A Dica Cultural de hoje traz poesia e um pedacinho da história do Frei Antônio das Chagas. Confira, reflita e aproveite o sábado, saboreando este tempo!
TEMPO PERDIDO
O Frei Antônio das Chagas, também conhecido por Padre António da Fonseca, cujo nome de batismo era António da Fonseca Soares, frade franciscano e poeta português, destacou-se na história portuguesa mais pela sua faceta literária que pela eclesiástica. Nasceu em Vidigueira, Portugal, em 1631, e faleceu em 1682, com apenas 51 nos.
António da Fonseca Soares tornou-se militar aos 18 anos e participou da Guerra da Restauração, conflito ocorrido entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela entre os anos 1640 e 1668. Porém, a sua fama veio-lhe da veia poética e não de bravura em combate; ficou conhecido como o Capitão das Boninas.
Despertou para a poesia e os amores e envolveu-se nas mais diversas aventuras, tendo cometido todo tipo de excessos.
Em 1653, com 22 anos de idade, viu-se obrigado a fugir para o Brasil, pois era perseguido pela justiça portuguesa em razão de haver causado a morte de um rival em duelo. Passou três anos na Bahia, sem alterar o seu modo de vida irreverente.
Porém, um texto de Frei Luís de Granada (1505 – 1588) sensibilizou-o para a fé e para Deus.
Em 1662, com 31 anos de idade, renunciou à vida militar e abraçou os votos monásticos na Ordem de São Francisco. António da Fonseca Soares passou a ser Frei António das Chagas. Dedicou o resto da sua vida ao Evangelho e a pregar a fé, com o ardor, a paixão e o entusiasmo que o caracterizaram.
Na vida corrida e atribulada de hoje, nem sempre dedicamos tempo para apreciar poesias, músicas e obras de arte. iMULHER traz para vocês um dos mais belos poemas da língua portuguesa, escrito pelo Frei Antônio das Chagas. Leiam-no com calma, apreciando a beleza do jogo de palavras e seu grande significado.
A ligeira biografia do Frei Antônio das Chagas ajudará a entender melhor a inspiração de seu poema.
CONTA E TEMPO
Deus pede estrita conta de meu tempo
E eu vou, de meu tempo, dar-Lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu que gastei sem conta tanto tempo?
Para ter minha conta feita a tempo
O tempo me foi dado e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje – quero acertar conta e não há tempo.
Ó vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta.
Pois aqueles que, sem conta, gastam o tempo
Quando o tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, o não ter tempo.