Dia dos Pais – Ter pai e ser pai

“Honrar pai e mãe” é preceito das Tábuas da Lei do Antigo testamento.

Não conheci meu pai.

Minha mãe, viúva, criou sozinha 3 filhos, pois ela enviuvou quando eu, o filho mais novo, tinha 1 ano de idade.

Verdade que ela teve o apoio de meus tios-avós, João Lima e Almerinda, em cuja casa fomos criados. Meus tios-avós faleceram quando eu tinha nove anos. Minha mãe criou e sustentou os filhos como professora, reforçando o orçamento com trabalhos de costura e bordados que fazia divinamente bem.

Apesar do esforço da minha mãe e da dedicação de minha mãe para criar os filhos, sempre senti a falta de pai na minha vida.

Estranho falar em falta de pai nos Dia dos Pais? Nem tanto, principalmente quando a carência se transforma em superação e objetivo de vida. Explico.

Senti a falta de pai que passeasse comigo, que me fosse assistir jogar futebol, que torcesse por mim. Senti a falta da mão segura do pai, na qual me apoiar, que me apontasse caminhos e me desse segurança.

A missão das mães é amar, consolar e perdoar os filhos. A missão dos pais é educar, reprimir, punir e orientar. Minha mãe bem cumpriu o papel de pai e de mãe. Mas, intimamente, apesar da mestria de criação que minha mãe nos proporcionou a mim e a meus irmãos, nunca deixei de sentir a falta de pai.

Até o dia que me senti maduro. Não sei precisamente a data, mas foi o dia que marcou meu amadurecimento pessoal. Aliás, dois dias marcaram minha evolução pessoal e espiritual: esse dia e o dia que senti amor.

A partir daquele dia, continuei a sentir a falta do pai, porém eu mudei e algo mudou dentro de mim.

Naquele belo dia, meus anjos (mentores, protetores, arcanjos, anjo da guarda, que sempre os tive muito fortes e muito atuantes para me apoiarem diante dos ataques frequentes de meus demoninhos interiores) sussurraram aos meus ouvidos: “Não importa que você não tenha tido pai; importa que você seja bom pai para seus filhos”.

Desde então, deixei de me preocupar com a falta do pai no passado e me voltei para o futuro e para o pai que eu queria ser.

Desde então, a imagem romantizada de pai, que eu tinha em minha mente e que tanta falta me fazia, se transformou no objetivo do pai que eu deveria ser para meus filhos.

O vazio se transformou em compromisso comigo mesmo.

A ausência se transformou na presença do que eu queria ser no futuro.

A saudade do que não tive (sim, existe essa saudade) se transformou na esperança e no desejo de ser.

O carinho e a orientação que não recebi do pai se transformaram no carinho e na orientação que eu passei a desejar oferecer como pai para meus filhos.

A falta e o vazio me fizeram amadurecer, porque os superei (em grande parte, claro) visando ser melhor no futuro. Assumi o compromisso comigo mesmo de que poderia ter sido – ou vir a ser – mau estudante, mau profissional ou mau amigo, mas nunca poderia ser acusado de ter sido mau pai ou de vir a sê-lo.

Evidentemente, não fui o pai perfeito; muito longe disso. Tive falhas que me fazem doer a consciência. O velho remorso de pensar que poderia ter feito melhor aquilo que fiz.

Porém, a consciência não me condena. Oxalá meus filhos pensem o mesmo de mim.

Neste Dia dos Pais, que todos os pais tenham a consciência de que fizeram o melhor por seus filhos e por sua família. Que os filhos possam cantar/dizer ao seu pai: “velho, meu querido velho”.

Que os filhos tenham seus pais, não como estátuas de heróis erguidas em praças, mas como monumento de honradez e de exemplo em seus corações.

Que os filhos tenham a consciência de que seus “velhos coroas”, ainda que não tenham sido grandiosos, tentaram fazer o melhor dentro de suas limitações e dificuldades. E que assim, possam honrá-los e ampará-los, conforme determinam os Sagrados Mandamentos.

Cláudio Duarte, colunista e colaborador do PortaliMulher.