A Cordilheira do Himalaia, mais alto sistema de montanhas do mundo, abrange cinco países (Paquistão, Índia, China [região do Tibete], Nepal e Butão), é considerada o teto do mundo, em razão de ter os picos mais altos do planeta, o Monte Everest (8 848 m) e o K2 (8 611 m), e de contar com mais de 100 picos que excedem 7.200 m de altitude. Fora do Himalaia, o pico mais alto é o Aconcágua, nos Andes, com 6 962 m O Himalaia é, portanto, o desafio maior dos alpinistas de todo o mundo.
Existem rotas para escalada dos picos, ou seja, diferentes caminhos que os alpinistas escolhem para atingir o topo. Há rotas com acesso mais fácil e outras com acesso muito mais difícil.
A Montanha Annapurna, localizada no Nepal, faz parte do sistema do Himalaia, tem 7.555 metros de altura, e conta com três picos: Annapurna I, II e III, sendo este o mais alto do complexo Annapurna.
Apesar de medir apenas 7.555 metros de altitude, a rota sudeste do Annapurna III tem o apelido de “inescalável”, em razão do elevado grau de dificuldades que oferece para a escalada.
Durante o Século XX, o Annapurna III foi visitado por alpinistas famosos, mas nenhum se aventurou a escalá-lo pela rota sudeste, temida por sua extrema dificuldade. Em 1981, escaladores britânicos alcançaram 6.500 metros de altitude da montanha, mas reconheceram suas limitações e abandonaram a empreitada. A fama de “inescalável” se fortaleceu.
Em novembro de 2021, três escaladores ucranianos (merecem ter o nome citado – Nikita Balabanov, Mikhail Fomin e Viacheslav Polezhaiko) alcançaram o topo do Annapurna III pela rota sudeste. Cada um carregava 40 quilos de equipamentos.
Como conseguiram a façanha?
Desde 2019, os ucranianos estudaram a estratégia necessária para alcançar o topo da montanha. Analisaram as expedições anteriores, que haviam fracassado, e aprenderam com as dificuldades que enfrentaram. Perceberam que o sistema alpino de escalada era impraticável (o sistema alpino monta um acampamento base, onde os alpinistas deixam meios para que possam escalar sem a necessidade de carregar grande quantidade de equipamentos). Concluíram que deveriam carregar todo o equipamento necessário para a escalada. Por isto, cada um levou consigo 40 quilos.
Estimaram que completariam a escalada em 12 dias. Fizeram a escalada em 18 dias, o que os levou a comer apenas uma barra energética e meia por dia na etapa final.
Na entrevista coletiva após a descida, enfatizaram o fator essencial para o sucesso da escalada: o processo de tomada de decisão em situações de extremo risco. Quando havia impasse, as decisões eram facilitadas pelo voto de “Minerva”, o que simplificava o debate e evitava a perda de tempo em debates prolongados e cansativos.
Os alpinistas enfrentaram a escalada com neve solta, que oferecia perigo de avalanches, blocos rochosos que poderiam cair sobre eles, rajadas de vento que chegavam a 70 Km/h, fome, frio e cansaço.
O Pico Annapurna III não mais é “inescalável”; foi escalado. Quais os ensinamentos que os ucranianos deixaram ao realizarem a façanha?
A preparação meticulosa da escalada; estudo completo do terreno: o trajeto, o tempo da jornada, os motivos da desistência de equipes anteriores.
Previram as dificuldades que encontrariam e se prepararam para enfrentá-las.
Escolheram o período da escalada que apresentasse condições climáticas favoráveis.
Adquiriram os equipamentos e meios necessários para a escalada. Previram o tempo da escalada e calcularam a quantidade de comida que deveriam levar com eles.
Encararam o desafio e mantiveram o foco. Mantiveram-se unidos pelo mesmo espírito e mesmo propósito.
O processo de tomada de decisão era rápido e sem delongas. Em caso de discordância entre dois, havia o terceiro a desempatar e decidir.
A par desses, o maior ensinamento que deixam é que é possível escalar o inescalável, atingir o inatingível com preparação, vontade e determinação.
A rota sudeste de Annapurna III, outrora a “inescalável”, precisará de outra denominação.
Especial para quem julga ter “montanhas inescaláveis” em sua vida.
O feito dos alpinistas bem poderia ter inspirado a música “The Impossible Dream” (O Sonho Impossível), de Mitch Leigh e Joe Darion, que você poderá ouvir com legenda.
Inspire-se também na música.
1 comentário
Nada na vida é realmente “inescalável” …. Tudo depende da determinação e força de vontade, além é claro de organização e métodos