Em razão dos prejuízos da organizaçao dos Jogos e dos transtornos causados aos moradores das cidades organizadoras, tem diminuído o número de cidades interessadas em sediar os Jogos Olímpicos.
As maiores cidades do mundo disputavam com afinco o direito de sediar os Jogos Olímpicos e tornarem-se, por 15 dias, a capital mundial dos esportes.
O cenário está mudando, porque a organização dos jogos é muito cara.
12 cidades disputaram o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2004; 10 cidades, os de 2008; 9 cidades, os de 2012; 7 cidades, os de 2016; 5 cidades, os de 2020.
Apenas as cidades de Paris e Los Angeles disputaram a sede dos Jogos Olímpicos de 2024. O Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu deixar Paris como sede em 2024 e Los Angeles em 2028. Para 2032, apenas Brisbane, a segunda cidade australiana, se candidatou e naturalmente foi escolhida.
O número de candidatas a sediar os jogos está diminuindo porque as cidades se questionam se o investimento feito vale o lucro e o ganho em termos de turismo, de projeção e do legado dos jogos.
A organização dos Jogos de Los Angeles 1984 apresentou o pioneirismo da parceria do governo e da iniciativa privada. Foram os primeiros a registrar lucros desde 1932. Los Angeles, cidade universitária e sede de times de diferentes modalidades esportivas, tinha estrutura de estádios e de alojamento para os atletas, o que minimizou os gastos.
Os jogos de Barcelona 1992 também apresentaram lucro. A cidade teve gastos com a construção de estádios e alojamentos, mas Barcelona se promoveu internacionalmente e se revitalizou. O legado dos jogos foi benéfico.
Em razão do sucesso de Los Angeles e Barcelona, muitas cidades passaram a ver vantagens em sediar os jogos. As disputas aumentaram, e o número de candidatas aumentou.
Mas Barcelona e Los Angeles foram exceções.
Os Jogos Olímpicos de Montreal 1976 causaram o maior prejuízo econômico dos jogos, que totalizou mais de 2 bilhões de dólares americanos. Montreal demorou mais de 40 anos para conseguir quitar as dívidas relacionadas aos jogos.
Em 1976, o governo de Quebec criou imposto especial sobre o consumo de tabaco para recuperar o dinheiro investido. O custo do estádio foi pago integralmente somente em 2006 com o custo (reformas, atrasos, inflação e juros) 10 vezes maior que o previsto incialmente. O estádio é considerado um elefante branco e apelidado de “The Big Mistake” (O Grande Erro).
Atenas derrotou 10 cidades para sediar os jogos de 2004. Pretendeu mostrar ao mundo a capacidade dos gregos e projetar a cidade e o país como destino turístico. Contudo, Atenas teve problemas com obras atrasadas, aumento de custos e mudança de planos. O valor estimado a ser gasto superou em muito o valor do investimento feito, e a cidade não teve benefícios.
Logo depois dos jogos, a Grécia entrou em crise financeira. A manutenção das instalações foi deixada de lado e transformaram-se em ruínas. O estádio olímpico de Atenas, modernizado para os jogos, foi interditado por risco de queda.
A Grécia aumentou a dívida e ficou com prédios abandonados. Ironicamente, o COI anunciou lucro de 1 bilhão de dólares com os Jogos Olímpicos de Atenas.
O Rio de Janeiro é outro exemplo de fracasso financeiro. Somente para vencer a disputa com outras cidades, o Brasil gastou mais de 85 milhões de reais, ninharia diante do que foi gasto para construir estádios, obras de infraestrutura e instalações.
Os custos necessários, para o Rio de Janeiro sediar os jogos, foram estimados em 28 bilhões de dólares. Os gastos reais superaram esse valor e atingiram 43 bilhões de dólares, segundo estimativas do Tribunal de Cotas da União. Metade dos gastos saiu dos cofres públicos.
O mais grave, porém, é que o legado dos jogos para a cidade é extremamente negativo. Instalações abandonadas. Obras de infraestrutura não concluídas. A Linha 4 do metrô do Rio, prevista para terminar antes dos jogos, deverá ser terminada em 2026, 10 anos depois do evento.
O legado olímpico transformou-se em fardo. Ou “largado olímpico”.
“Os escândalos de superfaturamento e de desvios de verbas não geraram boa imagem para o Brasil. O Rio perdeu oportunidade de ouro para mostrar boas práticas. Uma panelinha e um punhado de políticos e de empresários se locupletaram à custa do contribuinte”. Istvan Kasznar, economista, professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE), autor dos livros “O Esporte como indústria”, “ A indústria do esporte no Brasil”, ao jornal O Dia, Edição de 5 de agosto de 2024. .
O complexo aquático, construído para os jogos, está abandonado. A piscina, de 225 milhões de reais, foi desmontada. Os atletas participantes dos jogos plantaram mudas de árvores, e nem a floresta de mudas sobreviveu. O campo, construído para disputa de hóquei na grama, foi abandonado e está destruído; o Brasil não tem tradição no jogo. Abandono e destruição. 2 das 27 arenas construídas para os jogos não receberam eventos depois deles.
Rio e Atenas ligaram o sinal vermelho para as cidades candidatas. A população de Boston forçou a prefeitura a retirar o nome da cidade como candidata dos jogos. Hamburgo, Estocolmo, Munique e Roma desistiram da candidatura. A população de Calgary, Canadá, pressionou para a retirada da candidatura da cidade dos Jogos Olímpicos de Inverno 2026.
Além disso, o COI tem aumentado a quantidade de esportes disputados e o número de exigências.
Existem propostas alternativas para baratear os custos dos jogos. Realizar eventos descentralizados em mais de um país ou estabelecer locais fixos para a disputa de modalidades, o que reduzirá investimentos e permitirá candidaturas conjuntas.
Não há decisão a respeito.