“A arte mágica ensina continuamente a ver os fatos com outra perspectiva”
Em 31 de janeiro é o Dia da Mágica. Dom Bosco, santo do dia e padroeiro dos mágicos, era mágico. O Portal iMulher traz entrevista com o mágico Bill Morélix.
Arnóbio Moreira Félix é médico cirurgião, poeta, autor de quatro livros, pós-graduado (MBA em Gestão de Empresa e mestrando em Marketing) pela UCES, Buenos Aires.
Mágico profissional – sob o nome artístico Bill Morélix – e palestrante motivacional, utiliza a mágica como instrumento didático no transcorrer das palestras, cursos e aulas, para acrescentar-lhes ludicidade, humor e descontração.
Reconhecido nacionalmente, é constantemente destaque na grande mídia. Confira entrevista exclusiva concedida ao portal.
Portal iMulher – O Sr. é médico, cirurgião, professor universitário, palestrante motivacional, autor de livros e mágico. Além de pai. Como conciliar tantas atividades?
Dr. Arnóbio – Gosto de uma frase que diz: “Tem tempo pra tudo quem não perde o tempo”. Não tenho nenhum superpoder. Acredito que o meu diferencial sempre foi a gestão do tempo. Entretanto, sei que sou procrastinador em muitos momentos, o que me desafia a otimizar ainda mais o meu tempo, minhas tarefas e ações.
Portal iMulher – Como o mágico auxilia o cirurgião?
Dr. Arnóbio – Ser médico me torna melhor mágico e ser mágico me torna melhor médico. Ambas as atividades são verdadeiras artes e, como arte, comunicamos com a alma humana. Sem o aspecto humanitário, nenhuma delas prospera. Outro fato relevante é a destreza manual envolvida em ambas, já que o cirurgião e o mágico precisam de mãos hábeis. A arte mágica ensina continuamente a ver os fatos com outra perspectiva e mostra que existem caminhos e soluções que vão além do raciocínio linear e tradicional. Isso me ajuda enormemente no dia a dia da prática médica.
Como residente de ortopedia há 30 anos, ouvia dos cirurgiões experientes: “ter o Arnóbio como auxiliar na cirurgia é muito bom”. Como sou mágico desde a adolescência, pude constatar os benefícios da destreza manual também no campo da cirurgia.
Portal iMulher – Como o mágico auxilia o palestrante?
Dr. Arnóbio – Eu não estaria no mercado de palestras corporativas se não fosse o fato de ser mágico. Ser mágico é muito diferente de fazer mágicas. Qualquer interessado pode entrar na internet ou em loja de artigos mágicos, comprar um número de mágica e sair praticando aquele efeito. Isso é fazer mágica. Nada demais; assim surgem os novos artistas.
“Ser mágico” é um estado de espírito, é ver o mundo com outra perspectiva, é carregar consigo uma atmosfera de algo misterioso, sem ser exotérico ou cafona. Ser mágico é extrair poesia em situações corriqueiras e é aprendizado constante.
O mercado de palestra entrega conteúdo informativo ou formativo e a ludicidade entra nesses conteúdos. As ferramentas lúdicas – tais como música, teatro, ginástica laboral, dinâmicas, humor e mágica – agregam valor às palestras. Os efeitos mágicos contribuem para a transmissão dos ensinamentos. A mágica diverte, relaxa, suaviza a palestra e, ao mesmo tempo, promove descontração e concentração para o conteúdo transmitido. É uma combinação perfeita.
Portal iMulher – De onde veio o interesse pela mágica?
Dr. Arnóbio – O interesse surgiu na infância. Sempre gostei de jogos, quebra-cabeças, desafios corporais, gincana cultural e coisas afins. Adorava e adoro circos. Fui aprendendo números com cartas de baralho e com objetos caseiros. Em 1985 eu conheci a primeira loja de artigos mágicos em Belo Horizonte. Aí se deu a minha imersão na arte da magia, por muitos considerada a “rainha das artes”.
Portal iMulher – Como manteve esse interesse a par das demais atividades profissionais?
DR. ARNÓBIO – Sempre dediquei energia em tudo que faço. O segredo realmente é gostar do que faz e otimizar o tempo. Nunca perco de vista as possibilidades de melhorar o gerenciamento do tempo. Nunca fui de assistir televisão (passei longos anos sem ter este equipamento dentro de casa), durmo menos do que a média das pessoas e sempre priorizei morar perto de onde trabalho. Sou ávido por leitura e, felizmente, não tenho nenhuma dificuldade em ler quando estou viajando de carro, ônibus ou avião.
Portal iMulher – Qual a diferença entre as reações dos clientes do médico Dr. Arnóbio e do público que assiste à apresentação do mágico Bill Morélix?
Dr. Arnóbio – A mágica é encantadora. Ela diverte, interage, quebra a barreira linguística, cabe em qualquer ambiente e não tem contraindicações. Quisera ter tempo para fazer mais mágicas nas consultas e nos ambientes sociais que frequento. Quando solicitado, faço mágicas para pacientes de consultório ou no hospital.
Vivenciei situações de preconceito em que clientes, ao saberem que o médico é mágico, criaram resistência e desaprovaram o médico. Natural, haja vista a pouca informação que eles têm a respeito de mágica. Na maioria das vezes, a admiração se transforma em encantamento e o relacionamento médico/paciente fica fortalecido.
A situação chega a ser milagrosa quando se trata de crianças, que costumam ser resistentes à consulta ou a procedimento e tornam-se maleáveis quando veem o médico fazendo mágica. Elas passam a ser proativas e cooperativas com o tratamento. Isso é mágico!
Portal iMulher – A mágica tem público de todas as idades. O que contribui para isso?
Dr. Arnóbio – Além do aspecto artístico, que envolve o mistério, o inexplicável, o divertimento e a interatividade, merece alta relevância o aspecto de estímulo à cognição e à neuroplasticidade que a mágica oferece. Em clínicas de reabilitação de todo o mundo, a mágica é usada como ferramenta para terapia ocupacional, ganhos em motricidade e em cognição. Isso também é mágico!
Portal iMulher – A mágica exige estudo, treinamento e aperfeiçoamento continuado como a cirurgia?
Dr. Arnóbio – Sim, embora seja difícil compará-las. A atividade médica requer estudos constantes, atualização, educação continuada, reuniões clínicas e permanente comprometimento. Os congressos transmitem novas técnicas cirúrgicas, permitem a aquisição de instrumentais cirúrgicos e o conhecimento de novos fármacos.
A situação é diferente com a mágica. O volume de aprendizado passa por realidades mais aceleradas; é impressionante a vastidão de novos conhecimentos agregados continuamente. Por isso é que nas artes mágicas também vão se formando os especialistas nessa ou naquela área de atuação. Magia de palco, magia de salão, magia de proximidade, mentalismo, grandes ilusões, magia humorada, magia infantil, magia juvenil (praticada por crianças), prestidigitação, escapismos, magia bizarra e outras. A lista é imensa.
Portal iMulher – Como conquistar e prender a atenção do público?
Dr. Arnóbio – Este o maior desafio. O mágico deve ter formação teatral, conhecimento de oratória, boa apresentação pessoal, atratividade nos elementos cênicos, capacidade de boa escolha da trilha sonora e saber montar boa equipe de trabalho. Como montagem de peça teatral ou de cenário de filme.
Os números de entrada devem impressionar e convencer o público de que algo realmente interessante e útil vai acontecer. Em palestras, assim como na mágica, aprendi a regra do 1/30/3. Em um segundo o público faz a leitura do artista que acabou de entrar; em trinta segundos ele se convence da qualidade do show que assistirá e em três minutos o público decidiu se aquilo será útil e se merecerá a sua atenção.
Se o mágico ou o palestrante não conquistar a atenção em 1/30/3, o público sairá do auditório ou voltará a atenção para o smartphone.