A dica cultural de hoje sugere uma lista de dez livros excepcionais que apresenta fortes protagonistas femininas no centro de suas histórias. Mulheres notáveis que deixaram uma marca indelével nas páginas da literatura, cativaram leitores no mundo inteiro e continuam inspirando as novas gerações a abraçarem sua força e lutarem por um mundo cada vez mais inclusivo e igualitário.
Por Clarice Lispector
SINOPSE: O surgimento de Perto do coração selvagem, em 1943, causou grande impacto no cenário literário brasileiro, proporcionando à autora aclamação imediata da crítica e de seus colegas escritores. Houve quem encontrasse no livro a influência de Virginia Woolf, ao passo que outros apostavam em Joyce, seguindo a falsa pista da epígrafe da qual Clarice pinçou seu título: “Ele estava só. Estava abandonado, feliz, perto do coração selvagem da vida.” Ambos os grupos estavam errados, apesar do uso do fluxo de consciência pela escritora estreante a justificar tais correlações. Ocorre, no entanto, que esse havia sido um achado natural e espontâneo para Clarice Lispector, que admitiu como única influência neste caso O lobo da estepe, de Hermann Hesse. Não em termos estilísticos tampouco por se identificar com o caráter do protagonista, mas sim por compartilhar com ele e, sobretudo, com Hesse, o desejo imperioso de romper todas as barreiras e ultrapassar todos os limites na busca da própria verdade interior. Anseio personificado pela personagem central, Joana, com uma expressão que se tornou célebre: “Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.” Íntima e universal, destemida e secreta, Joana “sentia o mundo palpitar docemente em seu peito, doía-lhe o corpo como se nele suportasse a feminilidade de todas as mulheres” e ela destoava do sistema patriarcal em que se encontrava inserida da mesma forma que Clarice se distanciava da literatura de seu tempo, ainda dominada pelo regionalismo e o realismo. Ambas, autora e protagonista, eram forças divergentes, porém não dissonantes, já que introduziam uma nova musicalidade, uma harmonia própria, poética e triunfal, na aspereza circundante, enquanto buscavam “o centro luminoso das coisas” sem hesitar em “mergulhar em águas desconhecidas”, deixando o silêncio e partindo para a luta. Deste embate à beira do íntimo abismo, Joana torna-se uma mulher completa e Clarice, uma escritora singular e inimitável.
2. Jane Eyre
Por Charlotte Brontë
SINOPSE: Ao contar a história da órfã Jane Eyre, Charlotte Brontë nos brinda com um livro arrebatador. Era outubro de 1847 quando, em Londres, só se falava sobre Jane Eyre, escrito pelo misterioso Currer Bell (que mais tarde revelou-se pseudônimo de Charlotte Brontë). Acusado de “jacobinismo moral” por advogar pela igualdade, o romance foi fortemente debatido pelo circuito literário, bem como pelos milhares de leitores que conquistou. A vida de Jane Eyre, pobre órfã condenada a vagar por diferentes casas e famílias até encontrar seu próprio pouso, emociona leitores há mais de dois séculos, versando sobre a educação de uma preceptora e os desafios enfrentados por diferentes mulheres do século XIX, independentemente da posição social em que se encontravam. Com uma maestria narrativa ímpar sobre poder e conflito, Charlotte Brontë cria aqui um dos romances mais emblemáticos da língua inglesa, que ultrapassa barreiras ao tocar em questões universais e atemporais, como ambição, vingança, diferenças sociais e, claro, amor.
3. Ana Bolena, a obsessão de um rei
Por Alison Weir
SINOPSE: Neste segundo romance da épica série Six Tudor Queens, a autora e historiadora Alison Weir mergulha no século XVI e explora a história de Ana Bolena, a esposa mais infame de Henrique VIII. Bolena era uma leitora ávida que estava muito à frente de seu tempo, compreendendo as desigualdades sofridas pelas mulheres e os danos causados pela sociedade patriarcal em que vivia. Sua vida e morte convincentes mudaram para sempre sua nação. Nascida em uma nobre família inglesa, Ana é apenas uma adolescente quando é enviada do Castelo Hever para servir na corte real da Holanda. Essa jogada estratégica do pai oportunista também se torna uma chance para a menina crescer e se descobrir. Lá, e mais tarde na França, Ana prospera, preferindo absorver as obras de escritores progressistas a participar das atividades na corte. Ela também começa a entender as desigualdades e indignidades sofridas por seu gênero. Ana não está completamente acostumada com os anseios do coração, mas sua poderosa família tem planos ambiciosos para seu futuro que anulam qualquer desejo seu. Quando o próprio rei da Inglaterra, Henrique VIII, pede a Ana para ser sua amante, ela rejeita seus avanços – lembrando-o de que ele é um homem casado que já teve um caso com sua irmã, Mary. A rejeição de Ana apenas intensifica a busca de Henry, mas na ausência de um herdeiro masculino – e dada a idade da rainha Catarina – a oportunidade de elevar e proteger a família Bolena e se vingar de seus detratores invejosos é muito tentadora para ela resistir, mesmo quando isso prova ser sua ruína. Enquanto a história conta como Ana Bolena morreu, este novo romance revela como ela viveu plenamente.
“Excelente… Ficção biográfica de virar as páginas, contada de forma assombrosa e bela… Psicologicamente penetrante.”–Historical Novels Review
“Imaculadamente pesquisado e convincente. Este conto da ascensão e morte de Ana não pode escapar de comparações com a série Wolf Hall de Hilary Mantel.” — The Times
4. Civil Rights Queen: Constance Baker Motley and the Struggle for Equality
Por Tomiko Brown-Nagin
SINOPSE: A primeira grande biografia de Constance Baker Motley (1921-2005). Motley se tornou a primeira mulher negra a servir no Senado do estado de Nova York e a primeira mulher a servir como presidente do distrito de Manhattan. Quando o presidente Johnson a nomeou para o Tribunal Distrital dos Estados Unidos no Distrito Sul de Nova York, ela se tornou a primeira mulher negra a se sentar como juíza federal. Como advogada ativista, ela defendeu Martin Luther King em Birmingham, ajudou a argumentar o caso Brown contra o Conselho de Educação e desempenhou um papel crítico na derrota das leis Jim Crow no sul dos Estados Unidos. Foi a primeira mulher negra a argumentar perante a Suprema Corte e ganhou nove em cada dez casos. A Rainha dos Direitos Civis captura a história de uma mulher notável, uma figura que refez a lei e inspirou a imaginação dos afro-americanos em todo o país.
Por Viola Davis
SINOPSE: Em busca de mim conta a minha história, de um apartamento caindo aos pedaços na cidade de Central Falls, em Rhode Island, para os palcos de Nova York e além. “Este é o caminho que percorri em busca de propósito e força, mas também para me fazer ser ouvida em um mundo que não me percebia. Enquanto escrevia Em busca de mim, pensei no quanto nossas histórias nem sempre recebem a devida atenção. São reinventadas para serem encaixadas em um mundo louco, competitivo e crítico. Escrevi este livro para aqueles que se sentem excluídos, que estão em busca de uma forma de entender e superar um passado complicado e encontrar auto aceitação no lugar da vergonha. Escrevi para quem precisa se lembrar de que a vida só vale a pena ser vivida se a encararmos com honestidade radical e coragem de abandonar as máscaras e apenas ser… você. Em busca de mim é uma reflexão profunda, uma promessa e uma declaração de amor a mim mesma. Espero que minha história o inspire a revolucionar sua vida de forma criativa e a redescobrir quem você era antes que o mundo tentasse defini-lo.”
“Desde a primeira página fica evidente que Viola Davis trará um relato muito mais íntimo e visceral do que a maioria das biografias de celebridades; Em busca de mim passa a sensação de que estamos frente a frente com Viola, conversando sobre sua vida, dificuldades e tudo mais.” — USA Today
“Uma narrativa de tribulações e sucesso… A belíssima escrita de Viola vai inspirar a todos que desejam se livrar de antigos rótulos.” — Los Angeles Times
Por Nathaniel Hawthorne
SINOPSE: Na rígida comunidade puritana de Boston do século XVII, a jovem Hester Prynne tem uma relação adúltera que termina com o nascimento de uma criança ilegítima. Desonrada e renegada publicamente, ela é obrigada a levar sempre a letra “A” de adúltera bordada em seu peito. Hester, primeira autêntica heroína da literatura norte-americana, se vale de sua força interior e de sua convicção de espírito para criar a filha sozinha, lidar com a volta do marido e proteger o segredo acerca da identidade de seu amante. Aclamado desde seu lançamento como um clássico, A letra escarlate é um retrato dramático e comovente da submissão e da resistência às normas sociais, da paixão e da fragilidade humanas, e uma das obras-primas da literatura mundial.
Por Isabel Allende
SINOPSE: Abandonada ainda bebê no Chile do século XIX, Eliza Sommers foi criada por uma prestigiosa família inglesa em Valparaíso, onde se apaixonou por Joaquín Andieta, um dos empregados do tio adotivo. A descoberta de ouro na Califórnia em 1849 mobiliza metade do país, que não hesita em içar velas e correr atrás da fortuna – inclusive Joaquín, que lhe promete um casamento tão logo volte com os bolsos cheios de ouro. Mas Eliza não está disposta a esperar e parte clandestinamente para a Califórnia em busca de seu amado. Viajando escondida no porão de um veleiro na companhia de homens e mulheres atraídos pela febre do ouro, a jovem conhece Tao Chi’en, um médico chinês que a conduz por uma inesquecível jornada pelos mistérios e contradições da condição humana. Retrato vibrante de uma época marcada pela violência e pela cobiça, Filha da fortuna é um livro sobre a redescoberta do amor, da amizade, da compaixão e da coragem, e é povoado de personagens que ficarão para sempre na memória e no coração dos leitores.
Por Elena Ferrante
SINOPSE: A reclusa autora italiana que conquistou a crítica internacional tem sua série napolitana lançada no Brasil pela Biblioteca Azul. Aclamada pela crítica e pelo público, Elena Ferrante se tornou conhecida por escrever sobre questões íntimas com muita clareza, sem se expor para divulgar seus livros. Sua ficção parece apresentar traços autobiográficos, mas não é possível identificar os pontos comuns entre sua vida e sua obra, uma vez que a escritora se recusa a comentar sua intimidade. A Série Napolitana, formada por quatro romances, conta a história de duas amigas ao longo de suas vidas. O primeiro, A amiga genial, é narrado pela personagem Elena Greco e cobre da infância aos 16 anos. As meninas se conhecem em uma vizinhança pobre de Nápoles, na década de 1950. Elena, a menina mais inteligente da turma, tem sua vida transformada quando a família do sapateiro Cerullo chega ao bairro e Raffaella, uma criança magra, mal comportada e selvagem, se torna o centro das atenções. Essa menina, tão diferente de Elena, exerce uma atração irresistível sobre ela. As duas se unem, competem, brigam, fazem planos. Em um bairro marcado pela violência, pelos gritos e agressões dos adultos e pelo o medo constante, as meninas sonham com um futuro melhor. Ir embora, conhecer o mundo, escrever livros. Os estudos parecem a melhor opção para que as duas não terminem como suas mães entristecidas pela pobreza, cansadas, cheias de filhos. No entanto, quando as duas terminam a quinta série, a família Greco decide apoiar os estudos de Elena, enquanto os Cerrulo não investem na educação de Raffaella. As duas seguem caminhos diferentes. Elena se dedica à escola e Raffaella se une ao irmão Rino para convencer seu pai a modernizar sua loja. Com a chegada da adolescência, as duas começam a chamar a atenção dos rapazes da vizinhança. Outras preocupações tornam-se parte da rotina: ser reconhecida pela beleza, conseguir um namorado, manter-se virgem até encontrar um bom candidato a marido. Mais que um romance sobre a intensidade e complexa dinâmica da amizade feminina, Ferrante aborda as mudanças na Itália no pós-guerra e as transformações pelas quais as vidas das mulheres passaram durante a segunda metade do século XX. Sua prosa clara e fluída evoca o sentimento de descoberta que povoa a infância e cria uma tensão que captura o leitor.
Por Margaret Atwood
SINOPSE: O romance distópico de Margaret Atwood, que deu origem à série, se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse destino, não é preciso fazer muita coisa – basta, por exemplo, cantar qualquer canção que contenha palavras proibidas pelo regime, como “liberdade”. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América. Uma das obras mais importantes da premiada escritora canadense, conhecida por seu ativismo político, ambiental e em prol das causas femininas, As mulheres de Gilead não têm direitos. Elas são divididas em categorias, cada qual com uma função muito específica no Estado. A Offred coube a categoria de aia, o que significa pertencer ao governo e existir unicamente para procriar, depois que uma catástrofe nuclear tornou estéril um grande número de pessoas. E sem dúvida, ainda que vigiada dia e noite e ceifada em seus direitos mais básicos, o destino de uma aia ainda é melhor que o das não-mulheres, como são chamadas aquelas que não podem ter filhos, as homossexuais, viúvas e feministas, condenadas a trabalhos forçados nas colônias, lugares onde o nível de radiação é mortífero. Com esta história assustadora, Margaret Atwood leva o leitor a refletir sobre liberdade, direitos civis, poder, a fragilidade do mundo tal qual o conhecemos, o futuro e, principalmente, o presente. Vencedor do Arthur C. Clarke Award.
Por Martha Hall Kelly
SINOPSE: Inspirado em personagens reais da Segunda Guerra Mundial, um romance encantador sobre coragem, escolhas e redenção. Até onde você iria para honrar a vida daqueles que foram esquecidos? A socialite nova-iorquina Caroline Ferriday está sobrecarregada de trabalho no Consulado da França, em função da iminência da guerra. O ano é 1939 e o Exército de Hitler acaba de invadir a Polônia, onde Kasia Kuzmerick vai deixando para trás a tranquilidade da infância conforme se envolve cada vez mais com o movimento de resistência de seu país. Distante das duas, a ambiciosa Herta Oberheuser tem a oportunidade de se libertar de uma vida desoladora e abraçar o sonho de se tornar médica cirurgiã, a serviço da Alemanha. Três mulheres cujas trajetórias se cruzam quando o impensável acontece: Kasia é capturada e levada para o campo de concentração feminino de Ravensbrück, onde Herta agora exerce sua controversa medicina. Uma história que atravessa continentes — dos Estados Unidos à França, da Alemanha à Polônia — enquanto Caroline e Kasia persistem no sonho de tornar o mundo um lugar melhor. Costurado por fatos históricos e personagens femininas poderosas, Mulheres sem nome é um romance extraordinário sobre a luta anônima por amor e liberdade. Um livro inspirador, que encanta e comove até a última página.
Fonte: AMAZON
2 Comentários
Que lista sensacional!! Quanta inspiração. Destes, li apenas Jane Eyre e A letra escarlate. E outros já estavam em meu radar para futuras leituras.
Obrigada! Todas as dicas são ótimas! Ana Bolena lerei com certeza.