Por Cláudio Duarte
A História é injusta com as mulheres. Na maioria das vezes elas são citadas como “esposa de…” ou “mãe de …”. Nesta série de reportagens que começa hoje você vai descobrir alguns feitos de Fabíola, Leaina, Nitócris, Frineia, Zenóbia e tantas outras mulheres expressivas da Antiguidade que marcaram época e merecem ter a vida ressaltada em razão de sua participação (boa ou ruim) na história da humanidade.
A pesquisa não é simples. Há discordância entre historiadores e autores sobre elas e até sobre seus feitos. Há poucos registros documentais; muito se sabe pela tradição oral. Fatos, praticados por uma mulher, considerados de grande importância por um autor, sequer são citados por outros. Essas contradições e dificuldades confirmam o (quase) esquecimento delas e justificam a intenção do Portal iMulher de valorizá-las. Sendo assim, aproveite a leitura!
(Santa) Fabíola
Fabíola era de família nobre romana e, muito jovem, foi obrigada a casar-se. Após a morte do marido, Fabíola decidiu tomar a vida de caridade e de trabalho pelo próximo. Ela ergueu em Óstia, próximo de Roma, grande hospital para prestar atendimento aos peregrinos, que iam àquela cidade, aos pobres e abandonados. Foi o primeiro hospital público e gratuito da Europa.
Ela mesma prestava assistência aos doentes com as mais terríveis doenças e continuou o trabalho pessoal de ajudar os pobres e enfermos até sua morte em 27 de dezembro de 399 ou 400. Seu trabalho prático de ajuda aos enfermos ilustra o envolvimento das primeiras mulheres cristãs no campo da caridade e do atendimento a enfermos e necessitados.
Segundo o historiador francês e arqueólogo Camille Julian, a data da criação desse hospital “é uma das datas mais altas da história da civilização ocidental”.
Portanto, o primeiro hospital público gratuito europeu foi construído por uma mulher, que foi canonizada pela Igreja Católica em razão de seus feitos e da assistência que prestou a doentes e pobres.
Leaina ou Leaena
Em 514 a.C., Harmodius e Aristogeiton lutaram para derrubar a tirania de Hípias e Hiparco em Atenas. Hiparco foi assassinado, mas Hípias escapou e prendeu os conspiradores sobreviventes. Dentre os capturados estava a Leaina, amante de Aristogeiton ou de Harmodius, não se sabe ao certo.
Hípias sabia que Leaina era amante dos conspiradores e torturou-a para obter informações sobre a conspiração e sobre o esconderijo de Harmodius e Aristogeiton.
Quando chegou ao ponto de ruptura, não mais suportava a tortura que lhe era infligida e para não denunciar seu amante, Leaina mordeu a língua, o que ocasionou sua morte. Foi a forma que encontrou para manter o silêncio, para frustrar seus torturadores e para mostrar que tinha sido digna do amor de seu amado.
Em homenagem a sua bravura e lealdade, os atenienses ergueram na Acrópole a estátua de uma leoa de bronze sem língua. Há quem diga que a história de Leaina tenha sido inventada para explicar a existência da estátua da leoa sem a língua. Ainda que lenda, o fato merece ser citado, pois retrata a bravura da mulher.
(Serial) Locusta
Locusta viveu os primeiros anos de sua vida nos campo da Gália, onde aprendeu a manipular plantas para fazer remédios e venenos. Chegou a Roma por volta do ano 40 e encontrou boa clientela para envenenadores profissionais.
Assassina meticulosa, ela testava suas bebidas em animais para analisar a quantidade de veneno necessária para matar a vítima, o tempo de ação do veneno, as reações da vítima ao ingerir o veneno e outros cuidados.
Júlia Agripina, irmã (e amante) de Calígula, foi casada com seu tio, o imperador Cláudio. Pensando em colocar o filho Nero no poder, Júlia contratou Locusta para matá-lo. Cláudio morreu depois de ingerir cogumelos envenenados preparados por Locusta; ela havia subornado Haloto, o provador de comida real. Durante a agonia de Cláudio, chamaram o médico, Gaius Stertinius, que enfiou uma pena na garganta do imperador para induzi-lo ao vômito. Aí foi que morreu de vez, porque a pena também estava envenenada.
Nero subiu ao poder e tornou Locusta sua favorita para treinar outros envenenadores e para realizar “serviços” para o imperador. Ela tornou-se rica, poderosa e temida. A mando de Nero, Locusta envenenou Britânico, meio-irmão do imperador, que poderia ter pretensões ao trono. Após o suicídio de Nero, Locusta foi condenada à morte pelo imperador Galba, seu substituto.
O número de vítimas de Locusta é desconhecido, até porque ela era especialista em matar sem deixar vestígios. Há quem diga que Locusta foi a primeira serial killer da história. Pelo menos, foi a primeira de quem se tem registro histórico.
Reportagem #1 (de 4) da série: Mulheres da Antiguidade
3 Comentários
Gosto muito de história e tinha conhecimento de Fabíola apenas. Muito interessante a pesquisa, aguardando conhecer novas heroínas….
Ótimo artigo.
Não tinha conhecimento do feito dessas mulheres.
Agradecida Cláudio por agregar conhecimento em nossas vidas.
Muito interessante o resgate histórico dessas mulheres.
Amando!