Recomeçar é darmos uma nova oportunidade de sermos nós mesmos, mais felizes, mais maduros e, principalmente, mais conscientes de que somos os únicos responsáveis pelo sucesso ou fracasso de nossas vidas, que pode ter começado há quatro, cinco, seis ou mais décadas. Há alguns anos, poucos é verdade, tem se ouvido falar, mesmo que de forma ainda tímida, do movimento ageless, que defende que as pessoas não podem e não devem ter sua capacidade, para qualquer coisa nessa vida, balizada pela idade. Uma defensora ferrenha deste movimento é a atriz Claudia Raia, 54 anos, que decidiu usar a sua notoriedade para dar visibilidade ao assunto e ajudar outras mulheres.
Ela é o exemplo de uma mulher bonita e bem resolvida depois dos 50 anos. Mas, infelizmente, ela ainda faz parte de uma minoria de quarentonas, cinquentonas e outras lindonas que são bem resolvidas com a idade. A maioria das mulheres, e estou inclusa, cresceu ouvindo que depois dos 35 anos, quando diminui vertiginosamente a capacidade de reprodução, já são “coroas”, “muito velhas” para uma nova profissão, para ser mãe e para amar. Resumindo: para ser feliz e viver de acordo com suas regras.
Se ela resolve se separar aos 50, a pergunta é: “Como assim?”. Como se ter ficado anos ao lado de alguém fosse uma sentença de perpetuação da relação. Depois de 20 anos em uma mesma profissão, ela resolve fazer algo completamente diferente, que a faça se sentir viva. E vem o espanto dos amigos, do marido, da sociedade. Como se não tivéssemos o direito de mudar o curso de nossas vidas.
Aos 40 anos, ela decide, depois de passar uma vida sendo enfática que não queria saber de filhos, ser mãe. O questionamento logo vem: “Agora? Quando era para se preparar para ser avó, quer ser mãe?” Se a maternidade fosse privilégio das jovens, não teríamos óvulos funcionando até os 50 anos. Só não recomendo ter filhos nessa idade, devido ao envelhecimento dos óvulos. Mas, já temos como recurso o congelamento dos óvulos jovens, para aquelas que ainda não têm essa questão fechada em suas vidas.
Os senões são muitos. Gente de dedo em riste e que se acha no direito de dar palpite na vida alheia é o que não falta. Mas, isso não me incomoda, alguém caminhando para os 50 anos. O que incomoda é o julgamento interno das mulheres. Infelizmente, a maioria ainda é podada em seus anseios e projetos de vida, surpreendentemente, por elas mesmas. Elas são as suas carrascas, influenciadas por tudo que ouviram durante a sua existência.
Depois de muito refletir e, por também estar passando por alguns questionamentos próprios da idade, principalmente, por ser uma mulher nascida na Região Sul, na qual as mulheres, na maioria das vezes, não foram ensinadas a pensar primeiro na realização delas, decidi escrever sobre o assunto. Ainda há muitas mulheres precisando urgente de “um puxão de orelha” do bem, ou seja, que precisam assumir as rédeas de suas vidas e lutar pelo projeto mais importante de sua existência: ela.
Com orgulho faço parte da egrégora de mulheres que defende a liberdade de recomeçar, de ser você mesmo, em qualquer primavera de sua vida. Faço coro às palavras da atriz Claudia Raia e outras lindas mulheres que passaram dos 40 anos e estão aí para nos provar que idade é apenas um número no RG.
E, para provar que essa egrégora vem aumentando, busquei alguns exemplos de mulheres, até mais experientes, que provaram, com suas trajetórias, que não há idade certa para nada nessa vida. A inglesa Doreen Pechey prova que minha teoria não está errada. A engenheira elétrica adiou por seis décadas o sonho de ser bailarina. A família não tinha condições financeiras de bancar o sonho de menina e ela optou por uma carreira sólida que lhe garantisse o sustento. Porém, aos 61 anos, perto de se aposentar, decidiu que era hora de realizar o seu sonho. Em 2016, aos 71 anos, ela entrou para a Royal Academy of Dance, uma das mais importantes organizações de educação de dança do mundo.
“Ninguém veio ao mundo com data de validade”, Isabel Dias. A autora dessa frase, hoje, tem 65 anos e o seu livro “32 – Um homem pra cada ano que passei com você” (Livros de Safra), no ano passado foi transformado no minidoc “Acende a luz”, com imagens dela desde fazendo café até se masturbando ou na intimidade com um companheiro. O livro narra a revolução de autoconhecimento e ressignificado da sua vida após o fim de um longo casamento. O recado que retumba em nossos ouvidos é de que não há idade para fazer sexo.
E o que dizer da japonesa Masako Wakamiya, que começou uma carreira tecnológica aos 58 anos? Prestes a se aposentar como bancária e responsável por cuidar da mãe idosa, resolveu comprar um computador para ver como funcionava. Em uma época que pouca gente tinha computador em casa. Em 2016, com 81 anos, decidiu criar um joguinho para pessoas sêniores que tinham pouca intimidade com a tecnologia. Com a ajuda de um programador, criou o Hinadan, um aplicativo de entretenimento. Hoje, aos 85 anos, é considerada pela Apple a programadora mais velha do Planeta.
Com tantos exemplos, você ainda vai ficar sentada no sofá lamentando que não é mais jovem e não dá para fazer mais nada? Ou vai assumir o leme de sua vida e fará parte da estatística de mulheres que se amam, independente de idade, corpo, situação financeira ou localização geográfica? Espero que, assim como eu, você escolha a segunda opção. Não nasci, e espero que você também não, para lamentar, apesar de às vezes dar uma baqueada. Mas, até os momentos de tristezas e de incertezas devem ser valorizados. São eles que nos ensinam a saborear a vitória e valorizar nossas conquistas. Boa sorte!
4 Comentários
Parabéns por bater o sino !
Excelente sua coluna.
Mil vezes parabénssssss….
Muito bom. Parabéns pelo tema.
Este processo de recomeçar é desafiador, mas muito gratificante.
Todas as mulheres deveriam ser livres, de verdade, treinadas, desde pequenas, para assumir as rédeas de suas vidas, sem os jugamentos e condenações cretinas que sofrem, sem os riscos que correm, sobretudo no Brasil. Parabéns por ser dona de sí e por trazer estes assuntos para o centro dos diálogos.
Parabéns!!!! O texto vem de encontro com o que eu penso. Não apressar o tempo, tudo tem hora para ser, fazer, começar e recomeçar,