Boris: o novo membro da família

“Uma das razões para estes efeitos terapêuticos é que os animais de estimação satisfazem a necessidade humana básica de toque.”
Lawrence Robinson e Jeanne Segal, Ph.D.

Boris é o novo integrante da família. Não se trata apenas de um “pet”, mas um filhote de Boxer com 5 meses de idade. Enorme! Ele chegou no dia 29/04, data precisa em que as chuvas ganharam força nas principais regiões alagadas pela enchente no RS, incluindo Porto Alegre. Entrei em desespero.

Como iniciar todo o processo de adaptação sem poder sair de dentro de casa por conta das chuvas? Para completar, ele é ligado na tomada e chora o tempo todo se ficar sozinho. Veterinários chamam de ansiedade de separação. Pensamos em devolvê-lo e assim seria, não fosse a forte pressão de meu filho e sua namorada, que além de não darem um minuto de trégua, pesquisaram tudo sobre a raça para auxiliar na sua rotina. Eles me convenceram. Ainda bem. A vida sem Boris seria muito mais chata.

Segundo o censo do Instituto Pet Brasil (IPB) de 2022, o Brasil é o terceiro país em número de animais domésticos. Considerando os 215 milhões de brasileiros, estima-se que 70% da população tem pelo menos um pet na residência. Ainda assim, talvez não seja para todo mundo. Pets não são bichos de pelúcia, eles demandam cuidado constante.

Podem ser relativamente caros e envolvem várias despesas, principalmente quando envelhecem. Se houver muitas restrições ou não estiver disposto a gastar, pense duas vezes. Se você sofre de alergia, reavalie, porque eles renderão espirros. Se você mora em apartamento, lembre-se que algumas raças necessitam prática constante de atividade física. Selecione com atenção. Se você viaja com frequência, pode ser complicado. Animais de estimação requerem tempo, dedicação e estabilidade. Ao escolher o seu pet, considere estas variáveis. Se possível adaptá-las, sobram bons motivos para incluir um Boris em sua vida.

Estudos apontam que animais de estimação contribuem não apenas para a melhoria do bem-estar social, mas têm impacto positivo na saúde física e mental. Entre os benefícios para a saúde mais amplamente compreendidos e aceitos está o fato de que eles proporcionam melhores estratégias para lidar com o estresse, podem promover maior empatia e compaixão, e que a sua companhia “pode proteger as pessoas da devastação da solidão”, segundo Alan Beck, professor de Ecologia Animal e diretor do Center for the Human-Animal Bond na Purdue University, em Indiana, EUA.

Os benefícios são os mais diversos. Auxiliam na saúde do coração, retardam o declínio cognitivo, elevam os níveis de serotonina e dopamina, além de aumentarem a liberação de oxitocina no cérebro – o hormônio do amor. Eles nos põem em movimento – mesmo quando não queremos – e nos ancoram no presente.

Dão margem a conversas, aproximam as pessoas e proporcionam aquela centelha inicial de conexão social. Os bichinhos fornecem um senso de propósito realmente poderoso. O simples ritual de atender o seu pet, a responsabilidade de cuidar de outro ser vivo pode ser o impulso que muita gente necessita para levantar da cama pela manhã.

Os pets evoluíram para se tornarem profundamente sintonizados conosco, com nosso comportamento e nossas emoções. Sempre fui apaixonada por cachorros e tenho certeza que eles não apenas são capazes de compreender muitas das palavras que usamos, como são ainda melhores na interpretação do tom de voz que adotamos, a linguagem corporal e os gestos.

Cachorros são intuitivos e inteligentes. Acho que têm consciência de tudo, de todas as coisas, nada lhes escapa. Mas como é trabalho cansativo, às vezes só pensam em comer, dormir e receber um dengo. Boris parece aquela amiga próxima: me olha no fundo dos olhos para avaliar o estado de espírito e tentar entender o que posso estar pensando ou sentindo. No seu caso, muito provável que apenas para descobrir quando vai rolar o próximo passeio ou biscoito, é claro.

“O cachorro é o melhor amigo do homem”. Esta expressão foi usada pela primeira vez pelo rei Frederico II da Prússia, antes de sua morte em 1786. Foi ele quem disse: “o único, absoluto e melhor amigo que um homem tem, neste mundo egoísta, o único que não o trairá ou negará, é o seu cachorro”. Acredito que esta afirmação se dê por conta do comportamento canino, baseado em lealdade, altruísmo e amor, na vontade de agradar o seu humano.

Cachorro é tudo de bom. Boris fica sempre feliz ao me ver, mesmo quando chego em casa com cara de poucos amigos, naqueles dias difíceis em que tudo dá errado ou no auge da TPM, quando sou tomadas pela  “fúria assassina” e ninguém me quer por perto. Quando isso acontece, quem vem correndo, pula de alegria e faz a festa? O marido? Não. O Boris.