Por Cláudio Duarte
A segunda edição da série Mulheres da Antiguidade retrata a inteligência e a coragem de mulheres que marcaram época na trajetória da humanidade. Fé, intelecto e personalidade são valores nos dias de hoje, mas essa conquista é fruto do sofrimento de grandes mulheres. Confira a história de Perpétua, Felicidade, Hipátia e Vasti.
Perpétua e Felicidade
Perpétua era nobre da cidade de Cartago, no Norte da África, e Felicidade era sua escrava. As duas tinham por volta de 20 anos e eram cristãs numa região dominada pelo Império Romano, em tempos de perseguição contra os cristãos.
As duas foram presas no ano 203, por ordem do imperador romano Septímio Severo, pelo simples fato de serem cristãs; ele tinha emitido um decreto de pena de morte aos cristãos. Em nenhum momento pensaram em salvar a vida; mantiveram-se fiéis à fé.
Na prisão, Perpétua escreveu um diário que está entre os mais comoventes e realistas depoimentos da história da Igreja. Nesse diário, ela narra todo o sofrimento por que passaram e descreve a fé e a esperança cristã na vida eterna. Ela conta que seu pai foi visitá-la na prisão para pedir que ela renunciasse à fé cristã e salvasse sua vida. Ele implorou-lhe que ela se retratasse e negasse a fé em Cristo. Perpétua perguntou-lhe: “Está vendo aquele vaso no chão? Você pode chamá-lo de outro nome que não seja o que ele é?”. O pai respondeu que não, e ela disse: “É o mesmo comigo, pois não pode chamar-me de outra coisa que não seja cristã”. Ela preferiu a morte a negar a fé em Jesus Cristo.
Em razão de haverem morrido por causa da fé em Cristo, as duas foram canonizadas e tornaram-se exemplo de fé e coragem.
Hipátia de Alexandria
Hipátia (ou Hipácia) (nasceu entre 351 e 370 e faleceu em 8 de março de 415) era filha do filósofo Téon de Alexandria, professor em Alexandria, e foi a primeira mulher documentada como tendo sido matemática.
Hipátia estudou na Academia de Alexandria e adquiriu conhecimentos de matemática, astronomia, filosofia, religião, poesia e artes. Tornou-se professora na Academia onde estudara e, aos 30 anos, tornou-se a diretora.
Em torno do ano 400, Alexandria vivia surtos de violência entre cristãos e pagãos e sua população era conhecida por seu caráter violento. Em março de 415, Hepátia foi atacada em plena rua por uma turba de cristãos enfurecidos. Ela foi arrastada pelas ruas da cidade até uma igreja, onde foi cruelmente torturada até a morte. Segundo o historiador, o fato ocorreu pouco tempo depois de Orestes, prefeito da cidade, ter ordenado a execução de um monge cristão, ato que enfureceu os cristãos. Como Hipátia exercia influência política sobre o prefeito, é bastante provável que os cristãos a escolheram como uma espécie de alvo de retaliação para vingar a morte do monge.
Não existe nenhum trabalho escrito, reconhecido pelos estudiosos, como da autoria de Hipátia. Autores acreditam que muitas obras consideradas de sua autoria tenham sido escritas com a colaboração de seu pai. Esse tipo de incerteza autoral é típico dos filósofos do sexo feminino na Antiguidade.
O teórico e crítico literário norte-americano (nascido em 1943) Stephen Greenblat observa que o assassinato de Hipátia marcou a queda da vida intelectual em Alexandria, o que corrobora a importância de Hipátia para a vida intelectual de Alexandria e da Antiguidade.
Vasti (ou Vashti)
Vasti, citada na Bíblia, Livro de Ester, era casada com o rei Xerxes, da Pérsia. A Bíblia diz que Vashti era “linda de se ver” (Est 1, 11) (seu nome, em hebraico, significa “de beleza incomum”). Sua história é extraída da Bíblia, narrada por Ester.
Xerxes organizou um banquete durante sete dias para seus ministros e servidores, nobres, ministros das províncias e militares. A regra foi beber sem constrangimento; o rei queria mostrar glória e esplendor.
Enquanto isto, Vashti organizou um banquete para as mulheres no palácio imperial. No sétimo dia do banquete, Xerxes, “alegre por causa do vinho” (conforme a Bíblia), ordenou que Vashti, com o diadema real, viesse à presença do rei para mostrar a sua beleza aos povos e ministros. A rainha considerou grande insulto ser exibida na frente de homens rudes e bêbados; há a presunção de que o rei pretendia exibi-la nua para aqueles homens.
Ela recusou. Foi um escândalo: a rainha recusar-se a obedecer à ordem do rei. E mais: a esposa recusar-se a obedecer à ordem do marido. Xerxes baniu-a do trono e não se sabe o que foi feito dela.
Houve uma consequência negativa de seu gesto: para evitar que o exemplo de Vashti se espalhasse e que as esposas não mais obedecessem às ordens dos maridos, o rei expediu boletim ameaçador para todas as mulheres, ordenando que elas tratassem seus maridos como superiores dali por diante.
A atitude de Vashti está registrada na história como exemplo de dignidade e honra.
Reportagem #2 (de 4) da série: Mulheres da Antiguidade
Leia AQUI a reportagem #1
5 Comentários
Excelente iniciativa, da revista e deste colunista incrível, que é o Cláudio Duarte! Refletir e escrever acerca de mulheres tão importantes que contribuiram significativamente na construção da história da humanidade.
Cleyse Araujo
Amei.
Com exceção de Basto, eu não conhecia essas mulheres.
Parabéns , Cláudio
Muito bom. Com certeza há outras mulherescmaravilhosas que podem elencar essa lista. Continue seu relato.
Estamos orgulhosas delas w gratas a você.
Parabéns.
Dessas quatro mulheres só conhecia a história de Hipátia.
Adorei fazer essa leitura.
Parabéns Cláudio Duarte.
Conhecia a história das duas mártires cristãs e a de Vasti, a abordagem dada por sua pena torna desperta no leitor uma visão mais profunda. Parabéns e siga em frentecom suas narrativas…