Por Simone Hillbrecht
A história do século XX foi marcada por níveis extremos de crueldade, com destaque para as duas guerras mundiais e a constante ameaça da destruição nuclear durante a Guerra Fria. Em meio a esse cenário, destaca-se a obra de Aleksandr Soljenítsin, Arquipélago Gulag, que revela um dos capítulos mais brutais do século: o sistema de campos de trabalhos forçados da União Soviética.
Soljenítsin, influenciado por autores como Tolstói, viveu pessoalmente os horrores do regime stalinista, sendo preso e enviado a um desses campos na Sibéria. Sua obra, baseada em relatos próprios e de outros prisioneiros, denuncia com profundidade o autoritarismo soviético, onde a liberdade era esmagada por um sistema violento e insano. O termo “Gulag” — acrônimo que significa Administração Geral dos Campos, era a entidade que administrava todos os campos de trabalhos forçados da URSS, que tornou-se sinônimo de dor e desesperança.
No livro, o autor expõe um verdadeiro arquipélago de sofrimento, formado por ilhas gélidas e opressivas que simbolizavam a tirania do regime. Os campos eram lugares onde a justiça era anulada, e a vida humana, descartável. Personagens reais como o coronel Eliazov, conhecido por quebrar a coluna de seus interrogados, e o comissário Eziépov que matou um oficial da força aérea apenas para dormir com sua esposa por uma única noite, figuram no livro como exemplos do sadismo institucionalizado.
Apesar do sofrimento, Soljenítsyn manteve viva a esperança, ainda que tênue, de que a verdade pudesse triunfar. Sua denúncia ao Ocidente revelou a face oculta da URSS, contribuindo para o desgaste moral do regime. Libertado durante o degelo político promovido por Khrushchov, o autor sobreviveu ao arquipélago — mas nunca se desvencilhou de suas marcas.

Biografia – Aleksandr Soljenítsin
Aleksandr Isáievitch Soljenítsin (1918–2008) foi um escritor, historiador e dissidente político russo, nascido em Kislovodsk e falecido em Moscou. Laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1970, destacou-se por sua contribuição à literatura mundial por meio de uma obra que denunciou, com grande vigor ético e testemunhal, os mecanismos de repressão do regime soviético. Foi também eleito membro da Academia Russa de Ciências em 1997 e agraciado com o Prêmio Estatal Russo em 2007.
Formado em Matemática pela Universidade de Rostov, serviu como oficial do Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, sendo condecorado por bravura. Em 1945, foi preso por expressar críticas a Josef Stalin em cartas privadas, o que resultou em sua condenação a oito anos de trabalhos forçados e posterior exílio interno. A experiência nos campos de prisioneiros tornou-se a base de sua obra mais célebre, O Arquipélago Gulag.
Escrita clandestinamente e com base em testemunhos de centenas de presos políticos, O Arquipélago Gulag foi publicada no Ocidente em 1973, à revelia da censura soviética. A repercussão internacional levou à sua expulsão da União Soviética no ano seguinte, com perda da cidadania. Estabelecido posteriormente nos Estados Unidos, retornou à Rússia em 1994, após o colapso da URSS, onde permaneceu ativo na vida intelectual e literária até seu falecimento.
Sobre o livro
Editora : Carambaia; 1ª edição (3 dezembro 2019)
Idioma : Português
Capa dura : 704 páginas
ISBN-10 : 8569002661
ISBN-13 : 978-8569002666
Dimensões : 23.6 x 14.8 x 4.8 cm
Texto previamente publicado em HillbrechtsHaus Book Club