Frases com duplo sentido ou com palavras mal empregadas costumam aparecer em órgãos de imprensa
Jornalistas escrevem rápido e, muitas vezes, nem têm tempo de reler o que escreveram. A revisora, cheia de textos para corrigir, pode também deixar passar erros de ortografia ou de concordância. Por mais que nos cuidemos todos.
Certas pérolas, embora gramaticalmente corretas, pecam pela obscuridade e duplo sentido. Eis exemplos de frases obscuras e de duplo sentido pinçados em órgãos de imprensa.
ESPERANÇA PARA OS MORTOS
“A nova terapia traz esperanças aos que morrem de câncer todos os anos.”
Como? Quem morreu poderá ter esperança? Na cova? Para ressuscitar?
Solução fácil: basta substituir o verbo “morrer” por sofrer”.
“A nova terapia traz esperanças para as pessoas que sofrem de câncer.”
DORES NAS SEMANAS
Esta frase saiu em revista de circulação nacional:
“53% dos entrevistados disseram ter sofrido alguma dor nas duas últimas semanas anteriores à pesquisa”.
Alguém sente dor na semana? Semana sente dor? Semana tornou-se parte do corpo a ponto de sentir dor, assim como braços e pernas?
Pode-se obter a clareza com vírgulas e mudança da ordem das palavras:
“53% dos entrevistados disseram ter sofrido, nas duas últimas semanas anteriores à pesquisa, alguma dor”.
GREVE DO TEMPO
“Apesar de a meteorologia estar em greve, o tempo esfriou.”
O frio não participou da greve ou não estava sindicalizado? Meteorologia em greve ou meteorologistas em greve?
TRIO DE SETE
“Os sete artistas compõem um trio de talento.”
Trio de sete pessoas? Naturalmente, seria um septeto. Trio é de três.
Certa vez, em reunião com os pais diretora de escola disse que eles deveriam pagar “uma mensalidade de seis em seis meses”.
Mensalidade é por mês; semestralidade é de seis em seis meses.
ESTRANGULADA
“A vítima foi estrangulada a golpes de facão.”
Nova forma de estrangulamento? Ora, estrangular é o ato de apertar o pescoço de alguém, de forma a dificultar-lhe ou impedir-lhe a respiração. Caso os golpes de facão tivessem cortado o pescoço da vítima, a morte não teria sido por estrangulamento ou sufocação.
MORTO PELO ASSASSINO
“Parece que a vítima foi morta pelo assassino”.
Se a vítima foi assassinada, ninguém, além do assassino, poderia tê-la matado.
As frases fazem lembrar uma frase que divertia muito os alunos durante as aulas de português: “Comprou uma meia de mulher de náilon”. Mulher de náilon?
Gramaticalmente, a frase está correta, mas o sentido fica prejudicado em razão da ordem das palavras. “Comprou meia de náilon de mulher”. Ou “comprou meia de náilon para mulher”.
É preciso muito cuidado e muita atenção com a colocação das palavras nas frases. A mudança da ordem das palavras evita a confusão. Dificuldades do idioma.
Que os leitores sejam nossos revisores e nos deem feedback quando observarem nossas falhas.