas, misteriosas, interessantes, a gente ouve de tudo… Já passei do meu ponto pra não perder desfecho de assunto interessante; mas também já desci antes para escapar de conversas maçantes.
Tem conversa que dá coceira na língua de vontade de dar um pitaco.
Manaus, segunda-feira cedo, ônibus arroiado. Trinta e três graus lá fora, põe mais cinco aqui dentro.
Ao meu lado duas mineirinhas exiladas ensaiam uma conferência gastronômica. Empurrado, minha barriga comprime a gordinha sobre a companheira de assento. Eu me desculpo por invadir o espaço dela, mas engajada como está não dá nem tchum.
– Minina, meu namorado chegô de madrugada, o maió fuzuê lá em casa!
– Chegô de onde? Fugindo, eh..?
– Que isso amiga! De férias em Minas…
– Uiuiui… falô em Minas até babo de pensar nos trem gostoso que só tem lá.
– Nem te conto o que ele trouxe…
– Cê não vai fazer isso comigo, né! Trouxe queijo?
– Trouxe… trouxe queijo, pão de queijo, goiabada cascão, vinho de jabuticaba de Sabará, carne de sol de Frei Inocêncio, linguiça de Paraopeba…
Delícias de Minas vendidas no mercado Central de Belo Horizonte.
– Meu Deus, e o regime que cê começô semana passada?
– Ivan Lins vive mandando a gente começar de novo. Começo, uai!
– Te dou o maior apoio.
– Pra comer ou fazer regime?
Ronaldo Queijos e Vinhos, tradicional loja do Mercado Central de Belo Horizonte.
– Os dois. Que dia a gente começa, amanhã?
– Manhã não, fia! Tem quinze dias que tô só, tenho de namorá um tiquim!
– Ai que inveja!
– De que? De cumê ou de …?
– As duas. Sabia que o Nick desertô…!
– Que chato, miga! Do jeito que homem tá vasquero, se cuida hein!
– Esquece, vamos falá de comida mineira!
– Ih, tem mais um trem que sei que cê vai amar. Trouxe uma garrafa de Santiago.
– Santiago, Santiago…. não entendi!
“Ronaldo Queijos e Cachaças” – melhores queijos e bebidas.
– Anísio Santiago, minina! A pinga top de Salinas. Pagou duzentos contos, imagina!
– Meu Deus, preciso prová dessa!
– E tem mais, veio com tira-gosto do Mercado Central… Em-pa-diii-nha de ji-looó!
– Nunca vi falá, trem novo deve de ser!
– O Jerry comeu e disse que o trem é bão diiimaais!!!. Trouxe uma dúzia congelada. Sábado a gente assa, tá?
– Minina, cê num sabe como tô doidinha por uma esbórnia!
– ……………………
Hora de descer. Melhor esquecer esses trem de Minas e me conformar com a costela de tambaqui e farofa de uarini com pacovã do almoço de mais logo.
Tô aqui agora fuçando computador à procura de voo barato pra Minas …
Acho que se estivesse grávido, a criança ia nascer com a boca aberta e babando…
6 Comentários
Minas é bom dimais, sô!
Parabéns, Capitão Salviano. Não é fácil transpor para o mundo das palavras as imagens e sons que viajam a bordo de nossos pensamentos. Sou mineiro, escritor também, e trago em minha memória as visitas ao mercado municipal de Belo Horizonte, os ônibus lotados e a lembrança dos doces dias idos já há décadas. Obrigado por ter escrito esse texto. Muito bom.
Eita Capitão, dessa vez você se superou. Em Minas temos as melhores quitandas e doces do mundo. Imbatíveis…
Embora não entro em um coletivo há anos conheço bem esses papos descontraídaos e sem noção. Já presenciei isso nos anos setenta em filas dos hospitais públicos aqui em Brasília, Imagino que continua a mesma coisa eu é que me ausentei do ambiente.
Quanto aos quitutes de Minas, continuam embativeis dou sempre um jeito de não esquecer os sabores, sou original de MG.
Que maravilha! Capitão Salviano e suas crônicas. Transporta qualquer um para dentro da cena. Essa então, deliciosa. É de abrir o apetite mais cedo. Mais logo, eu penso no jejum intermitente…
Salve, capitão Salviano! Não estou em Minas, mas vou já preparar o pão de queijo. Tua crônica me abriu o sorriso e o apetite! 😋