Aproveitemos a realização da Copa do Mundo no Qatar para colher informações sobre o país e para conhecermos a história de Shams Al Qassab, 59 anos, empreendedora catari. Antes, porém, vejamos informações sobre o sistema político e judiciário do Qatar para que possamos dar a ela maior valor.
O Qatar tem sido governado pela Casa de Thani (família imperial) desde 1825. Não há legislatura independente, e os partidos políticos são proibidos.
O petróleo e o gás são a principal fonte de renda do país e asseguram aos cataris elevada renda per capita e permitem ao país um dos mais rápidos crescimentos econômicos do mundo.
A Xaria é a principal fonte da legislação do país, de acordo com a Constituição do Qatar. A Xaria tem as leis fundamentadas no Alcorão, que é o livro sagrado do Islã. Os muçulmanos creem que o Alcorão é a palavra literal de Deus (Alá) revelada ao Profeta Maomé. Portanto, o sistema legal é a mistura do Direito Civil e do Direito Islâmico, até porque o Alcorão é interpretado pelos líderes religiosos muçulmanos.
A lei xaria é aplicada em casos relativos ao direito de família, herança e atos criminosos, tais como adultério, roubo e assassinato.
A xaria atribui direitos legais diferentes para grupos diferentes. Há divisão clara, por exemplo, entre direitos de homens e de mulheres. O testemunho de uma mulher vale metade do de um homem, quando o aceitam. Um homem pode divorciar-se de sua esposa por repúdio, enquanto uma mulher deve apresentar justificações, algumas das quais difíceis de obter. As mulheres que se casam novamente perdem a custódia de seus filhos. Os filhos herdam o dobro da parcela das filhas. A poligamia islâmica é permitida no país para os homens.
A flagelação é usada no país como castigo para o consumo de álcool ou para relações sexuais ilícitas. O artigo 88 do Código Penal do Catar declara que o adultério é punido com cem chicotadas.
A partir do século XX, os sistemas legais ocidentais evoluíram para expandir os direitos das mulheres; as leis islâmicas continuaram presas ao Alcorão e à sua interpretação fundamentalista feita pelos juristas islâmicos.
Dentro desse ambiente adverso, encontramos a história de Shams Al Qassabi, proprietária do Shay AlShomous, primeiro estabelecimento de uma mulher no Qatar, restaurante que ela montou no Soug Waqif (mercado em Doha, no Qatar, que vende roupas tradicionais, especiarias, artesanato e lembranças e é o lar de restaurantes). Ela criou o estabelecimento com base nas experiências de infância e serve especiarias típicas do país que ela aprendeu com a avó.
Começou a vida de comerciante vendendo conservas de limão para ganhar dinheiro, até que juntou o suficiente para montar seu restaurante. Ao abrir, o restaurante tinha 10 cadeiras; hoje, são mais de 250.
Ela fiscaliza o restaurante usando as vestimentas típicas das muçulmanas: o abayat (roupa simples e solta; essencialmente vestido semelhante a manto, que cobre todo o corpo, exceto cabeça pés e mãos, usado por mulheres em partes do mundo muçulmano) e o hijab (véu que cobre os cabelos).
O Shay AlShomous tornou-se ponto turístico em Doha, capital do Qatar, e apresenta fotos de Shams Al Qassabi ao lado de personalidades de todo o mundo, até mesmo do atual emir Tamim bin Hamad Al-Thani.
Segundo ela, “o comerciante tem de começar do zero”, mantra que aprendeu com o pai.
Belo exemplo de mulher empreendedora, que enfrentou dificuldades muito maiores que aquelas normalmente encontradas no Brasil.