A falta de planejamento e de estudo da situação pode existir em grandes empresas, que também pagam o preço pela falha cometida. Só que paga valores bem mais altos.
O CASO
A CNN (sigla de Cable News Network), gigante de notícias norte-americana, lançou no dia 29 de março passado nos Estados Unidos o canal CNN+, baseado em assinaturas, a fim de atrair nova geração de consumidores de notícias. O canal CNN+ deveria funcionar independente do canal CNN e não poderia utilizar seus satélites, em razão de contratos com empresas de cabos e satélites.
A CNN+ cobraria perto de 6 dólares mensais pela assinatura do canal e muito dificilmente atingiria a marca de um milhão de assinantes, que tornaria o canal rentável. Ainda mais que as outras redes de transmissão de notícias dos Estados Unidos, como ABC, CBS e NBC, são gratuitas ou são pagas dentro do pacote de TV a cabo.
Menos de um mês depois de lançado, a CNN anunciou o encerramento do canal CNN+, que custou 100 milhões de dólares, gastos com o desenvolvimento do canal, compra de equipamentos, pagamento de pessoal que trabalhou na sua montagem.
Grande fiasco da CNN.
AS LIÇÕES
- Falta de planejamento
A CNN passou a ter novos donos, a Warner Bros. Discovery, que, logo que assumiram a empresa, declararam que consideravam o novo canal uma ideia mal concebida e mal planejada.
- Difícil execução
Os novos donos também criticaram a incapacidade do canal de mostrar as últimas notícias ao vivo. A empresa se propôs a atingir um objetivo difícil de ser alcançado. O novo canal teria pouco ou nada de novo a oferecer.
- Custo elevado para o cliente
O preço da assinatura do novo canal mostrou-se alto diante da gratuidade dos demais canais de notícias. Além disso, o serviço ofertado seria semelhante ao que os demais canais de TV por assinatura oferecem gratuitamente ou mediante cobrança do valor da assinatura das redes de TV a cabo.
- Retorno financeiro
Para que houvesse o retorno financeiro, a CNN+ precisaria de 1 milhão de assinantes, número que muito dificilmente seria atingido e que proporcionaria a renda mensal de 6 milhões de dólares e tornaria o canal rentável.
- Estudo da concorrência
Os concorrentes, que oferecem notícias gratuitamente, não foram considerados ou foram subestimados. A nova empresa chegaria ao mercado encontrando os concorrentes estabelecidos e estabilizados.
- Falta de foco
O novo canal dividiria o foco da empresa, pois a CNN deveria passar a administrar dois canais (CNN e CNN+). Embora fossem dois canais atuando de forma semelhante, ambos com notícias, haveria a necessidade de administrar duas empresas, com maneiras diferentes de agir e de se relacionarem com os clientes e com gestão diferente. Praticamente os dois canais seriam concorrentes entre si.
O memorando, no qual o diretor informou o encerramento das atividades da CNN+, dá a entender que o novo canal fez a CNN desviar-se do foco da empresa.
- Dispersão de recursos
O novo canal CNN+ não poderia utilizar os mesmos satélites utilizados pela CNN, em razão do contrato com as empresas de cabos e satélites. A despesa dobraria. Não houve preocupação com economia de meios.
- Atuação em duas frentes
A CNN teria dois canais, ambos fazendo a mesma coisa, utilizando satélites e meios diferentes para atingir o mesmo público, o que é contrário ao princípio da economia de meios.
- Reorganização
A decisão de fechar a CNN+, apesar do elevado prejuízo, foi considerada acertada para a sobrevivência e para o sucesso da CNN no longo prazo. Melhor retrair, assumir o prejuízo e reorganizar forças para prosseguir a luta do que continuar com o projeto de difícil execução e que traria mais prejuízos.
No memorando em que informou a decisão de fechar a CNN+, Chris Licht, presidente executivo da CNN, afirmou que o fechamento do canal permitirá que a empresa reoriente recursos para os principais produtos nos quais o grupo deve focar, quais sejam o aprimoramento do jornalismo e a manutenção da reputação da CNN como líder global de notícias.
O chefe dos serviços de streaming da Discovery, J. B. Perrette, nova proprietária da CNN, declarou que “aprendemos com uma história dolorosa, uma história financeiramente cara”.
Além disso, o presidente terá de exercer boa liderança para resgatar a confiança de seu pessoal, abalada pelo mau resultado obtido.
A CNN não utilizou adequadamente os princípios ensinados por Sun Tzu, conforme visto sumariamente neste artigo, e pagou preço elevado por isso.
1 comentário
Não tinha conhecimento do fato exposto nesse artigo pelo Coronel Cláudio Duarte.
É muito bom sermos informados de forma tão elucidativa.
Agradecida.