“Eu vou desdizer aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”
Raul Seixas
Redes sociais tendem a ser uma enorme perda de tempo se você não souber usá-las a seu favor. Um grande número de pessoas passa boa parte do seu tempo discutindo temas diversos, como medicina e nutrição, futebol e BBB, xingando e sendo xingado por amigos, parentes e desconhecidos, em particular na discussão sobre tópicos quentes como economia ou política – cuidado aqui: hoje em dia, se você morar em um país autocrático, como Venezuela e Cuba, por exemplo, você corre o risco de ser acusado de conspirar contra a democracia e ser preso, caso sua opinião seja considerada imprópria por alguma autoridade. Claro, por outro lado, que é perfeitamente plausível levar uma vida saudável nas redes sociais, usando-as mais para se informar melhor do que emitir opinião sobre tudo e sobre todos.
O segredo da vida saudável nas redes é você seguir e se relacionar com pessoas, ou mesmo páginas e sites, que proveem boa informação sobre os assuntos de seu interesse. O segredo não está nesta dica elementar, mas em como selecionar estes contatos. Se você conseguir fazê-lo, os algoritmos das redes identificam quem têm os mesmos interesses e… bingo! Começam a aparecer coisas muito interessantes de pessoas distantes e desconhecidas.
Estes dias, por exemplo, me deparei com um vídeo curto extremamente instrutivo no X. Era sobre um professor (acho que de ensino médio) que dialogou com um aluno que acusava a J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter, de ser transfóbica. No diálogo, o professor usou uma técnica onde ele praticamente ensinou o aluno a pensar racionalmente para chegar a uma conclusão, por meio de perguntas que levantavam dúvidas sobre a alegação de transfobia por parte do aluno. No final, o aluno muda de conclusão e o professor lhe pergunta: “Dado que, no início da nossa conversa, você afirmou que era um fato que J.K. Rowling era transfóbica, você acha que esta era uma avaliação correta?” A resposta do aluno foi esta: “Não, e eu me sinto um idiota agora”. O vídeo está neste link aqui e é uma preciosidade, não por causa do tema que é interessante por si só, mas por causa da técnica usada pelo professor para melhorar a argumentação do aluno, no sentido usar raciocínio lógico e evidências para chegar a conclusões mais razoáveis ou mais próximas da verdade. O professor ensinou ao aluno sobre como pensar, não sobre o que pensar. O nome desta técnica é pensamento crítico. O problema do vídeo é que, é bom alertar, está em inglês, o que pode dificultar a compreensão de quem não domina a linguagem. O lado positivo é que vale a pena aprender coisas novas como línguas estrangeiras, que podem ser usadas para aprender coisas novas.
O pensamento crítico é uma habilidade fundamental que capacita indivíduos a analisar e avaliar informações de forma objetiva, a fim de formar julgamentos fundamentados e tomar decisões sólidas. É um processo cognitivo que envolve questionar ativamente pressupostos, examinar evidências e considerar perspectivas alternativas antes de chegar a uma conclusão. Suas principais características e seu uso abrangem uma variedade de contextos, desde a academia até o ambiente profissional e situações cotidianas de resolução de problemas.
Uma das principais características do pensamento crítico é a ênfase no ceticismo e na investigação. Os pensadores críticos são naturalmente curiosos e não aceitam prontamente informações sem questioná-las. Em vez disso, eles formulam perguntas incisivas para descobrir preconceitos, erros ou lacunas no raciocínio. Ao desafiar pressupostos e buscar evidências, eles buscam alcançar uma compreensão mais profunda de questões complexas.
Além disso, o pensamento crítico envolve o uso da lógica e da razão. Os pensadores críticos empregam o raciocínio lógico para avaliar argumentos e determinar sua validade. Eles identificam falácias lógicas e inconsistências que possam minar a credibilidade de um argumento. Ao aderir a princípios racionais, eles conseguem separar fatos de opiniões e tomar julgamentos informados.
Outro aspecto essencial do pensamento crítico é a abertura de mente e a disposição para considerar pontos de vista alternativos. Em vez de serem rígidos ou dogmáticos em suas crenças, os pensadores críticos permanecem receptivos a novas ideias e evidências que possam desafiar seus preconceitos. Essa flexibilidade permite que eles adaptem suas perspectivas com base em novas informações, promovendo o crescimento intelectual e o desenvolvimento pessoal.
Além disso, o pensamento crítico promove habilidades eficazes de resolução de problemas. Ao analisar sistematicamente questões e ponderar diferentes opções, os pensadores críticos podem identificar soluções ótimas para problemas complexos. Eles dividem os problemas em componentes gerenciáveis, avaliam os resultados potenciais e antecipam obstáculos. Essa abordagem metódica aprimora sua capacidade de enfrentar desafios e tomar decisões bem fundamentadas.
Cientistas, de maneira geral, cultuam a arte do pensamento crítico. Eles criam teorias, testam hipóteses e avaliam as evidências para moldar suas opiniões, que podem ser diferentes das da maioria, mas que podem levar a um acúmulo de conhecimento útil. Desta forma, com o uso de pensamento crítico, todos nós podemos cultivar o ceticismo, a lógica, a abertura de mente e a humildade intelectual típica dos cientistas para entender melhor o mundo que nos cerca e tomar melhores decisões.
Finalmente, para que quiser se debruçar sobre o tema, aí vão duas sugestões de leitura e um vídeo fascinante: Os livros “Pensamento Crítico: O Poder da Lógica e da Argumentação” (Epstein e Carnielli), que é uma obra de conteúdo mais completo e muito instrutiva sobre o tema e “Factfulness: O Hábito Libertador de Só Ter Opiniões Baseadas em Fatos” (Hans Rosling) que, embora não elabore sobre como desenvolver a arte do pensamento crítico, é um excelente livro sobre como aplica-lo. O vídeo é uma palestra no TED do próprio Hans Rosling, com o título curioso “Como não ser ignorante sobre o mundo”, onde, na parte divertida, mostra que suecos, jornalistas e sua própria audiência no TED entendem o mundo de forma pior do que os macacos!
Artigo escrito com uma ajudinha do ChatGPT!