O irlandês Damian Browne, 42 anos, foi jogador profissional de rúgbi, esporte que exige grande condicionamento físico de seus praticantes. Ao aposentar-se como jogador, decidiu enfrentar desafios físicos e mentais que lhe exigiriam o máximo de si. Correu a ultramaratona do deserto do Saara de 257 km e a Maratona des Sables; escalou montanhas. Tornou-se aventureiro extremo.
Damian Browne foi a primeira pessoa a remar, por 112 dias sozinho e sem apoio, de Nova York para Galway, na Irlanda, para atravessar o Atlântico Norte. Ele concluiu a façanha no dia 4 de outubro, quase quatro meses de travessia.
Ele treinou remo no Rio Hudson, em New York, circulando em torno da Estátua da Liberdade. Ao mesmo tempo que exercitava a força dos braços e das pernas, treinava desviar-se de embarcações de transporte.
Damian Browne enfrentou 112 dias de solidão, em pleno mar, para fazer a travessia do Atlântico Norte em um barco a remo, sem apoio, para testar seus limites e para exercitar-se física e mentalmente.
Pode-se tentar imaginar o trabalho físico árduo e cansativo; o remo é um esporte desgastante. Junto com o desgaste físico, havia a necessidade de manter a mente lúcida para orientar-se corretamente e a mente sadia para enfrentar os próprios medos.
Enfrentou a solidão. Será que tinha o sono tranquilo? Como fazer para orientar-se após as horas de sono? Viveu momentos de estresse e de insegurança. Superou as incertezas.
Navegou pelo mar, ora calmo, ora agitado. Enfrentou ondas gigantes. Suportou o frio. Sentiu medo. Horas a fio remando sozinho, sem ter com quem conversar e sem ter a quem pedir opinião e ajuda.
Remava vigorosamente mais de 11 horas por dia.
Por 112 dias, viu a mesma paisagem: céu e mar. A escuridão da noite deve ser assustadora. Houve noites tão escuras que, segundo ele, mal conseguia ver a extremidade dos remos.
Uma tempestade fez seu barco virar três vezes.
Ele se alimentou com refeições desidratadas e tinha pequeno dispositivo de dessalinização a bordo, o que lhe permitia beber água limpa. Dormia em uma cabine de dois metros.
A maneira que ele encontrou para lidar com o estresse que as aventuras radicais provocam é manter a cabeça fria o quanto possível.
Damian Browne foi recebido pela mulher e pela filha de 13 meses. Agora, deseja descansar, passar muito tempo com a família, comer boa comida, dormir numa cama e usar o vaso sanitário. Hábitos simples do cotidiano que nos esquecemos de valorizar. Seu comentário ao chegar à Irlanda: “É muito bom estar vivo”.
O feito de Damian Browne se torna mais notável porque ele não sabe nadar e teve a coragem de enfrentar o mar.
“Meu propósito na vida é a autorrealização e meu objetivo é: ‘Viver uma vida extraordinária. Uma vida cheia de desafios, extremos, aprendizado, coragem, crescimento, realidade e realização. Impulsionado pela responsabilidade, integridade e disciplina. Minha vida será minha obra-prima’” . Damian Browne
Você não precisa ser aventureiro radical para enfrentar obstáculos e chegar aos seus limites. Todos os dias, a vida impõe dificuldades que nos testam e nos exigem coragem, fé e determinação. Cotidianamente, testamos persistência, honestidade e vontade.
A vida traz momentos de solidão e angústia; de incertezas e de medos; de desgaste físico e mental; de estresse e ansiedade. A resposta a esses momentos, em consonância com a honestidade e a decência, exercita os sentimentos e os bons valores. Treinamos a bondade e o amor. Aprimoramos. Evoluímos. Crescemos. Viver nos torna a todos aventureiros radicais.
A vida em si é uma grande aventura. Como disse Damian Browne, “é muito bom estar vivo”.
1 comentário
” É muito bom estar vivo ” e é muito bom ler as crônicas do Cláudio Duarte!