“Eu achava que compreendia as chinesas. Lendo as cartas, percebi como estava enganada. Elas viviam uma vida e enfrentavam problemas com que eu nem sequer sonhara.“ (Pág.15)
As Boas Mulheres da China é um livro de não ficção escrito pela jornalista e autora chinesa Xinran Xue.
Publicado pela primeira vez em 2002, o livro apresenta uma coleção de histórias verídicas que lançam luz sobre a vida das mulheres na China no final do século XX. Por meio desses relatos pessoais, Xinran fornece um exame contundente dos desafios sociais, culturais e políticos enfrentados pelas mulheres chinesas.
O livro é dividido em dez capítulos, cada um focado na história de uma mulher, inclusive a da própria autora. Xinran se vale de sua experiência como apresentadora de um popular programa na rádio em 1989, Palavras na brisa noturna, inteiramente dedicado a assuntos pessoais, onde ouve mulheres de diferentes idades e condições sociais que compartilham suas experiências anonimamente. Essas narrativas revelam as lutas e dificuldades enfrentadas por cada uma delas em uma sociedade fortemente influenciada por normas patriarcais, turbulência política e rápida mudança social.
Xinran explora uma ampla gama de temas ao longo do livro, abordando questões como a desigualdade de gênero, estupro, abandono, o impacto de movimentos políticos como a Revolução Cultural (1966-1976), a supressão da individualidade e a complexa dinâmica nas relações familiares. As histórias retratam mulheres de várias origens, incluindo camponesas, operárias, intelectuais e sobreviventes de eventos trágicos como o terremoto de Tangshan em 1976.
Por meio de sua escrita, Xinran retrata a força e o espírito dessas mulheres diante da adversidade, destaca sua determinação em se libertar das restrições sociais e buscar a realização pessoal. A autora trouxe à tona as esperanças e os desejos escondidos nessas difíceis vidas secretas e deu voz a experiências muitas vezes negligenciadas ou silenciadas.
São histórias como as de Hongxue, que passou por uma infância e adolescência de abusos e descobre o afeto ao ser acariciada pelas patas de uma mosca; das mulheres na “Colina dos Gritos”, que andavam de pernas abertas durante o período menstrual por utilizarem como absorvente folhas de sapé, o que deixava o interior das coxas e suas partes íntimas em carne viva: uma mulher usava suas dez folhas a cada menstruação, mês após mês, ano após ano e eram os únicos pertences com que eram enterradas; de Hua’er, violentada em nome da “reeducação” promovida pela Revolução Cultural.
Há também a história das mães que perderam seus filhos no terremoto e juntas criaram um orfanato para abrigar outras crianças, ainda que cada uma delas guardasse lembranças mais dolorosas do que a própria catástrofe natural, como por exemplo, a mãe de Xiao Ying, que foi estuprada coletivamente por homens que se aproveitaram de sua situação vulnerável após o terremoto. Após o incidente, a jovem enlouquece e comete suicídio.
“Segui em frente sim, mas no fundo não tive coragem. Sou uma dessas pessoas que são fortes na frente dos outros, uma fortaleza entre as mulheres, mas quando estou sozinha, choro a noite inteira – pela minha filha, pelo meu marido, pelo meu filho e por mim. Às vezes não consigo respirar, tamanha é a saudade que sinto deles. Há quem diga que o tempo cura tudo. A mim não curou.” (Pág. 95)
As Boas Mulheres da China é um registro comovente e revelador sobre a vida dessas mulheres durante período tumultuado da história do país. Cada testemunho oferece ao leitor uma compreensão mais profunda das complexidades sociológicas e culturais que moldaram a sociedade chinesa, bem como as lutas universais ainda enfrentadas por mulheres em todo o mundo.
FICHA TÉCNICA
Título original: The good women of China – pocket
Páginas: 256
Formato: 12.50 X 18.00 cm
Peso: 0.22 kg
Acabamento: Livro brochura
Lançamento: 31/07/2007
ISBN: 978-85-3591-074-2
Selo: Companhia de Bolso
2 Comentários
Dramática vivência … leva-nos a pensar como somos privilegiadas
Vou comprar o livro. Essas experiências dramáticas dão a dimensão de como a política interfere intimamente na vida de cada ser humano. Uns se tornam predadores. Outras se tornam presas.