Por Cláudio Duarte
Dias especiais merecem textos especiais. Não podemos ignorar datas relacionadas à personalidade maior de nossa fé e Mestre dos valores maiores de religiosidade e espiritualidade.
A vida, a Paixão e a Ressurreição de Cristo são plenas de ensinamentos que formam o cerne da religião cristã. Porém, os ensinamentos e exemplos não se encontram apenas na pessoa de Cristo, mas também na vida das pessoas que O acompanharam durante a vida e a Paixão. A morte de Cristo na cruz muito ensina sobre a atitude das mulheres.
Durante o trajeto até o Gólgota, três personagens são destacados: um homem e uma mulher. O homem, Simão de Cirine, foi requisitado para carregar a cruz, pois Cristo, esgotado em razão da flagelação, não tinha forças para carregar o lenho. A mulher, Verônica, voluntaria e espontaneamente, enxuga o rosto de Cristo. Ela não temeu os guardas e nem a população. Interessante que os evangelistas não citam Verônica, mas ela faz parte do sexto quadro da Via Sacra, que revive a via dolorosa de Cristo até o Calvário.
A outra mulher citada é Maria, Mãe de Cristo, com quem Ele se encontra durante o trajeto até o Calvário.
Vejamos as mulheres que ficaram com Cristo até o final. O Evangelista João diz que (Jo, 19, 25) permaneceram ao pé da cruz Maria Santíssima, Mãe de Jesus; Maria Madalena; e a irmã de Sua mãe. São Lucas cita a presença de Joana, esposa de Cuza, oficial de Herodes.
Sobre a “irmã de sua mãe”, há dúvidas se João se referia a Maria Salomé, que alguns estudiosos consideram irmã de Maria e, portanto, tia de Jesus, ou se João se referia a Maria, esposa de Zebedeu e mãe de Tiago Menor e de João. O fato é que foi citada a presença de 3 ou 4 mulheres e um homem, o apóstolo João, um rapazinho.
Dos onze apóstolos (Judas havia se suicidado), apenas João acompanhou Jesus até o final. Os demais, receosos, abandonaram Cristo e não estiveram com Ele em Seus momentos derradeiros. As mulheres estiveram.
Elas não temeram a população ignara que ofendeu e maltratou Cristo durante Sua paixão. Elas não se afastaram de Cristo durante o trajeto até o Gólgota. Elas não temeram que, como Cristo, também elas pudessem ser xingadas, ofendidas e alvo de maldades. Elas não temeram os militares romanos – guerreiros brutos, rudes e hostis – que flagelaram Cristo e O pregaram na cruz. Não há registro nos Evangelhos de que elas tenham sido ofendidas ou maltratadas pelos soldados. Elas se impuseram pelo respeito, pela presença, pela dor e pelo amor.
Elas sofreram a dor de assistir ao sofrimento da pessoa amada. Elas nada podiam fazer em termos de ajudá-Lo a carregar a cruz ou de amenizar Seu sofrimento físico. Se pudessem, evidentemente o teriam feito .
Elas “apenas” levaram a Cristo a presença, a solidariedade, o afeto e a demonstração de amor.
Cristo deve ter trocado olhares de amor e de afeto com Maria, Sua Mãe, com Madalena, com Joana e com Maria Salomé. Quanto amor, quanta solidariedade, quanto afeto na troca de olhar entre Jesus e elas!…
As mulheres devem ter endereçado a Cristo olhares de compaixão e ânimo.
O Evangelista Marcos (Mc, 15, 34) diz que, “às três horas, Jesus gritou ‘Eloi, Eloi, lamá sabactáni’, que significa ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” e, logo depois, expirou. Foi o auge do desespero, da dor, da angústia e da solidão que Cristo vivenciou, que O fez sentir-se abandonado até mesmo por Deus.
Mas Cristo não foi abandonado por Sua Mãe, nem por Madalena, nem por Joana, nem por Maria Salomé. As mulheres estiveram com Cristo durante o trajeto até o Gólgota e durante toda a Paixão na cruz.
Amenizando toda a dor de Cristo na cruz e a sensação de abandono vivida por Ele, havia a presença das mulheres. Havia o amor delas. Havia a coragem delas. Havia a troca de olhares com elas.
As mulheres, somente as mulheres, se fazem presentes nos momentos difíceis da vida para consolar, para confortar e para apoiar.
Era normal que a morte de Cristo, depois de tanto sofrimento e da asfixia que a crucificação causa, fosse agitada e plena de agonia. Apesar de toda a dor e de todo o sofrimento, Cristo morreu plácida e serenamente. João (Jo, 19, 30) diz que Cristo “inclinando a cabeça, entregou o espírito”.
Cristo morreu serenamente porque tinha consciência de haver bem cumprido Sua divina missão. Certamente, o amor e a presença ao pé da cruz de Maria, de Madalena, de Joana e de Maria Salomé terão confortado Cristo para que Ele morresse placidamente.
No domingo, veremos a presença das mulheres na Ressurreição de Cristo.
Cláudio Duarte é coronel da reserva do Exército e autor da coluna Gestão de Guerra no Portal.
3 Comentários
Gosto muito dos textos do Cel. Cláudio Duarte e esse não é uma exceção.
É, sim, uma lembrança viva da importância das mulheres nas nossas vidas.
Uma feliz Páscoa para todos da revista!
Deus continue abençoando e protegendo todos nós 🙏🙏🙏
Realmente esse texto é especial.
Parabéns Cel.Cláudio Duarte.
Num período tão distante de nosso tempo, é surpreendente saber que estas mulheres tiveram a força de enfrentar todos, ficando ao lado de Jesus.